Maceió,
Nº 5694
Cultura

BOIS, SE PREPAREM

Grupo Bumba Minha Vaca quer incentivar a presença feminina nos concursos de Bumba Meu Boi e expandir participação das mulheres nas manifestações culturais tradicionais

Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 20/07/2022

Matéria atualizada em 20/07/2022 às 14h38

 

Foto: Divulgação
  

“No palco de sua vida, foi primeira atriz, se assumiu protagonista, hoje é louca e feliz”. — É cantando o hino composto por Manu Preta e dançando livremente que o Bumba Minha Vaca percorre as ruas do Pontal da Barra, na zona sul de Maceió. Com o intuito de dar visibilidade ao corpo feminino e à comunidade LGBT+, o grupo de bumba meu boi do Ateliê Ambrosina foi criado com o intuito de quebrar padrões machistas, que também alcançam as manifestações culturais.

Formado exclusivamente por mulheres e pessoas LGBT+, o grupo, além de trabalhar o empoderamento feminino das jovens moradoras do Pontal da Barra, traz para elas a oportunidade de se descobrir no universo da arte através de aulas de dança e percussão.

“Nós somos uma ONG feminista, formada por mulheres multiartistas. E quando vimos o interesse de nossas alunas pela música, logo pensamos na junção da cultura popular. Em pesquisas, descobrimos que nas arenas já tiveram outras vacas, mas que, infelizmente, não deram continuidade nos grupos e que eles não eram 100% femininos”, explicou Sal Bernardo, produtora executiva do projeto.

O Bumba Minha Vaca existe desde 2021, quando realizou, em fevereiro, as primeiras oficinas e ensaios do grupo. Devido aos impactos da pandemia, o grupo passou a ter ensaios reduzidos e a estreia aconteceu apenas em abril de 2022.

O SOM DAS MUDANÇAS

Foi com os tambores tocando, o hino na ponta da língua e desfilando figurinos brilhantes e coloridos que a Vaca foi solta pelas ruas do Pontal pela primeira vez. Ali, o grupo mostrou para os moradores locais que é possível inovar e diversificar, mesmo em meio à tradição.

De acordo com a produtora, com a população acostumada com o bumba meu boi, a Vaca chega na cena local para que as mulheres também possam tocar, brincar e desenvolver sua arte, igual a qualquer grupo formado por homens.

“A Vaca tem influenciado no interesse pelo canto, pela dança, por aprenderem outros instrumentos e já serem convidadas a tocar em outros grupos musicais. Além disso, dentro da ONG elas têm aulas de design gráfico, percussão, teatro e futebol de salão, cinema, as que estão mais tempo na Casa Ambrosina se tornam monitoras e já ganham em projetos que desenvolvemos. No projeto do Bumba Minha Vaca nós tivemos o corpo de baile, percussão, still e fizemos um filme institucional junto com elas”, contou Sal Bernardo.

Trabalhando ativamente no bairro tradicional das rendeiras, os projetos desenvolvidos pelo Ateliê Ambrosina levam para os moradores uma nova forma de ver o futuro e promover a transmissão dos saberes.

“É muito importante a chegada de projetos que promovem o crescimento das mulheres do Pontal, além disso nós mostramos para a juventude a importância da transmissão dos saberes das que vieram antes e que elas podem ser rendeiras ou não, que existem outras possibilidades, tanto que hoje já temos alunas que estão fazendo faculdade”, disse Sal.

MULHERES NA PERCUSSÃO

Com uma bateria 100% feminina, as alunas que compõem a parte percussiva do Bumba Minha Vaca têm aprendido sobre e, cada vez mais, tomando gosto pela coisa, de acordo com a mestra da bateria do grupo, Manu Preta.

“Falando principalmente do lugar da percussão, que ainda hoje é ocupado majoritariamente por homens, é importante e fortalecedor levar essas jovens para um lugar de protagonismo, onde elas possam mostrar o talento e o trabalho que tem sido desenvolvido há mais de um ano na Casa Ambrosina”, contou Manu.

Para a mestra, é gratificante ver as alunas criando gosto pela percussão e assumindo um lugar de poder ao assumir um instrumento.

“Assistir elas crescendo dentro do mundo percussivo traz a sensação de caminhos abertos e de vitória coletiva. Assim como para mim é importante ocupar esse lugar de percussionista e ser reconhecida como tal, sei que também é o sonho de muitas meninas. E ser um referencial e abrir caminho para que elas passem e caminhem junto comigo lado a lado, não tem preço”, disse ela.

Após estrearem nas ruas do bairro do Pontal, as componentes do Bumba Minha Vaca estão se preparando para se apresentar no Festival Alagadiças, que ocorre nos próximos dias, e logo mais no tradicional concurso de Bumba Meu Boi.

“Foi maravilhosa a experiência da estreia, ver o bairro aplaudindo o trabalho das meninas e os próximos planos é participar de eventos e levar a Bumba Minha Vaca para a arena. Se preparem Bois, pois vai ter Bumba Minha Vaca na arena!”, contou a produtora executiva do projeto.

*Sob supervisão da editoria de Cultura

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