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Cidades

ENTIDADES REPUDIAM CASO DE HOMEM NEGRO MORTO EM SUPERMERCADO

Para advogado, é necessário rever a preparação do sistema de segurança por parte de estabelecimentos comerciais

Por Lívia Tenório | Edição do dia 24/11/2020

Matéria atualizada em 24/11/2020 às 04h00

| José Ronaldo/Arquivo GA

Na véspera do Dia da Consciência Negra, um homem negro foi espancado até a morte por dois seguranças brancos em um supermercado da rede Carrefour. Em Maceió, um jovem de 19 anos foi torturado e acusado de furto também dentro de um supermercado. O Instituto do Negro de Alagoas e a Comissão de Promoção da Igualdade Social da OAB/AL repudiam tais atos e cobram Justiça. “O Carrefour responderá pelos danos morais e materiais causados, e sofrerá uma ação indenizatória. A empresa responsável pelos seguranças também responderá, bem como os próprios seguranças que serão julgados por homicídio qualificado. A empresa também responderá com litisconsórcio passivo dessa ação, porque foram os funcionários da terceirizada paga por ele (mercado) que cometeram o crime”, afirma Alberto Jorge, presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Social da OAB/AL. “É necessário que se reveja a preparação do sistema de segurança por parte desses estabelecimentos comerciais. Como homem negro, me senti no lugar daquela família. Também me deixou horrorizado alguns comentários feitos pela população, que tentem incriminar aquele cidadão que foi morto, como se de alguma maneira ele tivesse culpa por sua própria morte”, completou o advogado. Na noite da última quinta-feira (19), João Gilberto Silveira de Freitas, de 40 anos, foi friamente assassinado por dois seguranças do Carrefour. A vítima teria supostamente discutido com a caixa do mercado, e por conta disso um dos seguranças conduziu o homem até o estacionamento, onde começaram as agressões.

O brutal assassinato de João Alberto desencadeou uma onda de protestos em vários estados do País, cobrando a responsabilidade do Carrefour por mais essa vida negra que foi tirada. Uma das filiais da empresa foi destruída em São Paulo, a resposta violenta dos manifestantes demonstra repúdio ao ocorrido e a impunidade que cerca esse tipo de crime, visto que o caso de descaso a vida, não é o primeiro da corporação.

“O Atlas da Violência sempre reforça em números a amplitude do racismo em Alagoas, infelizmente as instituições do Estado não estão dispostas em avançar politicamente na questão racial. Essa apropriação de pautas dos movimentos sociais tem sido comum, “vidas negras importam” é uma frase que carrega um peso político e ancestral muito forte, afinal, a pauta da população negra sempre foi permanecer vivo. É importante que a questão racial tenha visibilidade, mas é importante também, que seja discutida com amplitude”, declarou Geysson Santos, membro do Instituto do Negro de Alagoas. Geysson destaca ainda a importância do movimento negro para as mudanças nas questões raciais. “O racismo é a base de todas as relações que são estabelecidas em nossa sociedade, foi assim que o país foi construído e é justamente por isso a importância de apoiar e contribuir com os movimentos negro, afinal, foram esses movimentos que dedicaram-se historicamente para pensar mecanismos de sobrevivência para a população negra no Brasil.” Em todos os casos, a resposta do Carrefour tonou-se padrão: revisar políticas externas e afastar os agressores. No site do Carrefour, a corporação define seu posicionamento como sendo: “Valorizar a diversidade é cuidar da qualidade das relações que mantemos com todas as pessoas. O que une as pessoas não é o estilo, a etnia, as habilidades, a idade, a orientação sexual, o gênero ou a crença, mas sim, a capacidade de respeitar umas às outras, entendendo as diferenças e semelhanças de cada um”. O lema adotado pela empresa vem sido criticado por ativistas por sua incoerência diante dos fatos. “Não lutamos por integração ou por separação. Lutamos para sermos reconhecidos como seres humanos. Eu acredito em seres humanos, e que todos os seres humanos devem ser respeitados como tal, independentemente da sua cor”, parafraseando o ativista Malcon X, Alberto Jorge completou dizendo que é isso que a OAB/AL através da Comissão de Promoção da Igualdade Social reflete.

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