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Maceió,
Nº 5693
Meio ambiente

APENAS 17,4% DAS PRAIAS ALAGOANAS ESTÃO IMPRÓPRIAS PARA BANHO

Contaminação não se deve à presença das manchas de óleo, garante IMA

Por Fábio Costa | Edição do dia 16/11/2019

Matéria atualizada em 16/11/2019 às 06h00

| Darcio Monteiro

Apesar do aparecimento das manchas de óleo, as condições das praias alagoanas vêm sendo resguardadas, ao menos é o que indica o relatório de balneabilidade, divulgado pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), nessa última sexta-feira (8). O líquido que vêm atingindo alguns pontos do Nordeste e que já deixou mais de 63 comprometidos em Alagoas, não vem prejudicando a qualidade das águas. Conforme o documento, dos 23 trechos analisados, quatro estão classificados como impróprios para banho, o que significa que apenas 17,4% das praias do Estado oferecem riscos aos banhistas. No entanto, o problema não se deve à presença do petróleo cru, que vêm mobilizando órgãos ambientais, que estudam as causas, assim como realizam as limpezas nos locais afetados, juntamente com voluntários.

De acordo com o relatório, três dos pontos afetados estão localizados no Rio São Francisco, no município de Piaçabuçu. Um deles se encontra em frente ao terminal turístico de artesanato, e os outros na AL-225 e próximo ao bar do Eusébio. Já o último trecho comprometido fica no Rio Niquim, na AL-101 Sul. 

Conforme o IMA, as praias são consideradas próprias quando 80% ou mais de um conjunto de amostras não excede um limite de 800 NMP - Número Mais Provável - de Escherichia coli por 100 ML de água. Sendo assim, as impróprias não obedecem ao critério anterior, além de não apresentarem um valor superior a 2.000 Escherichia coli por 100 ML. 

Considerando que a saúde e o bem-estar humano podem ser afetados pelas condições de balneabilidade, o órgão solicita, no entanto, que seja evitada, no caso de praias influenciadas pela presença de cursos d’água supostamente contaminados por esgotos ou derivados, sua utilização nas 24 horas subsequentes à ocorrência de chuvas, visto que, durante este período, é maior a probabilidade de contaminação por essas matérias  e, consequentemente, o risco de se contrair doenças infecciosas é dobrado. Além disso, impede em qualquer época a utilização de áreas que estejam diretamente sobre influência de rios, canais e córregos e a ingestão de água do mar, com redobrada atenção para com as crianças, que são mais sensíveis e menos imune do que os adultos.

Para o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo César, o saldo apresentado no relatório é positivo. “É um número normal, tendo em vista que se trata de praias urbanas. Digo, até, que foi um resultado muito bom e dentro do esperado”, frisa.

Ainda segundo ele, o IMA solicitou uma análise das águas para descartar, com mais propriedade, uma possível contaminação através das manchas de óleo. Isso porque, banhistas e turistas temem um momento de lazer nas belezas naturais do estado, devido o risco à saúde que o material pode vir a causar. “Esse documento deve está saindo até a próxima semana. Ele é semelhante ao que foi pedido pelo estado de Pernambuco e esperamos que o resultado se replique aqui, visto que lá todas as condições das águas não foram afetadas pelo material oleado. Contudo, é quase certo que todas as praias da região metropolitana de Maceió estão passíveis para banho, menos, claro, o Riacho Salgadinho e trecho da Barão de Anadia”, pontua.

De uma forma geral, o coordenador do gerenciamento costeiro diz, ainda, que percebeu uma melhora na qualidade da água do mar. Até dois anos atrás, ele lembra dos constantes extravasamentos na rede coletora de esgoto da Casal, principalmente nas praias de Pajuçara e Ponta Verde. E explica que, sempre que isto acontecia, o material era drenado pelas galerias de águas pluviais e, consequentemente, chegava na praia. Com a duplicação da rede paralela, esses problemas diminuíram ao ponto de não se registrar mais extravasamentos, conforme avaliação dele.

“Estas situações reduziram bastante e temos mantido um índice de balneabilidade até bom nas praias de Ponta Verde e Pajuçara, mesmo com chuvas razoáveis. Nestes pontos e nas outras praias, percebemos uma evolução grande e melhorias significativas”.

Ele informou que o setor do IMA não tem o levantamento preciso do valor em multas aplicadas aos possíveis responsáveis pela contaminação da água do mar, mas revela que notifica a Secretaria Municipal de Infraestrutura de Maceió, que é responsável pelas galerias de águas pluviais, e a Casal sempre que problemas desta natureza são flagrados pelas equipes.

