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Cultura

ALAGADIÇAS

Segunda edição do Festival Alagadiças quer dar voz e palco para as artistas negras de Alagoas; com entrada gratuita, evento ocorre entre os dias 23 e 25 de julho, em Maceió

Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 19/07/2022

Matéria atualizada em 19/07/2022 às 15h39

 

Foto: Divulgação
  

Produzido e protagonizado por mulheres, a segunda edição do Festival Alagadiças acontecerá nesta semana, durante os dias 22, 23 e 25 de julho, celebrando o Dia Internacional da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha. O evento é gratuito e contará com a participação de mulheres que produzem os mais diversos tipos de arte em Alagoas.

Enaltecendo a ancestralidade feminina, as produtoras culturais Sal Bernardo e Mel Nascimento resolveram dar vida ao Alagadiças após o Festival Elas por Elas, que ocorreu em 2020, que reunia mulheres artistas de várias linguagens.

A primeira edição do Festival Alagadiças aconteceu no Dia Internacional da Mulher, em formato de live, transmitida pelo YouTube. Neste ano, as artistas alagoanas estarão durante três dias compartilhando saberes e promovendo a arte feminina através de uma programação diversa, que conta com oficinas, feira empreendedora, exposição audiovisual, poesia, dança e muita música.

“Estamos sedentas por eventos e por escoar nossas produções, o coração está quentinho e todas as mulheres que convidamos ficaram maravilhadas com o convite. Nós debatemos nome por nome, pensamos formas de trazer as mulheres negras do online para o presencial, sem fazer um repeteco do anterior, então pensamos nas oficinas que tanto precisamos na área artística para nos profissionalizarmos ainda mais”, contou Sal Bernardo, produtora do evento.

Protagonizado por mulheres negras, de acordo com Sal Bernado, o desejo de realizar um evento que fala sobre corpos femininos negros já era antigo.

“Nós já queríamos fazer em 2021 um evento só para mulheres negras, mas, por causa da pandemia, não conseguimos captar recursos. É muito importante que eventos como o Festival Alagadiças aconteça porque nós, mulheres pretas, não conseguimos produzir material de boa qualidade no YouTube, não somos convidadas para grandes palcos e não conseguimos acessar os grandes festivais”, disse ela.

“Pensando dessa forma, criamos esse festival para mulheres negras, para não só estarmos no palco, mas em todas as plataformas, fazendo outras pessoas terem acesso ao material de audiovisual que criamos. O evento anterior foi em forma de live e, este ano, teremos as meninas da Cenepopeia filmando todo o evento para colocarmos um material de qualidade no nosso canal de YouTube”, contou a produtora.


ANCESTRALIDADE E REPRESENTATIVIDADE

Reunindo mulheres negras, indígenas e afro indígenas, o Festival Alagadiças celebra a memória e a representatividade de Dandara, Tia Marcelina, Mestra Zeza do Coco e diversas mulheres que são sinônimos de força e resistência.

Com o intuito de compartilhar saberes, o evento, que tem 80% da equipe formada por mulheres, quer dar voz e palco para as mulheres de Alagoas, celebrando a ancestralidade e o poder feminino.

“Somos mulheres alagoanas e inundadas de arte. O Alagadiças simboliza um momento que perpassa o tempo e as fronteiras pelo mundo ao ecoar a luta constante pelo direito pleno à vida das mulheres. A celebração do Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha é ato de insurgência ao sistema que oprime, violenta e mata meninas e mulheres. E, em momentos tão áridos que vivemos frente à tanto retrocesso, eis que as mulheres imprimem sobre as (A)lagoas um ato festivo, produzido por mulheres alagoanas, agregando manifestações artístico-culturais da música, da poesia e da dança, com artistas que representam o legado de luta e resistência na terra de Dandara”, ressaltou Sal Bernardo.

Para a artista Gabi Craví e Canela, participar do Festival Alagadiças é algo simbólico, principalmente por essa exaltação às mulheres negras alagoanas.

“Enquanto mulher negra, indígena e nordestina, considero fundamental a celebração dessa data para homenagear as mulheres que lutaram antes de nós e para compreendermos que fazemos parte dessa história, sendo sementes de um mundo cada vez melhor para todas as mulheres. A representatividade é uma forma de resistência. Um evento como este traz a importância de afirmarmos as inúmeras maneiras possíveis que cabem no leque identitário do que é ser mulher. Porque o trabalho, a economia, a organização, o cuidado, a luta, a resistência, a persistência, a insubordinação, a arte, a beleza, também têm gênero”, afirmou Gabi.

Após anos morando em outro Estado, Gabi está retornando aos palcos alagoanos e conta que a apresentação do dia 25 de julho será repleta de referências femininas, ancestralidade e alegria.

“Inspirada em algumas vozes femininas que são minhas referências, como Cátia de França, Clara Nunes, Marinês, entre outras, estou preparando uma apresentação que exalte a arte destas mulheres que tiveram e têm notoriedade no Nordeste e no País, mas, conjuntamente, homenagear as trabalhadoras da terra, e da nossa terra, a arte que nasceu das destaladeiras de fumo de Arapiraca - AL”, contou ela.

Outra forte presença do evento é o grupo Bumba Minha Vaca, do Ateliê Ambrosina, que conta com a participação de jovens moradoras do Pontal da Barra, provocando uma reflexão sobre a presença feminina dentro de uma das manifestações populares de Alagoas.

“É importante e fortalecedor levar essas jovens para um lugar de protagonismo, onde elas possam mostrar o talento e o trabalho que tem sido desenvolvido há mais de um ano na Casa Ambrosina. É nosso lugar de fala. É dar a oportunidade dessas jovens vivenciarem um projeto imenso, onde mulheres pensam, produzem, tocam, cantam, dançam, atuam. É dar a elas a perspectiva de que é possível, muito embora não seja fácil, bem sabemos. São elas por elas, ou melhor, nós por nós”, contou Manu Preta, mestra da bateria do Bumba Minha Vaca.

Animada para colocar a Vaca na rua mais uma vez, Manu Preta afirma que será um momento simbólico, de protagonismo feminino e boa energia.

“A expectativa é imensa, será a segunda vez que iremos colocar a Vaca e a bateria na rua. O público pode esperar muita música potente, uma percussão afiadíssima e uma vaca louca!”, finalizou ela.

O evento ocorre no Sebrae, no Centro de Maceió, de 22 a 25 de julho, durantes as tardes e noites. A entrada é gratuita. Mais informações podem ser obtidas por meio do telefone: (82) 99614-1658.


*Sob supervisão da editoria de Cultura

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