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Nº 5693
Caderno B

PATTI SMITH CHEGA AO BRASIL COM SHOW E NOVO LIVRO

Atração do Popload Festival, cantora aborda eleição de Trump nas páginas de 'O ano do macaco'

Por SILVIO ESSINGER/ O GLOBO | Edição do dia 15/11/2019

Matéria atualizada em 15/11/2019 às 04h00

Patti foi premiada em 2010 com National Book Award pelo livro de memórias Só garotos
Patti foi premiada em 2010 com National Book Award pelo livro de memórias Só garotos - Foto: Steven Sebring / Divulgação
 

Cantora que deu régua e compasso para os punks e para o rock alternativo surgido a partir dos anos 1980, a americana Patti Smith, de 72 anos, vem cada vez mais se dedicando à atividade que tomava seu tempo antes de resolver investir na música: escrever livros. Neste ano, ela lançou “O ano do macaco” (Companhia das Letras), relato onírico de suas experiências em 2016, ano no qual perdeu um amigo (o produtor Sandy Pearlman); ajudou outro, enfermo, a escrever (o dramaturgo Sam Shepard, que faleceria em 2017 ); viu Donald Trump ser eleito presidente e completou 70 anos. Mas é como cantora que ela desembarcou em São Paulo para dois shows: um nesta sexta-feira, às 20h45, no festival Popload (no Memorial da América Latina) e outro sábado, beneficente, às 21h, no Auditório Simon Bolívar do Memorial. Na quinta, ela fez o lançamento de "O ano do macaco" e "Devoção" (de 2017, que agora sai no Brasil)). Por telefone, Patti comentava suas primeiras impressões sobre São Paulo. "Estou olhando pela janela e, apesar de estar bem enevoado, consigo ver toda essa interessante arquitetura. E tem uns museus de arte maravilhosos. Só estou aqui há algumas horas, mas vou explorar a cidade mais tarde". Escrito “em tempo real” ao longo de 2016, “O ano do macaco” fala das viagens da cantora e descreve sonhos em meio a uma realidade que começava a se desfazer com a eleição de Trump. "A maneira com que os americanos se identificam com o mundo virou de cabeça para baixo durante a atual administração. É estranho ter uma pessoa com tão pouca empatia, com tão tão pouca compreensão das leis constitucionais, com tão pouco apreço pelo meio ambiente, como nosso líder. É uma situação muito estranha, e livro reflete um pouco disso", diz ela, que encerrou o ano, em 30 de dezembro, fazendo 70 anos. "Eu ficava pensando em quanto tempo ainda teria para escrever, para trabalhar, para ver meus filhos, para ler livros, para apreciar a natureza. Foi um despertar para o processo de envelhecimento". Premiada em 2010 com o National Book Award pelo livro de memórias “Só garotos”, Patti Smith não lança um disco de canções inéditas desde “Banga”, de 2012. "Sou multidisciplinar. Tiro fotos, desenho, faço shows, sou mãe, sou ativista, mas primeiramente sou uma escritora. A escrita e os meus filhos estão no topo das minhas prioridades hoje em dia", explica. "Recentemente, gravei três álbuns de poesia (com o grupo Soundwalk Collective, baseados nas obras dos poetas franceses Arthur Rimbaud, Antonin Artaud e René Daumal). Mas devo fazer ainda um de canções, talvez no ano que vem". Admiradora dos livros do chileno Roberto Bolaño (1953-2003) e do argentino Cesar Aira , Patti agora está vidrada em “Space invaders”, da chilena Nona Fernández. "É um livro pequeno que tem infância, memórias, sonhos, poesia e o Chile dos últimos anos de Pinochet. Muitos desses escritores latino-americanos passaram por mais distúrbios políticos do que eu passei em toda a minha vida. E gosto da forma como eles tecem essas lembranças com a fantasia". Já como apreciadora de música, a grande novidade é a trilha sonora do anime “Ghost in the shell” (1995, composta por Kenji Kawai). "Eu ouço quase todo dia, gosto de escrever com ela. E de vez em quando posso ouvir Billie Eilish , Rihanna... mas sempre muito de Jimi Hendrix e de 'Ghost in the shell'", diz a cantora, que continua forme na crença no poder transformador da música. "Quando era jovem, as canções de Bob Dylan, de Neil Young, de Jim Morrison eram muito importantes. Hoje, os jovens ouvem canções do colapso ambiental, o som das queimadas. Eles estão exigindo dos governos e das corporações que salvem esse planeta".

POPLOAD: MARATONA MUSICAL

Patti Smith é a grande estrela de uma edição do Popload recheada de atrações que valem bem mais do que uma espiadela. Entre elas, os Raconteurs de Jack White, os reis do eletropop indie Hot Chip e a volta do Cansei de Ser Sexy depois de cinco anos longe dos palcos. E para quem se dispuser a chegar cedo no sábado ao Memorial da América Latina, ainda há opção de conferir o pop alegre e refinado da sueca Tove Lo e o rap ferino e criativo da inglesa Little Simz, que este ano lançou seu aclamado terceiro álbum, chamado “GREY area” e indicado ao Mercury Prize (as duas também se apresentam no Rio de Janeiro na noite de domingo).

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