Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 5666
Caderno B

MEMÓRIA ALAGOENSE

Em projeto no YouTube, Academia Alagoana de Letras resgata história e homenageia personalidades que ocuparam as cadeiras da instituição centenária

Por DIMITRIA PIMENTEL*/ ESTAGIÁRIA | Edição do dia 05/09/2020

Matéria atualizada em 05/09/2020 às 05h00

Foto: Reprodução
 

Durante o período de distanciamento social imposto pela pandemia, a Academia Alagoana de Letras (AAL) tem realizado eventos online para movimentar os acadêmicos e ajudar a preservar a cultura do estado por meio de ações que permitem a interação com o público. A quarta iniciativa será lançada neste sábado (05) e deve se estender até o final do ano. Trata-se do projeto “Letras Alagoenses”, que homenageia e resgata a memória dos brilhantes alagoanos que ocuparam cada uma das 40 cadeiras existentes na Academia. No projeto, cada acadêmico grava um vídeo contando a história dos que vieram antes dele, desde o patrono, e passando pelos ocupantes anteriores de cada cadeira. O material será disponibilizado na internet, para que se torne um grande acervo de pesquisa e memória dos nomes ilustres do estado. Depois do vídeo inicial, que será do presidente da AAL, Alberto Rostand Lanverly, os outros vão ao ar todas as quartas e domingos no canal do YouTube da instituição. O nome do projeto é diferente do gentílico de Alagoas por ser uma referência ao antigo jornal Íris Alagoense, que circulava no começo do século 20. Depois, uma rua do bairro Farol ganhou o mesmo nome para homenagear o periódico. “Foi uma forma de deixar o nome diferente e ganhar atenção para o evento”, explicou Rostand. Lanverly ocupa atualmente a cadeira de número 03 e, portanto, falará sobre o seu patrono, Ambrósio Lyra. A admiração pelo antecessor se sobressai nas palavras do presidente. Além de escritor, Ambrósio também exerceu a profissão de engenheiro civil, a qual abdicou quando percebeu sua vocação para escrever. “Ambrósio deixou seu nome registrado na história do estado de Alagoas com os inúmeros trabalhos publicados, tanto os livros que escreveu quanto as participações nos jornais da época. No entanto, ele faleceu muito cedo, com apenas 40 anos, mas deixou um legado imenso. Ele acumulou duas graduações: a primeira em Direito e outra em Engenharia Civil. Além de escrever também ocupou os cargos de deputado estadual e federal”, conta. Natural da cidade de Passo de Camaragibe, em 1859, Ambrósio Lyra foi um importante personagem na construção da história da literatura alagoana. Escreveu sobre o local onde viveu a maior parte dos seus anos e seu livro mais famoso foi “Ensaios em Versos”, que se encontra disponível para pesquisa e consulta na Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Foi o primeiro a ocupar a cadeira número 03 da AAL e foi substituído posteriormente pelo historiador Felix Lima Júnior, passando pelo maior educador de Alagoas, Padre Teófanes Barros, e pelo desembargador Antônio Sapucaia, até chegar a vez do professor e engenheiro Rostand Lanverly. Histórias como a de Ambrósio Lyra, que dedicou sua vida a escrever sobre Alagoas ficam cada vez mais esquecidas e é de encontro a isso que nascem projetos como o Letras Alagoenses. O resgate histórico que a Academia pretende fazer é fundamental para a construção da memória alagoana. Além de democratizar o acesso à informação em um período como este, o projeto vai oferecer a oportunidade de conhecer os verdadeiros fundadores da história do estado.


MULHERES QUE FIZERAM HISTÓRIA

Dentre os ilustres alagoanos que serão homenageados no Letras Alagoenses está Eunice Lavenere, a primeira mulher a tomar posse de uma cadeira na Academia Alagoana de Letras. A escritora ocupou a cadeira de número 26, no ano de 1945, e terá sua memória relembrada pelo médico Marcos Davi Lemos, que atualmente é seu sucessor. A imortal nasceu na Bahia, mas mudou-se para Alagoas ainda muito jovem. Atuou como professora de francês e jornalista, colaborando em vários jornais da época, como o pioneiro “O Semeador” e também na Gazeta de Alagoas, onde publicava poemas. A produção literária de Eunice foi imensa e durante a vida ela escreveu vários livros, mas, por falta de recursos financeiros e também de incentivos públicos, não conseguiu publicar a maioria deles. Todavia, usando de sua proficiência na língua francesa ela manteve intercâmbio permanente com instituições culturais internacionais muito importantes nos Estados Unidos e em países da Europa. Dessa forma, trouxe novos ares internacionais que ajudaram a renovar mentes e corações das pessoas que viviam na Maceió de então. O médico que a sucede fala orgulhoso da escritora e já adianta parte do discurso que está preparando para o Letras Alagoenses. “Eunice Lavenere escreveu muito precocemente seu primeiro poema, com apenas 8 anos de idade. Na Academia Alagoana de Letras foi sucedida por Anilda Leão, outra mulher também muito precoce e à frente de seu tempo, a qual eu sucedi na cadeira de número 26. Elas muito honram a cultura e a civilidade da nossa terra”, diz Marcos Davi. Lavenere e Leão fazem parte das 19 mulheres que integraram a Academia, entre os 172 membros que já passaram pela instituição nos últimos 100 anos.


MEMÓRIA FRÁGIL

Para o presidente da Academia, existe a necessidade de reafirmar para a sociedade que Alagoas tem memória literária. Uma vez que ela se encontra defasada e novas gerações já não ouvem falar sobre as pessoas que construíram a história alagoana. “Impressionante como nós tivemos nomes fantásticos e que atualmente são pouco conhecidos pela nossa sociedade literária.O maior exemplo disso é uma conversa com alguém mais novo, quando você pergunta ‘quem é o seu autor predileto?’ e ele tende a procurar um estrangeiro para responder, quando nós temos alagoanos brilhantes, como Ledo Ivo e Graciliano Ramos”, afirmou Rostand. Ele ainda reafirmou o compromisso do evento virtual com a sociedade. “A memória alagoana, falando da literatura, é frágil por não reconhecer os nomes que a fizeram e essa iniciativa da AAL vem para fortalecer essa memória e imortalizar as figuras que compõem o cenário da literatura nesses mais de 100 anos.” Para conferir os vídeos basta acessar o canal do YouTube da Academia Alagoana de Letras e acompanhar pelas redes sociais as datas dos próximos lançamentos. A homenagem pode ser vista também pelo Facebook da instituição.

*Sob supervisão da editoria de Cultura

Mais matérias desta edição