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PROFISSIONAIS QUE ATUAM NA LINHA DE FRENTE CONTRA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS RELATAM DESAFIOS

A pandemia do novo coronavírus levou incerteza e medo aos países de todos os continentes. Para conter o avanço da doença, a principal medida recomendada pelos órgãos de saúde é o isolamento social, até daqueles que não estão nos grupos de risco. Quem não

Por regina carvalho | Edição do dia 04/04/2020

Matéria atualizada em 04/04/2020 às 07h49

| Assessoria

A pandemia do novo coronavírus levou incerteza e medo aos países de todos os continentes. Para conter o avanço da doença, a principal medida recomendada pelos órgãos de saúde é o isolamento social, até daqueles que não estão nos grupos de risco. Quem não pode ficar em casa por desempenhar atividades essenciais fala nessa reportagem sobre equilíbrio emocional, saudade da família e desafios. 

Alagoanos que seguem trabalhando normalmente em tempos de pandemia compõem uma força tarefa que tenta frear a Covid-19. Esses profissionais estão longe de casa, expostos à contaminação e engrossam uma massa de cidadãos que ainda tenta entender o que está acontecendo. Se manter a saúde mental nesses dias é importante para quem está em quarentena, faz toda a diferença para quem vai cuidar de outras pessoas.

Mesmo acostumada a uma rotina de trabalho bem diferente da maioria dos alagoanos, Patrícia Tavares, coordenadora de enfermagem da Área Vermelha do Hospital Geral do Estado (HGE), vive um dos momentos mais desafiadores. "Estar na linha de frente é ter necessidade de buscar conhecimento técnico de uma patologia nova, pouco conhecida. É ter equilíbrio emocional, trabalhar em equipe, atendendo a população com segurança", define a enfermeira. 

A enfermeira Patrícia Tavares fala sobre os desafios do dia a dia, na principal unidade de saúde de Alagoas. "Reconhecer a nossa missão como profissional de saúde, administrar a ansiedade, a angústia e o medo diante do novo. Zelar pela minha família, que está em casa, e prestar assistência ao próximo com ética, responsabilidade e humanização", acrescenta.

O momento é de união, diz médico

Foto: Assessoria
 

O médico intensivista do Hospital de Emergência do Agreste, Felipe Santos, conta à reportagem que as equipes da unidade estão em intensa preparação e muitos colegas médicos e de outras especialidades  trocam informações sobre o novo coronavírus. "É um momento de união muito grande. O cansaço existe, saudade da família também. Não sabemos ainda como será nos próximos dias. É uma doença nova, então não  há experiência para ser passada além da que vemos no Sudeste do Brasil. Para mim, que sou cristão, é como se Deus estivesse dizendo para a humanidade que sozinhos não  podemos fazer nada, precisamos de Deus sempre para nos ajudar, mas precisamos do próximo  também, uma pandemia não se controla só com hospitais, é o bom senso de cada um que deve ser fortalecido também. Mais do que nunca precisamos um do outro", afirma.

Felipe Santos lembra que o treinamento da equipe para atender uma doença  nova - como o caso da Covid-19 - pode ser algo desafiador. "Temos que lidar com ansiedade de alguns profissionais e algumas vezes ânimos exaltados de colegas por conta desta pandemia que mudou a vida de todos nós. Particularmente, reduzi o contato social, cumprimento as pessoas de longe, mantenho de 1 a 2 metros  de distância, só saio quando é necessário e lavo as mãos  sempre. E em outro momento o uso do álcool em gel", explica o médico intensivista. 

Precaução para evitar a contaminação

Patrícia, a coordenadora de enfermagem do HGE, revela quais precauções está tomando para não ser infectada. Em primeiro lugar a higienização das mãos corretamente, em uma frequência bem maior que antes, com água e sabão ou com álcool em gel a 70%. "O uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) durante todo o plantão, também a não utilização de adornos. Antes de sair do hospital tomo banho e minhas roupas são recolhidas separadamente e lavadas sem contato com outros vestuários (o sapato eu acondiciono na entrada do apartamento em uma caixa exclusiva para ele). Minha alimentação está sendo mais saudável para manter minha imunidade elevada. E tenho fortalecido minha espiritualidade e meu emocional", explica.

