Gazeta de Alagoas
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Maceió,
Ano 90 Nº 5852
Artes visuais

ARTISTA LEVA AFUNDAMENTO DE BAIRROS EM MACEIÓ PARA EXPOSIÇÃO EM SP

Ulisses Arthur é o único alagoano na mostra “Dos Brasis”, dedicada à produção de artistas negros

Por Maylson Honorato | Edição do dia 12/08/2023

Matéria atualizada em 14/08/2023 às 15h12

 

Foto: Cortesia
 

Carregando a historicidade e o nome de Alagoas para a mostra “Dos Brasis - Arte e Pensamento Negro”, que é dedicada exclusivamente à produção de artistas negros, o diretor e roteirista alagoano Ulisses Arthur está expondo a vídeoinstalação “Bebedouro” até dia 28 de janeiro de 2024, no Sesc Belenzinho, em São Paulo. A mostra apresenta ao público obras de cerca de 240 artistas negros de todo Brasil, em diversas linguagens, como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidos entre o fim do século 18 até o século 21.


Diretor e roteirista formado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e fundador do selo de produção Céu Vermelho Fogo Filmes, Ulisses Arthur já tem uma bagagem dentro do universo do audiovisual alagoano, sendo realizador dos curtas-metragens CorpoStyleDanceMachine (2017), As melhores noites de Veroni (2017) e Ilhas de calor (2019). A videoinstalação ‘Bebedouro’ chega marcando um novo passo da trajetória profissional do alagoano, desta vez no mundo das artes visuais.


A obra alagoana apresenta uma fabulação narrativa entre o drama, aventura, ficção científica e imagens documentais de um mise-en-scène com jovens e crianças do grupo de teatro da Associação da Criança e Adolescentes da Chã de Bebedouro, alunos do projeto Cinema na Chã. Além disso, a trama tem como cenário os escombros dos bairros que foram afetados pelo afundamento após as atividades de mineração da Braskem.


O trabalho que foi produzido em 2021 é fruto do processo de formação em cinema realizado por Ulisses Arthur durante oficinas ofertadas para os moradores da Chã de Bebedouro, em uma tentativa de dar outros significados às imagens capturadas.


“Levar Bebedouro para o Sesc Belenzinho é maravilhoso! É muito importante deslocar esse olhar, pedir mais atenção para essa tragédia que aconteceu em Maceió e para aqueles que ainda permanecem naquele local e ainda não foram indenizados. Considero essa obra um cinema expandido e ela marca o meu começo nesse circuito das artes visuais”, comentou Ulisses.


Para Ulisses Arthur, a videoinstalação “Bebedouro” reflete um amadurecimento do seu olhar, pois traz uma narrativa de maneira mais expandida, complexa e mais associativa, com muito mais confiança nas imagens produzidas e caminhando para um lugar de experimentação e estética.


“Sou o único alagoano nesta exposição e chego nela com um desejo muito forte de ter outros conterrâneos fazendo parte de momentos como esse, para que a gente possa engrossar o caldo de imagens, ideias, reflexões, urgências e insurgências que temos dentro de Alagoas. Tô muito feliz de estar vivendo isso, de estar vendo isso acontecer, são seis meses da minha obra exposta e estou aprendendo a lidar com esse novo universo”, disse ele.


O alagoano acredita que com a chegada da videoinstalação na mostra será possível ecoar as narrativas dos cidadãos atingidos pelo desastre ambiental e revela que está ansioso para começar a receber os feedbacks.


Já pensando no futuro e nos possíveis próximos passos, Ulisses Arthur afirma que tudo indica que se tornará um artista visual realizador cinematográfico, pois pretende passear pelas duas artes e, de alguma forma, fazer com que uma contribua com a outra.


“Tenho novos processos caminhando nas duas áreas. Logo mais estarei gravando meu primeiro longa-metragem, passarei um tempo voltado para o cinema, mas sem largar as artes visuais pois as pesquisas não param e muitas estão em andamento”, contou ele.


*Sob supervisão da editoria de Cultura

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