Cidades
DESTRUIÇÃO DE MATAS, CAPTURA E CAÇA DEIXAM FAUNA DE AL EM RISCO
Ao menos 14 animais exigem atenção especial para que não desapareçam, como ocorreu com o mutum


O movimento silencioso de destruição das matas nativas e a prática da caça e captura de animais tem feito com que muitos, que antes poderiam ser vistos em grande número em Alagoas, tenham sua população reduzida e sob risco constante.
Levantamento do Instituto do Meio Ambiente (IMA) aponta para a existência de animais ‘quaseameaçados, vulneráveis e em perigo’. Uma delas é a tartaruga-de-pente, que se enquadra na situação de ‘criticamente em perigo’ e pode desaparecer. Entre as espécies ‘quase ameaçadas’ no Estado, estão o papagaio-verdadeiro, o macaco-prego e a lontra.
A lista de animais em situação vulnerável inclui os pássaros Araponga, pintassilgo-do-nordeste e o pintor-verdadeiro; o roedor mocó e a tartaruga-verde também integram o grupo. Já os animais que se encontram em perigo são o macaco-prego-galego, o tatu-bola-da-caatinga, jararacuçu-de-murici, maçarico-rasteirinho, tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-oliva. Por fim, há a tartaruga-de-pente, que se enquadra na situação de ‘criticamente em perigo’. Em todo o Brasil, na lista dos animais que correm risco, constam quase 700 espécies.
MUTUM E CHOQUINHA
Um animal que ficou extinto na natureza por 30 anos e foi reintroduzido recentemente em área de Mata Atlântica foi o mutum-das-alagoas. A ave protagonizou o primeiro caso na América Latina de reintrodução de um animal extinto a seu habitat natural.
A história do resgate do mutum-das-alagoas começou em 1979, quando um empresário retirou alguns dos últimos exemplares da espécie de uma localidade que seria desmatada. Desde então, a ave vinha sendo mantida em cativeiro. Somente em 2019 pode ser reintroduzida. Na ocasião, seis aves monitoradas por GPS foram soltas na mata nativa.
O desafio imposto a elas foi se alimentar e sobreviver sozinhas, após tanto tempo em contato com o ser humano. Alagoas também abriga um dos animais mais ameaçados de extinção do mundo. Trata-se da ave choquinha-das-alagoas, que hoje só pode ser encontrada na Estação Ecológica de Murici (Esec). Até hoje, foram registradas apenas 17 aves no local e a estimativa é que existam somente cerca de 50 choquinhas-de-alagoas. A ave é considerada endêmica, por ocorrer apenas no fragmento de Mata Atlântica da Esec.
PROBLEMAS
De acordo com a veterinária Ana Cecília, do IMA, um grande problema enfrentado para a preservação das espécies da fauna é a fragmentação dos habitats. “Não existe mais aqui no estado um fragmento de mata contínuo, grande, exuberante, para poder abrigar os animais, principalmente os grandes carnívoros, que antes existiam em Alagoas e hoje não existem mais”, pontua a especialista.
Outro fator que torna a situação mais complicada é a questão da caça e da captura de animais, que é ‘hobby’ para algumas pessoas. “Outro grande problema é a caça, que ainda existe. É uma tradição no Nordeste as pessoas caçarem para comer, mesmo que isso não seja uma questão de subsistência. Além disso, também tem a captura. Muitas pessoas pegam passarinhos para criar em gaiolas. Tudo isso acaba impactando muito na fauna daqui”, completa Ana Cecília.