Nesse momento de pandemia, a servidora do HGE - Patrícia Tavares - lembra aos alagoanos sobre a importância de respeitarem as orientações dadas pelas autoridades da área de saúde. "Busquem ter uma educação coletiva, zelando pelo próximo como a si mesmo. Respeitem o isolamento social. Aumente a higiene dentro de casa. Mantenha a alimentação saudável. Não divulguem informações não oficiais. Busquem equilíbrio emocional. Tenham fé. Promovam boas energias e ideias e utilize desse momento para estar com sua família de forma saudável".

"Liderar já é difícil e nos dias atuais tem se tornado bastante complicado, pois temos que ter equilíbrio emocional para administrar as ansiedades e os medos de todos os que fazem parte da equipe. Preciso achar uma forma de mostrar a nossa equipe que nesse momento estamos todos juntos, seguindo nossa missão, com compromisso, segurança, tranquilidade e sabedoria para administrar as adversidades",  conclui a coordenadora de enfermagem do HGE, Patrícia Tavares.

Momento é desafiador, diz enfermeira

Patrícia Costa Lima é enfermeira da UTI do Hospital Hélvio Auto, unidade referência no tratamento de doenças infectocontagiosas. Ela conta que o momento atual de alerta contra o coronavírus é desafiador. "É um processo desafiador. De primeira fiquei assustada com tanta informação ao mesmo tempo. Mas à  medida que o tempo passa, apesar de estarmos entrando na fase de pico da epidemia no Brasil, sinto-me mais preparada. Tenho uma sensação de orgulho por poder ajudar ativamente no enfrentamento de uma doença grave".

A reportagem pergunta quais os desafios do dia a dia no exercício da profissão em hospital, quando o mundo está em alerta para conter o coronavírus. "Meu maior desafio hoje é manter a segurança emocional para conseguir orientar e diminuir a ansiedade da equipe que é comum acontecer nesses momentos críticos. Desde que o hospital tomou conhecimento da epidemia, lá no final de dezembro 2019 e início de janeiro, quando ainda era restrita à China, fizemos reuniões com todas as coordenações setoriais e direção do hospital para traçar estratégias de enfrentamento a uma possível pandemia. Posteriormente essas ações foram e continuam sendo repassadas diariamente à equipe que está na linha de frente, através de treinamentos, simulações e acolhimento das dúvidas dos servidores, na atuação contra a covid-19".

Patrícia explica que nesse momento há um grande desafio que é o de desmistificar as fakes news que difundem informações inverídicas e só trazem insegurança a todos. "A preocupação  com adoecimento da equipe dos colaboradores permeia diariamente nossa mente. No momento o cenário do nosso hospital está bem favorável a essas  inquietações, porém sabemos do cenário mundial". 

Sobre as precauções para não ser infectada, explica que prioritariamente é preciso respeitar o isolamento social. "Só saio para trabalhar e volto diretamente para casa. A higiene é outro ponto crucial. Devemos cultivar uma cultura de segurança para nós, nossa família e a nossa comunidade.  A higienização das mãos seja com água e sabão seja com preparação alcoólica deve ser feita a todo o momento", diz. 

Cuidados com a equipe

No ambiente hospitalar, segundo a enfermeira, foi instituído o Programa Adorno Zero (para evitar o uso de acessórios). "Também solicitamos que servidores cuidem uns dos outros na hora do atendimento ao paciente, ou seja,  o servidor visualiza se o outro está colocando e retirando os  EPI’s  com segurança para não correr o risco de contaminação. Tentamos ao máximo que seja de forma multiprofissional essas orientações. O enfermeiro orienta o fisioterapeuta, que orienta o técnico de enfermagem que orienta o médico, o fonoaudiólogo que orienta o pessoal da limpeza e assim vai...como uma engrenagem... Se uma peça errar todos erram. Todos são importantes no sistema", afirma.

Patrícia Costa orienta os alagoanos sobre condutas importantes durante a pandemia da Covid. "Façam o isolamento social, não superlotem as instituições de saúde sem necessidade, façam a higiene das mãos. Não repassem áudios, vídeos ou conteúdo que não seja oficial. Trabalhe conosco. Essa é uma luta de todos nós", finaliza a coordenadora de Enfermagem da UTI do Hospital Escola Dr. Hélvio Auto. 

