Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 0
capa

‘VAMOS SUBIR A SERRA?’

Evento acontece em três etapas e recebe convidados especiais, como o rapper Emicida, a influenciadora Tia Má e o produtor de artistas como Lázaro Ramos

Por Victor Lima | Edição do dia 15/11/2019

Matéria atualizada em 15/11/2019 às 14h36

Foto: Reprodução/Gorivero
 

A matéria de hoje começa com um convite: ‘Vamos Subir a Serra?’. O mês da consciência negra é sempre um momento de reflexão para a sociedade e esse evento é voltado exatamente à conscientização, em suas diversas formas.

O ‘Vamos Subir a Serra’ conta com experiências de caráter educativo, cultural, político, simbólico e gerador de renda para legitimar os espaços do negro na sociedade. Para tanto, esta edição está dividida em três etapas: do dia 14 a 17 de novembro, na Praça Multieventos, na Pajuçara, em Maceió; no dia 19, com atividades acontecendo exclusivamente na Serra da Barriga; e dos dias 20 a 22, um encerramento com a Mostra Quilombo de Cinema Negro, no Centro Cultural Arte Pajuçara, também na capital.

“Ontem aconteceu a abertura oficial, uma solenidade para formalizar o evento. As feiras já começam a movimentar também: tem feira afro-quilombola, feira de empreendedores, feira de negros. Nesta 3ª edição, a gente ampliou algumas parcerias e isso possibilitou um evento maior. Então, somos um grande projeto que agrega diversos outros”, explica Luila de Paula, uma das organizadoras.

Ela reforça a ideia do convite à reflexão. “O nome é um convite à sociedade para conhecer a perspectiva negra, a história quilombola. A gente tem pessoas de todo o Estado participando e destacando essa ideia. Fora que o evento traz muita militância também. Tudo isso com espaço gratuito na Pajuçara. Até porque nós queremos legitimar o espaço do negro na sociedade. A gente trouxe para a orla justamente para que todas as pessoas possam conhecer a nossa história e para que os negros dignifiquem seu espaço. Tem uma frase que a gente sempre usa que é: ‘vamos subir a serra pelo respeito, dignidade e reconhecimento do povo negro’”, expõe Luila.

Foto: Divulgação
 

Este ano, o evento recebe convidados especiais. Haverá o ‘Papo reto’ com o rapper Emicida, uma palestra sobre ‘O Negro na Comunicação’, com o diretor artístico, produtor cultural e escritor Anderson Quack, que já produziu artistas, como Lázaro Ramos, e outra com a jornalista e influenciadora digital Tia Má, que abordará o tema ‘Lugar de Negro é Onde ele Quiser’. O evento comporta ainda o 5º Encontro das Crescheadas, movimento de mulheres negras de Alagoas pensado e criado para defender a valorização dos cabelos crespos e cacheados, entre diversas outras atividades.

MOSTRA QUILOMBO DE CINEMA NEGRO

Pela primeira vez, e incorporada ao ‘Vamos Subir a Serra’, será realizada a Mostra Quilombo de Cinema Negro, com a organização do Mirante Cineclube. Janderson Felipe é um dos curadores da exibição e destacou o intuito dos filmes selecionados.

“São filmes que estão compromissados com a contra-representação estereotipada negativa que pessoas negras sofreram e sofre no cinema, mas que, sobretudo, estão interessados em ser arte, arte negra. Fazer uma mostra de cinema negro é interessante porque quando tomamos o todo, tem-se uma percepção muito única ao ver todos esses filmes durantes esses três dias: de que não se vê essas imagens com tanta frequência. Com certeza haverá um estranhamento, e é um estranhamento natural porque não estamos acostumados a ser estimulados por aquelas imagens, e esse ‘estranho’ é importante até para nos entendermos, ‘por que estranharia algo que é mais próximo de mim?’. É uma provocação necessária, porque naturalizamos tanto imagens de um cinema colonizador ou imperialista que não nos relacionamos com o que está entre nós”.

Janderson esclarece que a mostra não é uma celebração. “Acho que a mostra é não uma comemoração, mas o resultado de um processo de amadurecimento do Mirante Cineclube, tanto no sentido de valorizar pautas que nos são caras, tais como a da autoria negra, LGBTQ+ e feminina, como na expansão da sua atuação para o fortalecimento na cultura cinematográfica em Alagoas. As sessões sempre são pensadas de forma a garantir a pluralidade de olhares e a formação crítica dos espectadores, bem como possibilitar a circulação de produções autorais. Acredito que foi o sucesso nas inscrições e o desejo de ter esse espaço que levou a sessão [realizada de maneira especial no ano passado] a virar mostra, e essa e outras atividades que o cineclube vem realizando está fortalecendo sua consolidação como uma forma de expandir o olhar do público sobre as obras, seja no que toca a linguagem, seja no que toca o tema a elas pertinentes. Além disso, as atividades têm como princípio democratizar o acesso ao cinema. Após a criação do Mirante, a cultura cineclubista tem crescido no Estado e esse também é um dos ganhos”.

A escolha dos filmes foi um dos desafios. “Fazer curadoria é algo difícil, porque nós podemos levar um turbilhão de informações e emoções para os espectadores. Foi tudo muito orgânico, entendemos os filmes em suas diversidades tanto de temática, quanto de quem estar por trás das câmeras, narrativas fílmicas que tem ênfase a forma”.

Uma carta de divulgação da mostra dizia que os filmes escolhidos não homogenizam a ‘experiência vivida do negro’, mas ampliam suas subjetividades e possibilidades de imaginários. O curador explica. “Fazer arte em si já amplia ampliam a subjetividade, e consequentemente enxergamos o cinema negro contemporâneo subjetivo, afro-futurista, inventivo e político. Não há uma separação entre forma e conteúdo; esses filmes brincam com essas concepções. Quando a gente tem o protagonismo negro, esses filmes contribuem com a quebra de estereótipos e representações imagéticas dogmáticas”, finaliza.

Mais matérias desta edição