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DE OLHO

POP COREANO EM ALAGOAS

Com o k-pop mostrando influência até na política, saiba como é o movimento alagoano do gênero musical que é febre em todo o mundo

Por Maylson Honorato | Edição do dia 04/07/2020

Matéria atualizada em 04/07/2020 às 03h39

Foto: Divulgação
 

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Mais de 16 mil quilômetros separam Alagoas e a Coréia do Sul. Mas a verdade é que distância nunca foi problema para a música. Em terras alagoanas, o K-pop, ritmo que vibra na cabeça de milhares de adolescentes e jovens ao redor do mundo, também encontrou seu reduto de fãs fervorosos e apaixonados.

Semanas atrás, o Korean Pop (ou música popular coreana, em tradução livre) voltou a chamar atenção ao mostrar a força de sua comunidade. Primeiro veio o engajamento massivo na mobilização virtual do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), após a morte de George Floyd -homem negro assassinado por um policial branco em Minneapolis, nos EUA. Os fãs de k-pop se apropriaram de uma hashtag racista e a esvaziaram de seu sentido original. Eles publicaram no Instagram vídeos de suas bandas preferidas com a tag #whitelivesmatter (vidas brancas importam), de tal forma que quem procurasse por conteúdo de supremacia branca encontraria imagens de jovens cantando e coreografando música pop sul-coreana.

Dias mais tarde, após a polícia de Dallas pedir que cidadãos lhes enviassem vídeos de “atividades ilegais de manifestantes” nos protestos contra a violência policial nos EUA, fãs de k-pop inundaram o software com vídeos de ícones do gênero musical, como as bandas BTS, Blackpink e Red Velvet. O volume foi tão grande que o app travou.

Em seguida, fãs de k-pop -junto com usuários do aplicativo de compartilhamento de vídeos Tik Tok- disseram ter sido responsáveis pelo esvaziamento do primeiro comício em meses do presidente americano Donald Trump.

Em Alagoas, a comunidade de kpoppers (fãs k-pop) ainda parece ser tímida, mas eles garantem que o que os unem é muito mais do que um gênero musical.

“Acho que o k-pop não é só a música, é a união desses fãs, é a relação deles com seus idols [artistas de k-pop] e o quanto a gente consegue se expressar. Às vezes somos subestimadas, mas em breve estaremos em todo lugar”, diz Bárbara, 16 anos, estudante alagoana.

Bárbara conta que ela e outros amigos de Alagoas participaram da movimentação contra a hashtag #whitelivesmatter. A movimentação de kpoppers começou com a doação de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões) feita pela banda BTS ao movimento antirracista. Os fãs se encarregaram de levantar mais R$ 5 milhões nas redes sociais e de dissolver os propósitos da tag. Vale pontuar que o BTS é considerado um dos grupos mais politizados da cena e foram um dos poucos a fazer mais pelos protestos do que postar uma hashtag.

“Todo mundo conversa, principalmente pelo Twitter, é onde a gente encontra os outros fãs, principalmente agora que ninguém pode sair”, relata a adolescente. “Quem é fã de k-pop é fã de coisas diferentes, de respeitar até o que não entende, de ter um mundo melhor”, finaliza.

A CENA K-POP EM ALAGOAS

Lá em 2008, o alagoano Benyelton Miguel, de 29 anos, buscou no Google descobrir a origem de suas músicas preferidas, que ele conheceu ao jogar Pump it Up (máquina coreana de simulação de dança, muito popular no antigo Game Station, em Maceió). Ele descobriu que as canções que passou a adolescência amando eram sucesso do k-pop.

Beny é o líder do grupo Socket Wave, um dos mais celebrados da cena k-pop de Maceió. O grupo faz covers de dança.

“O Socket Wave começou após a popularização do hobby de k-pop cover aqui em alagoas, por meio de concursos de dança. Eu fui parte da organização de alguns desses primeiros concursos em eventos de cultura pop locais”, relata.

“Depois dessa consolidação, um evento de cultura pop de Recife veio pra cá. A particularidade era que o evento era responsável por um campeonato nordestino de k-pop (lá em Recife). Eu fui jurado por muito tempo dos concursos locais, por isso tive a ideia de juntar uns amigos e fazer um grupo para competir representando Alagoas lá em Recife. Seria a primeira vez. Foi assim que o grupo surgiu, com umas 6 pessoas.”

Hoje o grupo possui 12 membros fixos e ensaia semanalmente, mas está em hiato devido à pandemia do novo coronavírus. De acordo com Beny, uma chamada para novos integrantes será anunciada em breve.

“O cenário, ao menos antes da Pandemia, estava bem agitado: vários eventos anunciados, dezenas de grupos participando, etc. Grupos como o K-Pop AL estavam fazendo um bom trabalho em organizar eventos e atrair investimento para o hobby. Isso também se dá porque a quantidade de fãs é muito grande, e eventos voltados ao k-pop (ou até que apenas tenham como atração) atraem muitíssimo público”, conclui Benyelton.

Para Iago Januzzi, do DNC, outro grupo alagoano de k-pop cover, a cena local é muito maior do que já foi um dia, além de ser promissora.

“Ultimamente tem crescido bastante graças a pessoas tão dedicadas que fazem parte da Kompany [empresa de eventos] trazendo sempre novidades para cá, além do maior evento com competição que acontece aqui até hoje, o Supercon, que possui premiação em dinheiro e nos garante vaga para uma competição regional. Existem vários outros grupos por aqui e alguns que conhecemos e admiramos são o Olympus (@olympus.ofc) e a Socket Wave (@socketwaveoficial)”, diz.

O DNC (oficialdnc) tem hoje 11 membros fixos e também deve anunciar seleção em breve. O grupo começou em 2016 e já foi tricampeão no Supercon Alagoas. Apesar de viver um hiato, a volta está sendo planejada.

“O grupo TSF teve sua estréia no dia 11 de Setembro de 2016, com a música “Wolf” do EXO. Muitos integrantes tiveram que sair e então foi decidido que o nome TSF não representava mais o grupo como deveria. Passou-se então a ser chamado DNC, consoantes da palavra DANCE, unindo todos os integrantes do grupo à uma só essência: dançar”, conta Iago.

“Ao meu ver, apesar de possuir muitas influências tanto da cultura coreana quanto das próprias músicas ocidentais, o k-pop vai além do quesito ‘gênero musical’ por nos deixar interessados em coisas que vão além das músicas lançadas. O interesse vai desde figurinos, cenários, clipes bem produzidos, até as personalidades dos próprios artistas em questão, além de existirem subgêneros, músicas e conceitos que se diferenciam de grupo em grupo e isso abrange um público enorme e variado”, finaliza o artista.

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