Línguas sujas poluem praias e mancham reputação turística



FOTO: GILBERTO FARIAS
FOTO: GILBERTO FARIAS - Foto: Darcio Monteiro
 


As línguas sujas são consideradas, pelo IMA, como drenagens pluviais. O homem, segundo Ricardo César, imitou o que já existia na natureza: a água do continente é drenada para a parte mais baixa, onde ficam os oceanos. Durante o período sem chuva, em tese, não é para se ter drenagem e se isto acontece neste período é em função de rebaixamento do lençol freático, tanto para construções como para garagens subterrâneas. No período de chuvas, por outro lado, a água lava toda a cidade e tudo é drenado pelas galerias.

“Quando fortes chuvas são registradas, o IMA recomenda que pelo período de 72 horas ninguém entre no mar, sobretudo próximo às saídas das galerias pluviais. A água fica contaminada e como nossas praias são bastante abrigadas, com uma hidrodinâmica marinha baixa, demora um pouco para este material dissipar. Após três dias, percebemos, por meio de testes, que a água volta ao seu estado normal, já que a salinidade mata estes microorganismos”, informa.

Esta problemática, que polui praias e mancha a reputação turística, segundo compreensão do gestor ambiental, também prejudica diretamente a saúde da população, a produção pesqueira e as nascentes subterrâneos de água potável, além de pôr em xeque o desenvolvimento sustentável do município.

Cuidando das belezas naturais desde janeiro de 2019, para que o problema do aparecimento de línguas sujas não seja agravado, o ‘Coletivo Praia Limpa’ já realizou nove ações no litoral alagoano, retirando uma média de 2,5 toneladas de resíduos sólidos com a ajuda de mais 700 voluntários. “Desenvolvemos campanhas de educação ambiental usando a ação de limpeza de praias como ferramenta para sensibilizar a população quanto a problemática do lixo, em particular os resíduos sólidos mal descartados no ambiente”, expôs o biólogo e integrante do coletivo, Luiz Carlos. 

Ainda de acordo com ele, o aparecimento das manchas de óleo pode ser caracterizado ‘como uma tragédia ambiental de grandes proporções nunca vista no litoral brasileiro, com danos ambientais e sociais presentes e futuros’. “Isso, no entanto, poderia ser minimizado se as providências por parte do governo federal fossem tomadas logo nos primeiros sinais”, completa o biólogo. 

O ‘Coletivo Praia Limpa’ vem orientando as pessoas sobre a situação do óleo, uma vez que a parte da coleta ficou limitada aos órgãos competentes, a exemplo do IMA. “Não convocamos voluntários por conta da toxicidade do óleo e a falta de EPIs, para realizar uma ação desta natureza. Porém, estamos participando de mesas redondas e reuniões públicas sobre o assunto”, conclui.

Casal reage à denúncias 

Responsável pela rede coletora de esgoto e alvo de inúmeras sanções impostas pela prefeitura e pela equipe de fiscalização do IMA por problemas detectados no sistema, a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) destacou que não tem competência para fiscalizar a existência de ligações clandestinas de esgoto dos imóveis nas galerias de águas pluviais, mantidas pela prefeitura. E garantiu: “o surgimento de línguas sujas, portanto, não é uma responsabilidade da Casal”.

“Todas as redes coletoras de esgoto operadas pela Companhia seguem para o emissário submarino. Nenhuma delas deságua nas praias. O que chega às praias são as galerias de águas pluviais que, em tese, deveriam transportar somente água da chuva.O lançamento indevido de esgoto em rios e riachos que deságuam no mar deve ser fiscalizado pelos órgãos ambientais. Não é competência da Casal fazer essa fiscalização”, destaca, por meio da assessoria de comunicação.

A Companhia assegura que as línguas sujas que chegam ao mar não são causadas por transbordamento de esgoto das redes coletoras e que essa contribuição, quando existe, é a menor possível. “A língua suja é oriunda de outros fatores, como ligações clandestinas de esgoto de imóveis às galerias de águas pluviais, as quais não são operadas nem fiscalizadas pela Casal. Essa competência é dos municípios”.

O órgão garante que faz constantemente a manutenção preventiva de suas redes coletoras de esgoto, para evitar obstruções e possíveis transbordamentos. Para isso, utiliza uma equipe qualificada e equipamentos adequados, como caminhões de sucção e de jateamento.

E destaca outra ação em andamento desde janeiro deste ano, que é a "Operação Rede Limpa", em parceria com a Prefeitura de Maceió, com duas vertentes principais: combate às ligações clandestinas de esgoto dos imóveis residenciais e comerciais nas galerias de águas pluviais, que deságuam no mar, e fiscalização e adequação das caixas de gordura de estabelecimentos comerciais.

