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Cidades

INSTITUTO ALEMÃO RECOMENDA FECHAMENTO DE POÇOS DA BRASKEM

Durante 44 anos, extração de sal-gema foi feita em áreas dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro

Por ARNALDO FERREIRA/ REPÓRTER | Edição do dia 04/01/2020

Matéria atualizada em 04/01/2020 às 06h00

Exploração de sal-gema é apontada como uma das causas do afundamento dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro
Exploração de sal-gema é apontada como uma das causas do afundamento dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro - Foto: © Ailton Cruz
 

Agora é oficial: está em execução o plano de fechamento total dos 35 poços, que ao longo dos últimos 44 anos foram utilizados pela Braskem para a exploração de sal-gema, entre os bairros de Mutange, Bebedouro e Pinheiro, em Maceió. A indústria da Oldebrecht segue orientações do Instituto de Geotécnicas de Leismann, da Alemanha, que é um dos mais importantes do mundo em pesquisas de exploração de sal. Ela [Braskem] obedece, ainda, determinação de fechamento definitivo dos poços, expedida por órgãos técnicos do Ministério das Minas e Energia, que cuidam da fiscalização e da exploração mineral no País. A informação foi confirmada pela da direção nacional da Braskem, que determinou a execução do plano de fechamento de “todos os poços”, que ficam entre os bairros de Mutange, Bebedouro e Mutange. O plano prevê também a indenização de alguns proprietários de imóveis, localizados nas áreas de resguardo dos poços, principalmente daqueles considerados em situação grave ou com problemas de desmoronamento de cavernas de exploração. Só serão indenizadas as famílias que moram em áreas de “resguardo” perto de poços críticos, enfatiza a assessoria de comunicação. As outras famílias dos três bairros terão que aguardar novas orientações da empresa. O Movimento S.O.S Pinheiro quer indenização de todos que moram perto dos 35 poços e mobiliza as entidades comunitárias dos três bairros. Alguns poços terão que ser preenchidos, para evitar o colapso radical, admite o corpo técnico da própria indústria. Durante a operação de preenchimento, serão utilizadas máquinas de perfuração e as áreas desses poços, hoje cercada por imóveis, precisarão de espaço para execução do trabalho complexo e delicado. Por isso, as famílias terão que sair de algumas regiões, justifica a empresa que já está atuando inclusive com uma Central de Atendimento ao Morador, no Ginásio do Sesi, no bairro do Trapiche da Barra, para negociar pagamentos de aluguel social e as indenizações.


PLANO DE DESATIVAÇÃO DE POÇOS JÁ ESTÁ EM EXECUÇÃO

A Braskem, por intermédio da assessoria de comunicação, garante que está em curso o “Plano de fechamento da lavra de sal- gema” na área onde estão os poços, nas margens da lagoa Mundaú. A indústria mantém o compromisso de não mais explorar ou extrair salmoura em áreas urbanas de Alagoas. Confirma, no entanto, que estuda a exploração em outras áreas do estado. Outro detalhe interessante é que a empresa não planeja mais a possibilidade de sair de Alagoas. Permanecerá. Neste momento, busca novas formas de explorar a mina de sal-gema do Estado, que é considerada como um das maiores do mundo. Já recebeu autorização inclusive da Agência Nacional de Mineração, para buscar outras áreas de exploração.


MUDANÇA

Diretores e fontes da Braskem chegaram trabalhar, internamente, com a possibilidade de transferir o parque industrial do Trapiche da Barra para o interior do Estado do Espirito Santo ou outra região do litoral brasileiro, por causa da polêmica a respeito dos problemas em seus poços de Maceió. Naquele momento[entre julho e setembro] a empresa negava envolvimento da exploração com o afundamento de ruas e rachaduras em imóveis nos três bairros. Depois de avaliações técnicas a empresa percebeu que a transferência, além de muito onerosa, não compensaria os investimentos feitos em quatro décadas neste estado. O atual “Plano” de fechamento da lavra foi elaborado em conjunto com órgãos do Ministério das Minas e Energia, dentre eles a Agência Nacional de Mineração (ANM) e Serviço Geológico do Brasil. Fontes do ministério e da Coordenação Municipal de Defesa Civil revelaram ainda, para a Gazeta, que a decisão de desativar “completamente” a extração de salmoura nos três bairros, está “ancorada” em estudos de órgãos de pesquisas nacionais e internacionais, que recomendaram a medida e a execução imediata do plano.


PLANO

A indústria também confirma a informação obtida pela Gazeta. O gerente de Comunicação de Braskem, Rodrigo Uchôa, que fica na ponte área São Paulo-Maceió, disse que para fazer o plano de fechamento da lavra, “a Braskem contratou empresas nacionais e internacionais para dar o apoio técnico”. Atualmente, 15 poços, segundo estudos conclusivos do Serviço Geológico do Brasil- SGB (antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais- CPRM, que inclusive perfurou poços para Braskem nos anos de 1970 e 80), estão completamente desativados e em torno deles foram criadas áreas de resguardo. Quem mora nesta área, receberá indenização para sair o mais rápido possível dos locais. O planejamento da desativação total da exploração e criação da área de resguardo, está amparado em estudos do Instituto de Geotécnicas e Geo- mecânica de Leismann [apontado pelos pesquisadores como o principal instituto de estudos a respeito dos poços de sal no mundo], da Alemanha, confirma também o porta-voz da indústria.


ESTUDOS

Entre 35 poços que foram utilizados pela Braskem para extração de sal-gema, os cientistas internacionais indicam que alguns precisam ser preenchidos com produtos, que garantam consistência e estabilidade. Neste momento, as pesquisas se debruçam sobre quais os produtos que devem ser injetados nos poços, que apresentaram problemas de desmoronamentos nas cavernas de extração. O gerente de Comunicação da Braskem, Rodrigo Uchôa, atesta a informação. “Alguns poços terão área de resguardo e serão preenchidos”. Ao revelar os motivos que levaram a criação da área de resguardo em torno dos 15 poços, o jornalista da Braskem não confirmou a possibilidade de um colapso repentino. Mas, explicou que “a operação de preenchimento é complexa. Será necessário perfurar áreas e nesses locais em torno dos poços haverá necessidade de espaços de armazenagem, de instalação de equipamentos e terão que ter áreas livres”. Ele fez questão de frisar que “não serão todos os poços que serão preenchidos”. Porém, admite que “todos os 15 poços precisam ficar em monitoramento constante”. Confirma ainda a localização dos 15 poços: 13 deles estão na área do bairro do Mutange, dois no Pinheiro e um em Bebedouro, informação que a Gazeta já havia divulgado.

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