A incerteza sobre a pandemia

Foto: Assessoria
 

O cabo PM Caynã Gazele, do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha (BPRp), também passa por momento profissional diferente, quando uma pandemia impõe severos limites a cada cidadão por onde a Covid-19 faz vítima. "Como policial militar sei da minha missão desde a primeira vez que vesti a farda. No entanto, é uma situação que jamais imaginei passar, mas como as demais será mais uma missão cumprida. Sair de casa em tempos onde a recomendação é manter o isolamento social me traz preocupação, pois na rua estou em contato com todo tipo de situação", avalia.

O policial militar Caynã lembra que não dá para saber ao certo se as pessoas têm sintomas e que trabalhar durante a pandemia é uma situação adversa, mas que espera ser mais uma história para contar no futuro dentre tantas que o serviço operacional já proporcionou. "O maior desafio é manter o serviço operacional, já que em tempos 'normais' já  demanda bastante controle com o fato de ter que deixar a família em casa e depois ter  que voltar após ter contato com outras pessoas. A natureza do trabalho mudou um pouco, mas é feito com o zelo e responsabilidade de sempre", explica.

Nas ruas, sem proteção, policiais militares estão expostos ao perigo que agora pode infectar num simples contato físico. "Como nem sempre conseguimos estar lavando as mãos, álcool em gel virou a principal arma. As mãos nunca estiveram tão limpas. Uso luvas para realizar abordagens e buscas em pertences, carros e residências das pessoas abordadas. Evito contato físico com os colegas e a manutenção do armamento merece uma atenção ainda maior. Já era nosso padrão e continuamos com as viaturas com vidros baixos e sempre paramos em locais abertos e com circulação de ar", detalha Caynã Gazele.

O policial militar Caynã Gazele diz que ficar em casa deve se tornar um mantra, assim como a consciência da responsabilidade que todos têm nesse momento. "A vida é mais importante que qualquer outra coisa. Nós profissionais da segurança pública estamos nas ruas nos expondo aos riscos do vírus devido à natureza de nosso trabalho e, por isso, contamos com a colaboração de todos para que possamos superar este cenário o quanto antes", diz.

Mais exposto ao risco de contaminação do que muitos alagoanos, explica que no batalhão onde atua seu trabalho ocorre nas áreas com maior incidência de violência. "Ou seja, diariamente estamos em um local diferente. O serviço começa com uma preleção, que é uma conversa geral com a tropa, onde são passadas as áreas de atuação e se há ou não alguma missão específica a cumprir. Logo após vou me armar e equipar a viatura. Depois disso, passamos por treinamento físico, instruções e damos início ao serviço de patrulhamento ostensivo. A partir daí é uma caixinha de surpresa o que vai acontecer. Não há como estabelecer uma rotina", finaliza.

Não somos heróis, diz médico

O Ministério da Saúde, em nota técnica com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), orienta sobre o uso dos equipamentos de proteção individual. A medida é seguida pela equipe do hospital, explica Felipe Santos. "Fora do hospital, é importantíssimo a etiqueta respiratória e lavagem constante das mãos  com sabão. Você sabia que uma pessoa toca muitas vezes na face a cada hora? É normal fazermos isso, quando tocamos nariz, boca ou olhos é aí que o vírus entra. Devemos lavar as mãos  sempre, quando não  houver esta possibilidade usa-se o álcool  em gel. Pessoas que estão tossindo devem usar máscara comum (cirúrgica ) e evitar sair de casa. As máscaras  especiais do tipo N95 e PPF2 são indicadas pelo MS para realização  de procedimentos geradores de aerossóis. E está sendo difícil consegui-las, elas podem fazer falta para os profissionais que realmente precisem. Não  somos heróis. Somos pais, mães, irmãos, filhos, pessoas que em seu dia a dia enfrentam situações difíceis e não  fugiremos desta luta. O que queremos é a ajuda de todos (pois a batalha também é de vocês)", finaliza o médico Felipe Santos.

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