A Casal também ressalta que o trabalho de manutenção (limpeza e desobstrução) das redes coletoras de esgoto é constante e ocorre principalmente durante a noite, para não interferir no tráfego de veículos e quando o fluxo de esgoto na tubulação é menor. 

A companhia avalia que as línguas sujas surgem por diversos fatores, inclusive por causa da população e deficiência da fiscalização para se combater as irregularidades. “Há, sim, uma parcela de culpa da população e dos empreendedores que lançam seus efluentes, de forma inadequada, na rua, na linha d'água, nas galerias de águas pluviais ou nos cursos d'água, como rios e riachos, pois todas essas estruturas desembocam no mar”.

E informou que o Governo do Estado está investindo em Maceió cerca de R$ 500 milhões para ampliar a cobertura de esgotamento sanitário. Com isso, duas grandes obras estão em andamento. Quando forem concluídas, no final de 2020, elas vão dobrar a cobertura de esgotamento sanitário, passando dos atuais 35% para 70%.

Nos municípios do interior, as grandes obras para implantação de Sistemas de Esgotamento Sanitário são executadas por órgãos federais, como Funasa e Codevasf, em parceria com as Prefeituras. Após a conclusão das obras, os sistemas são repassados para a Casal operar, dar manutenção e fazer melhorias.

Prefeitura

Diferente do que alegou a Casal, a Prefeitura de Maceió informou que a Companhia tem, sim, uma contribuição com extravasamento de esgoto para as galerias pluviais e atribui este situação à precariedade em algumas das redes coletoras, ocasionada pelo subdimensionamento em função do aumento da densidade populacional, sobretudo na parte baixa da cidade. E confirma que, por ser responsável pela rede coletora de esgoto, a Casal se torna, sim, um agente causador em potencial das chamadas línguas sujas.

Para evitar este mal, o Município informou que tem fiscalizado e quando há o extravasamento sem chuva, verifica-se que há um lançamento indevido. Neste caso, busca-se tamponar os locais de onde está sendo gerado para autuar o responsável pelo problema.

Quanto às galerias pluviais, a prefeitura garante que a manutenção é permanente e diária. As equipes da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) fazem o trabalho de limpeza e desobstrução, provocada, principalmente, por descarte de resíduos (lixo) que se acumulam ao longo da tubulação. O trabalho, conforme informa a gestão, é feito de forma preventiva, antes do período chuvoso, para evitar que o resíduo seja carreado pelas galerias até as praias.

 Ocupação hoteleira deve apresentar queda de até 15% no Estado

O setor hoteleiro de Alagoas também vem sendo prejudicado após o aparecimento de línguas sujas e das manchas de óleo nas praias do Nordeste. À Gazeta, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de Alagoas (ABIH-AL), Milton Vasconcelos, estimou, até, uma redução de 15% no número de hospedagens por parte de turistas, comparado ao mesmo período do ano passado. Ele garante, no entanto, que a queda não é motivo para que o Estado não tenha uma boa temporada de férias, que já começa no próximo mês. 

“Estamos trabalhando com duas frentes: a primeira se trata de pessoas que já tinham suas viagens compradas, que ligam e consultam como anda a nossa situação. E aquelas que ainda não obteve seus acessos ao Estado. No entanto, tranquilizamos a todos. Há um esfriamento de 10% a 15% no número de hospedagem, mas acreditamos que teremos uma ótima temporada”, enfatiza Vasconcelos. 

Ainda segundo ele, a ABIH vem monitorando a situação das praias para que os turistas que venham a se hospedar em Alagoas, fiquem bem informados do que esperar aqui. “Quase que diariamente monitoramos os órgãos públicos, a exemplo do  IMA e Marinha, além de procurar saber como anda a balneabilidade de cada praia. Contudo, o  trabalho primordial que estamos realizando é o de informar ao turistas que vêm para Alagoas e, em especial, para Maceió, que está tudo tranquilo, tanto sobre os aparecimentos de línguas sujas, assim como o do material oleado. Garanto, assim, que as férias de sol e mar que muitos desejam serão entregues”, pondera.

Milton Vasconcelos disse, ainda, que o somatório das praias atingidas pelas manchas de óleo não chega a 3% do total dos pontos turísticos de Alagoas. “Temos problemas, mas não podemos generalizar. As nossas praias estão sendo limpas e nenhuma delas teve sua balneabilidade suspensa”, finaliza. 


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