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Cidades

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO AFETAM PORTADORES DO HIV

Estudo mostra que 64,1% das pessoas já sofreram discriminação por causa terem HIV

Por tatianne lopes | Edição do dia 25/01/2020

Matéria atualizada em 25/01/2020 às 06h00

| Divulgação

Levantamento também revela que muitas pessoas já passaram por situações que envolvem assédio verbal, perda de fonte de renda ou emprego e o mais grave, agressões físicas Em pleno século 21, quase quatro décadas da epidemia do vírus da Aids no Brasil, muitas pessoas, que são portadoras do HIV/Aids ainda sofrem com o preconceito e a discriminação por sua condição. Somente em Maceió, até o mesmo de novembro do ano passado, dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) apontam que, 87 casos foram registrados entre homens, enquanto 26 mulheres foram diagnosticadas com a doença, totalizando 113 novos casos de Aids somente em 2019. Em Alagoas, no ano de 2017, foram confirmados 380 casos de Aids, em 2018, foram 336 registros. Diante desses dados, acredita-se que o ano passado deve ultrapassar o número de casos de Aids em relação a 2018. Quando se fala em pessoas com HIV, foram 798 registros em 2017 e, no ano passado, um total de 775 pessoas notificadas com o vírus. Os dados mais atuais referentes ao ano de 2019 devem ser divulgados apenas entre os meses de fevereiro e março deste ano. Um estudo feito pelo programa das Nações Unidas (Unaids), mostra que 64,1% das pessoas já́ sofreram alguma forma de estigma ou discriminaçã̃o pelo fato de viverem com HIV ou com AIDS. O estudo faz parte do Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS – Brasil, realizado pela primeira vez no país. Ainda conforme o estudo feito com quase 1.800 pessoas, aponta que comentários discriminatórios ou especulativos já́ afetaram 46,3% delas, enquanto 41% foi alvo de comentários feitos por membros da própria família. O levantamento també́m revela que muitas delas já́ passaram por outras situaçõ̃es de discriminação, incluindo assédio verbal (25,3%), perda de fonte de renda ou emprego (19,6%) e o mais grave, agressões físicas (6,0%). O estudo também mostrou que quase a maioria dos entrevistados são pessoas negras e que vivem com HIV, em média, há dez anos. Dados divulgados pelo Ministé́rio da Saúde (MS) no Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2019, mostram que o número de ó́bitos por causas relacionadas à Aids cresceu 22,5% entre a população negra na última década enquanto, entre a população branca, a tendê̂ncia é inversa: queda de 22,2%. Outros 30% dos participantes declararam estar desempregados e quase metade enfrentaram, dificuldades momentâ̂neas ou frequentes para atender às suas necessidades bá́sicas de alimentação, moradia ou vestuário, nos últimos 12 meses.

“BOMBA”

Roberto Marinho, de 54 anos, é professor aposentado e portador do vírus há exatos 16 anos e 2 meses. O vírus foi descoberto em 2003, quando ele precisou ser internado entre a vida e a morte. Marinho conta que chegou a pedir que Deus o levasse embora. Sua transmissão partiu de uma relação sexual sem o uso do preservativo. “Descobrir o problema é como se uma bomba tivesse estourado no meu lar. Você não tem mais pique para viver. Quando eu estava internado, entre a vida e a morte, eu preferia, que naquele momento, Deus me levasse, porque eu sabia as consequências que teria que enfrentar. O ato de as pessoas me abandonarem, das pessoas não me aceitarem, além de que eu descobri que muita gente não sabia do meu relacionamento amoroso. Foi uma descoberta muito triste e é a pior parte de todo o processo pelo qual passamos”. O aposentado conta que já foi alvo de discriminação muitas vezes, desde que pessoas próximas descobriram sua condição. “Quando alguém sabe que você é portador do vírus, existe uma grande discriminação. As pessoas não te aceitam como antes, alguns familiares e amigos, principalmente. Um dos casos que aconteceu comigo, eu cheguei em determinado lugar e alguém, por saber o que acontecia comigo, não me deixou tomar água em copos que outras pessoas utilizavam, a pessoa me ofereceu um copo descartável. Isso, para mim, é cruel, mas às vezes também é falta de conhecimento”, lamentou.

DESAFIO

De acordo com o estudo, para 81% das pessoas entrevistadas ainda é muito difícil revelar que vivem com HIV. A maioria das pessoas responderam que não têm boas experiências ao revelar sua condição positiva para o HIV a quem não é próximo. Vizinhos e vizinhas foram as pessoas que, com mais frequência (24,6%), souberam dessa condição sem o consentimento das pessoas vivendo com HIV. Cenário semelhante foi relatado entre colegas de escola (18,2%), professores e demais profissionais do ambiente escolar (15,3%). Em geral, o preconceito está diretamente ligado ao medo de ser deixado de lado.

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