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Caderno B

'O JUÍZO' É TENTATIVA HONESTA DE TERROR NACIONAL

Confira a programação do cinema (07/12/2019)

Por FRANCESCA ANGIOLILLO/ FOLHAPRESS | Edição do dia 07/12/2019

Matéria atualizada em 07/12/2019 às 06h00

Dirigido por Andrucha Waddington, filme tem história de corte psicológico-sobrenatural
Dirigido por Andrucha Waddington, filme tem história de corte psicológico-sobrenatural - Foto: Divulgação
 

Experiente em diferentes formatos, Andrucha Waddington se lança, com "O Juízo", no filme de suspense. Uma história de corte psicológico-sobrenatural foi a opção da atriz e escritora Fernanda Torres para fazer desta parceria com o marido diretor seu primeiro voo solo como roteirista de cinema. A fazenda do período escravocrata, outrora às margens do caminho do ouro e hoje isolada em meio a florestas e cachoeiras, dá o cenário perfeito – antiga, brumosa e sombria, é um bom lar para fantasmas. Num enredo com reminiscências de "O Iluminado", Guto (Felipe Camargo) se muda para a propriedade herdada do avô com a mulher, Tereza (Carol Castro), e o filho, Marinho (Joaquim Torres Waddington, filho do diretor e da roteirista, estreando no cinema). Pouco sabemos da família, além do fato de que Guto foge da vida urbana para tentar se livrar do alcoolismo. A falta de rumo do trio – apenas Tereza se mantém ocupada, tentando fazer da velha casa um lar – é propícia para que mentes sejam cooptadas por assombrações. No caso, os fantasmas do escravo Couraça (Criolo) e de sua filha, Ana (Kênia Bárbara), assassinados por um antepassado de Guto. É um plot que propicia possíveis desdobramentos interessantes. Trataria o filme de reparação histórica? Ou será um terror em que não se sabe se os mistérios vêm do além ou da psique? Tudo isso "O Juízo" promete. Na primeira metade, ou pouco mais, cumpre. A estética contribui – planos aéreos, a fotografia desenhando um cenário que mistura idílio e medo –, assim como as interpretações contidas. Entre estas, destaca-se Joaquim, que expressa bem seu tédio adolescente ao vagar por uma paisagem que lembra a estreia cinematográfica de sua mãe em "Inocência", filme de Walter Lima Jr. de 1983. Também há as atuações coadjuvantes, porém inspiradas, de Lima Duarte, como o ourives Costa Breves, e Fernanda Montenegro, como a médium Marta Amarantes. Algo, contudo, desanda. O ritmo não se encaminha para a escalada da angústia, como pede a convenção do gênero; segue na mesma toada, com cenas que isoladamente fazem a ação avançar. Se o espectador esperava sustos – parte desse tipo de filme –, eles não vêm. A fotografia acompanha o ensombrecer das almas; de repente faz-se a noite sem fim que, no terror, anuncia o desenlace cruento. A alvorada vem, mas não de maneira redentora, a relaxar a tensão, pois esta não chegou a se instalar nessa tentativa honesta, ainda que imperfeita, de dar uma visão nacional de um gênero de volta à moda.

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