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Cidades

PAIS RECORREM A REFORÇO ESCOLAR E AULAS PARTICULARES NA PANDEMIA

Famílias e profissionais apontam soluções adotadas para a continuidade do aprendizado nesse período

Por Lucas Rocha | Edição do dia 09/09/2021

Matéria atualizada em 09/09/2021 às 04h00

| Agência Brasil

Uma das fases mais importantes no processo de aprendizagem humana, o direito à alfabetização infantil faz parte da própria condição cidadã. Tendo em vista dar destaque para a necessidade social desse período, a ONU/Unesco criou, em 8 de setembro de 1967, o Dia Mundial da Alfabetização, como forma de instigar reflexões sobre esse processo.

Por causa da pandemia de  Covid-19, desde março de 2020, a educação infantil teve que se adaptar a novas modalidades educacionais. As aulas online dividiram opiniões e foram palco para diversas experiências, mas, se tratando de crianças em processo de alfabetização, no primeiro ano do ensino fundamental, manter atenção e atender às dificuldades de cada um nessa caminhada foi um desafio ainda maior.

É o que conta Maria Emília Soutinho, diretora de um centro pedagógico especializada em apoio escolar na capital, o famoso reforço. Ela explica que, de todas as turmas atendidas pelo centro, o ano da alfabetização nas escolas foi o mai afetado, o que aumentou a busca por apoio escolar por esses pais. “Houve um aumento da procura durante a pandemia, principalmente para as crianças desse período escolar. Foram elas que mais apresentaram dificuldades e deficiência no processo online, são momentos em que elas precisam do contato mais atento do professor, em sala de aula”, esclarece. Na unidade, todas as turmas foram transformadas em atendimentos online individualizados, onde o estudante poderia ter um contato mais atento com o professor.

Mesmo assim, as dificuldades em segurar a atenção das crianças foi constante. “A dispersão era o maior problema. As crianças que possuem mais dificuldade no aprendizado são exatamente as que precisa de uma ajuda maior para manter o foco. Em sala, tínhamos o toque, a fala, estávamos ali chamando a atenção dela. Mas no online não. Qualquer coisa que passe desconcentra, ou quando se levantam para fazer qualquer coisa, tudo isso gera dificuldade”, conta Emília.

Dificuldade sentida em casa pela jornalista Fernanda Alves. Mãe da Isabella de oito anos, que cursa o quarto ano do ensino fundamental, ela decidiu contratar uma professora particular de apoio escolar para a filha, três meses depois do início das aulas online. “Não absorvia direito o conteúdo, principalmente português, ela é ótima em matemática. Então não deixei isso virar um problema, sabendo que ela estava com essa dificuldade eu já fui atrás de ajuda, era um investimento necessário”, conta. Mesmo impactando no orçamento da família, os pais de Isabella seguiram com a abordagem e pretendem manter a professora de apoio, em um turno diferente das aulas da pequena, até o ano que vem. Ela retornou as atividades presencias na escola, em um horário reduzido, há uma semana. “Sei que isso não faz parte da realidade de todo mundo, mas aqui fomos ajustando as contas pra ter essa pessoa, porque educação é prioridade pra nós”, ela destaca.

AULAS EM CASA

Pryscila Carneiro, mãe do pequeno João Moisés, de seis anos, foi ainda mais além, preocupada com a pandemia. Para ele, que passou por todo o processo de alfabetização durante esse período, com uma professora particular, o investimento da família foi essencial para não se perder nesse processo. “Não me senti segura para levá-lo a escola. Em abril de 2020 cancelamos o contrato com a escola e conseguimos, automaticamente, uma professora particular. Fui criticada, e entendo que ele precisa estar na escola, mas a saúde vem em primeiro lugar”, conta a mãe. O menino frequentou o ambiente de creche/escola desde os quatro meses de idade e, agora, só deve voltar a escola em 2022. Pryscila conta que, hoje, o filho já está “quase lendo”, e toda a construção de conhecimento dada pelo professor particular, presencialmente em casa, permitiu que João não atrasasse o seu processo. “Quando vejo esse desenvolvimento dele, não me arrependo”, diz a mãe.

APOIO DOS PAIS

Para todas essas crianças, os horários e responsabilidades, até mesmo no contexto do não presencial, levou os pais a precisarem de um apoio externo e profissional para apoiar o filho na descoberta da linguagem. Mesmo assim, a ajuda dos pais ainda dentro de casa se torna imprescindível para o crescimento do aluno.

“Ficamos de março a agosto de 2020 exclusivamente online. Foi imprescindível que os pais, muitos até em home office, deram um apoio muito legal e depois feedbacks, sobre as atividades e dizendo ‘faz mais disso aqui’, e isso foi muito bom”, contou ainda Maria Emília, sobre as aulas do Centro Pedagógico. Ela opina ainda que as escolas precisaram se remodelar para prender atenção dessas crianças, inseridas no contexto de multitelas e comunicações cada vez mais integradas, e que o impacto da suspensão de muitos trabalhos, por conta da pandemia, terá impactos sociais a longo prazo.

“A escola precisa se modelar para prender novamente. Houve muitos atrasos no processo educacional brasileiro, e nós veremos os impactos disso nos próximos anos. Precisamos nos rearticular para evoluir com nossos estudantes de maneira eficiente”, aponta a profissional. Para a pequena Isabela, foi a disciplina mantida pelos pais que resgaram o rendimento educacional. “Tínhamos a rotina igual a aula presencial, acordava no mesmo horário, tomava banho, colocava uniforme e fazia as quatro horas de aula. Na parte da tarde contratamos a professora e ela passou a gostar de livros e colocar meta de tempo pra ler. Hábitos que fomos nós que colocamos, tinha que ler oito páginas do livro por dia, fazer resumo diária do que foi lido, isso tudo era uma forma de estimular e não ficar com deficiência no e ensino”, salienta a mãe.

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