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Cidades

PACIENTES ORTOPÉDICOS SOFREM À ESPERA DE CIRURGIAS NO HGE

Idosos vítimas de fraturas aguardam há quase um mês por causa de problemas de estrutura

Por Marcelo Amorim | Edição do dia 24/01/2020

Matéria atualizada em 24/01/2020 às 06h00

| Reprodução

Pacientes do setor de ortopedia do Hospital Geral do Estado (HGE) que dependem de cirurgias, denunciam a demora para a realização do procedimento, além da falta de material e de deficiências na estrutura da unidade. No local há idosos vítimas de fraturas que sofrem há aproximadamente um mês sem solução para os casos. Os problemas envolvem ainda falta de ar-condicionado, elevadores quebrados e até mesmo extintores para combate a incêndio, conforme mostrou a Gazeta na edição deste último fim de semana. A área da Saúde tem sido uma das mais problemáticas da gestão do governador Renan Filho (MDB) e inclusive foi alvo de três operações de órgãos como a Polícia Federal, que têm apontado a existência de esquemas criminosos e desvio de recursos públicos, envolvendo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesau). Em relatório, o Conselho Estadual de Saúde (CES) apontou 27 problemas que precisam de solução no HGE, a maior parte relacionado a deficiências estrutural, elevadores sem funcional, falta de projeto elétrico e até mesmo sem contar com extintores abastecidos, o que pode provocar uma tragédia e colocar a vida dos pacientes em risco, caso ocorra incêndio no local. Os problemas confirmados e relatados por familiares de pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no HGE, coincide com a última operação na área, a Florence – Dama da Lâmpada, ocorrida há pouco mais de um mês e que desbaratou uma “quadrilha” envolvida no fornecimento de órtese, prótese e materiais especiais (OPME) e que, segundo as acusações apresentadas à Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF), teria desviado aproximadamente R$ 30 milhões. Esses materiais são justamente os utilizados para a realização de cirurgias em pacientes ortopédicos. A ação envolveu situações de fraudes e desvio de finalidade e recursos no HGE e na Unidade de Emergência do Agreste, em Arapiraca, dois hospitais públicos ligados ao governo do Estado. Em reportagem veiculada na TV Gazeta, nesta última quarta-feira, a trabalhadora autônoma Rosimeire Silva, que sofreu uma queda no banheiro da casa onde mora, em Maceió e danificou o tendão da mão esquerda, no começo do mês, deu entrada no HGE e acabou transferida para outro hospital conveniado, o chamado leito de retaguarda, mas até esta quinta-feira permanecia sem realizar a cirurgia. “O médico marcou e disse que não poderia fazer a cirurgia, porque estava faltando material”, relatou a paciente, que disse sentir dores. Ela está sem conseguir mover dois dedos da mão atingida e com isso segue impedida de trabalhar. “Por conta disso, meus netos e meus filhos ficam passando dificuldades”, relatou. Sem solução para o problema, ela mesma decidiu assinar alta do hospital e voltar para a casa, sem conseguir realizar o procedimento. No HGE, a acompanhante de uma paciente de 94 anos, identificada apenas por Ana – ao fazer a denúncia, pediram para não ter o nome divulgado – mostrou vídeo da tia que quebrou o fêmur e permanece interna no local há aproximadamente um mês, à espera de cirurgia. Ela também confirmou que o procedimento ainda não ocorreu por falta de material. ”O quadro dela está se agravando e ela já apresenta escara nas costas”, lamentou. De acordo com Ana, a informação no HGE era de que a senhora precisava ser transferida para realizar a cirurgia em hospital na cidade de Coruripe. Além de sofrer com a fratura e permanecer deitada todo o tempo na enfermaria do hospital, os idosos no local ainda sofrem com o calor, devido a falta de ar-condicionado, um problema que ocorre desde o ano passado e que inclusive chegou até mesmo a acontecer na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Quem acompanha os pacientes, como é o caso de Ana, os espaços cedidos são pequenos e algumas pessoas dormem em papelão, segundo ela, já que não é permitido a entrada de colchões. Em outro vídeo mostrado na reportagem, outra senhora de 87 anos também aguardava há dias pela realização de cirurgia ortopédica. Ao tomar conhecimento da situação, a defensora pública Manuela Carvalho informou que os pacientes à espera de procedimentos cirúrgicos, ou seus representantes, podem procurar o órgão com laudo das condições de saúde e o pedido de cirurgia, para que o órgão oficie o HGE ao cumprimento das medidas. “Caso não consiga realizar a cirurgia, a defensoria oficia o HGE para que nos enviem as informações necessárias e a partir daí a gente tenta uma resolução administrativa. Não sendo possível, a gente entra com processo judicial, para que aquela cirurgia seja garantida por ordem de um juiz”, reforçou. A defensora reconheceu a existência dos chamados leitos de retaguarda no HGE, que pode transferir pacientes para outros hospitais conveniados, mas ressaltou que nem sempre o atendimento tem acontecido. “Há especificações que essas instituições não englobam, então realmente tem casos que a gente precisa entrar na Justiça”, acrescentou, referindo-se também a outros tipos de cirurgia além de ortopédicas. Ao ser procurado pela reportagem, a direção do HGE não quis se pronunciar e negou que estivesse faltando material para cirurgias no hospital. Afirmou que os casos citados seriam de menor complexidade e que por isso seria necessária a transferência dos pacientes e que a demora para isso era problema dos hospitais conveniados.

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