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MULHERES SE DESDOBRAM NO TRABALHO DOMÉSTICO DURANTE A QUARENTENA

Se dedicar unicamente aos afazeres domésticos se tornou uma rotina dura para diversas mulheres durante a quarentena. Isso porque, com a casa cheia, os serviços triplicam, o que demanda muita energia para deixar tudo em ordem. Ana Paula dos Santos, de 28 a

Por Jobison Barros | Edição do dia 01/05/2020

Matéria atualizada em 01/05/2020 às 23h54

Se dedicar unicamente aos afazeres domésticos se tornou uma rotina dura para diversas mulheres durante a quarentena. Isso porque, com a casa cheia, os serviços triplicam, o que demanda muita energia para deixar tudo em ordem. 

Ana Paula dos Santos, de 28 anos, é uma das que se desdobra para se dedicar à família e ao trabalho doméstico no dia a dia. Atualmente desempregada, a jovem é mãe de dois filhos, uma menina de 13 anos e um garoto de 7, e conta que a rotina em casa, antes regrada, agora virou de ponta cabeça. 

“Antes dessa pandemia a rotina aqui em casa tinha suas regras. As crianças dormiam por volta das 21:30h e acordavam cedo para ir à escola. Com esse tempo sem eles, eu aproveitava para tomar café e deixar tudo pronto para quando voltassem. No turno da tarde, no entanto, as crianças se alimentavam, tomavam banho e iam descansar”, disse ela, completando em seguida:

“Já com o isolamento, tudo mudou por aqui. Agora acordamos tarde e o café da manhã acontece no horário do almoço. As crianças também estão aproveitando para brincar mais, deixando um tempinho livre para que eu possa arrumar alguma coisa da casa. Porém, confesso que está difícil. Quando termino, já está hora do jantar, e daí mais serviço aparece”. 

Ana paula ressaltou, ainda, que a nova rotina vem mexendo com o emocional da família, o que interfere no comportamento e relacionamento dos três dentro de casa. “Mudar o cotidiano não é bom, ainda mais quando você tem que ficar presa com duas crianças. Aqui em casa, por exemplo, toda essa situação vem mexendo com a minha vida e com a dos meus filhos. Eles começam a brigar, a se estressar e eu acabo gritando com eles, deixando o clima bem pesado. Sem falar que eu tinha o costume de levar eles à praia para diminuir o estresse de quando não estavam bem, mas atualmente isso nem é mais possível”, disse ela, se referindo a medida de isolamento social, imposta pelo Estado, a fim de combater a disseminação da Covid-19. 

A jovem também conta que os afazeres domésticos, a exemplo de lavar pratos e cozinhar, é de sua única responsabilidade, porém, por vez, conta com a ajuda da filha. “Aqui em casa é apenas eu e eles, ninguém mais pra dividir as tarefas e nem os estresse do dia a dia. Minha filha ainda lava um prato ou arruma a cama quando peço, mas, no fim, tudo sobra para mim. Todos os dias tenho que lavar, cozinhar e arrumar toda a casa”, pontuou. 

A rotina da estudante de técnico em enfermagem Jaqueline Godoi, de 40 anos, não é muito diferente da citada acima. Mãe de dois, uma jovem de 21 anos e um adolescente de 16, ela garante que não sobra tempo para descansar, visto que a casa resiste em ficar bagunçada. Com as aulas suspensas, a estudante, agora, se multiplica por dois, para deixar tudo no lugar.

E tudo começa cedinho, às 6:30h, quando acorda e planeja os afazeres de todo o dia. “Quando me levanto da cama, já vou tomando café para dar aquela energia que me acompanha por todo o dia. Meu cotidiano está monótono agora, então não tem nada de muito interessante, apenas cansaço, pois estou sempre lavando, passando e limpando. Sem poder sair de casa, a rotina fica estressante, então me falta ânimo para seguir e aguentar tudo”, falou. 

Ela acrescenta que não conta com a ajuda dos filhos na hora de arrumar a casa, o que deixa tudo mais difícil. “Minha filha trabalha e meu filho vem seguindo uma rotina de estudo online, então tudo sobra pra mim. Sem falar que, com o menino em casa sempre, a bagunça só aumentou. Limpo um cômodo e, meia hora depois, ele já está todo desorganizado. Antes as coisas ficavam mais tempo no lugar, pois quase ninguém ficava em casa”, relembrou ela.  

Maridos em cena 

"Eu realmente não sabia que cuidar de toda a logística de uma casa era tão complicado", quem desabafa é o engenheiro Lucas Santos, de 43 anos. Lucas está tendo uma aula intensiva de tarefas domésticas nessa quarentena. Pela primeira vez, ele cuida da casa e dos dois filhos, de 10 e 13 anos, sozinho. 

A experiência aconteceu no susto. Devido à pandemia e ao decreto de isolamento, o engenheiro passou a trabalhar de casa. Sua, esposa, no entanto, é enfermeira e vem trabalhando normalmente. 

“Temos uma faxineira que vinha duas vezes por semana e, claro, a dispensamos nesse período. Na primeira semana sem ela, fiquei em pânico. Agora criei um método e passei a dividir a tarefa com meus filhos, mas, claro, tenho que passar o dia todo insistindo para que eles façam", conta. 

Antes da quarentena, Lucas "ajudava" em casa, mas não tinha noção do quanto de trabalho que dava, por exemplo, pensar na alimentação saudável dos filhos. “Isso, junto com lavar toda as roupas, guardar, eram coisas das quais eu realmente não tinha noção”, acrescentou. 

No momento, ele cozinha, lava, faz faxina e acompanha as tarefas de escola dos filhos. "Não tenho um minuto livre e passei a entender coisas que a minha mãe e a minha esposa sempre falaram, como: 'não deixa nada bagunçado', 'arruma isso agora'. Entendi que tem fazer na hora mesmo para não acumular e virar um caos”, concluiu.

Trabalho doméstico no Brasil

No Brasil, o trabalho doméstico ainda é quase que uma exclusividade feminina, sejam esposas, mães, irmãs, filhas ou faxineiras. Mulheres, em geral, trabalham fora, voltam para casa, cuidam dos filhos, pensam na comida do dia seguinte, organizam a casa. Segundo dados do IBGE, mulheres que trabalham fora gastam 18,5 horas por semana com tarefas domésticas. No caso dos homens, o número é de 10, 3 horas. As grande maioria das ajudantes também são mulheres.

O Brasil tem 7,2 milhões de empregados domésticos, sendo 6,7 milhões de mulheres e 504 mil homens.





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