Não é de hoje que o transporte público de Maceió enfrenta uma crise e busca alternativas para se reinventar e se adequar à nova realidade, marcada, entre outros pontos, pela concorrência desleal e cada vez maior dos transportadores clandestinos. Em 2020, com a pandemia do novo coronavírus e o isolamento social, os desafios enfrentados pelo setor se tornaram ainda maiores. E os prejuízos também. A redução do número de passageiros, que foi, em média, de 27,4% entre os anos de 2014 e 2019, saltou para 70% durante o mês mais crítico de pandemia. Paralelo a isso, o número de apreensões de veículos que fazem o transporte clandestino na capital cresceu 40% nos oito primeiros meses de 2020, quando comparado com o mesmo período do ano passado, segundo dados da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), o que faz aumentar a suspeita de que a quantidade de pessoas fazendo esse tipo de trabalho ilegal tornou-se maior durante a pandemia. Os números da SMTT mostram que 212 veículos foram autuados de janeiro a agosto de 2019, contra 297 no mesmo período deste ano. Um dos problemas causados pelo transporte clandestino, de acordo com a SMTT, é a formação de congestionamentos ao longo da malha viária de Maceió, pois muitos desses veículos param em locais irregulares e proibidos pela sinalização. Segundo o órgão fiscalizador, o condutor flagrado realizando o transporte irregular de passageiros recebe multa no valor de R$ 293,47 e acumula sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A medida administrativa para estes casos é a remoção do veículo, que só é liberado após regularização junto ao Município. Segundo o superintendente da SMTT, Antônio Moura, “esses veículos clandestinos não possuem nenhuma garantia de segurança, já que a grande maioria dos condutores sequer possui a CNH e muito menos é licenciado pela SMTT para exercer o serviço de transporte remunerado de passageiros”. Na extensa lista de problemas encontrados nesse tipo de serviço pirata, outro fator que também coloca em risco a vida dos maceioenses que utilizam o transporte clandestino é o estado de conservação dos veículos, já que em muitos casos os carros não possuem os itens básicos de segurança obrigatórios exigidos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a exemplo de cintos de segurança e pneus em bom estado. E por que andar de ônibus é mais seguro? “É que, diferente dos clandestinos, os ônibus urbanos que fazem parte do Sistema Integrado de Mobilidade de Maceió (SIMM) são vistoriados e diariamente fiscalizados pelas equipes da SMTT, com o intuito de garantir as devidas condições de segurança e comodidade aos passageiros. Por estarem legalizados junto ao órgão, em qualquer tipo de ocorrência, o cidadão poderá solicitar os seus direitos junt o ao Município. Tal procedimento torna-se inviável quando se utiliza o transporte clandestino”, explica o superintendente Antônio Moura. A migração de passageiros dos ônibus para o transporte ileal e outros meios de locomoção tem sido grande nos últimos anos. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros (Sinturb), em cinco anos - entre 2014 e 2019 - as empresas registraram uma redução equivalente a cerca de dois milhões de passageiros no transporte público de Maceió, e em 2020 esse impacto tornou-se ainda maior, em grande parte decorrente do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Para se ter uma ideia, em janeiro deste ano, o número de pessoas transportadas nos ônibus urbanos que circulam na capital foi de 4.735.450. Em maio, esse quantitativo caiu para 1.727.110. Em agosto, quando houve uma maior flexibilização do isolamento social, o número voltou a subir, chegando a 2.745.406, mas ainda está longe de chegar ao registrado no início do ano. O presidente do Sinturb, Guilherme Borges, alerta para a insegurança ao utilizar o veículo clandestino. “Com o transporte clandestino, os passageiros correm o risco de sofrer acidentes, pois o motorista não tem a qualificação para exercer a função de transportar pessoas. E em casos de algum sinistro, eles não recebem nenhum apoio do proprietário do veículo”, afirma.