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COM 16 ASSASSINATOS EM 2021, AL É ESTADO MAIS VIOLENTO PARA LGBTQIA+

Com 4,5 mortes por 1 milhão de habitantes, estado está acima da média nacional, de 1,8 por 1 milhão

Por Mariane Rodrigues | Edição do dia 13/05/2022

Matéria atualizada em 13/05/2022 às 04h14

| Acervo pessoal

Alagoas registrou 16 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2021. O número coloca o estado como o mais violento do Brasil para essa população. O ranking é avaliado proporcionalmente. Em Alagoas, são 4,5 mortes por um milhão de habitantes. Os dados fazem parte de um dossiê elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTQIA+ no Brasil, divulgado ontem.

Um dos casos ocorridos em 2021 teve como vítima o professor e ex-diretor do Museu Théo Brandão Jose Acioli Filho, de 59 anos. Ele era homossexual e foi encontrado morto no dia 16 de setembro do ano passado, dentro da própria residência, localizada no bairro de Jaraguá, em Maceió.

O suspeito de matar José Acioli foi preso no dia seguinte. Segundo as investigações, o autor matou para roubar. O carro do ex-diretor havia sido levado pelo jovem, que, após cometer o crime, ainda utilizou o celular da vítima e se passou por ele. Há suspeitas de que Acioli e o acusado teriam um envolvimento afetivo.

O exame de necropsia divulgado naquele período pelo Instituto de Medicina Legal (IML) aponta que José AciolI foi espancado e estrangulado antes de morrer. A causa do óbito foi asfixia por meio mecânico.

O IML ainda informou que o professor apresentava hematomas com equimoses, que foram provocados por ação contusa, comprovando que ele foi espancado antes de ser morto, além de “lesões em partes do corpo, como a cabeça, que foram provocados por um instrumento cortante.”

Outro caso conhecido é da transexual Alessia Rodriguez, que foi assassinada aos 20 anos. Ela fazia programa e foi morta por um cliente dentro do próprio apartamento, no bairro de Cruz das Almas, parte baixa de Maceió, no dia 19 de fevereiro de 2021.

De acordo com as investigações policiais na época, a mulher trans foi asfixiada pelo cliente porque pegou o celular dele como garantia de pagamento, já que o homem não queria quitar o débito pelo programa realizado. Alagoas, além de ser o primeiro em violência contra a população LGBTQIA+, também tem o índice superior ao apresentado na média nacional, que foi de 1,48 mortes por um milhão de habitantes.

No ranking de violência, depois do estado alagoano, com 4,7 mortes por um milhão de habitantes, estão Mato Grosso (3,36) e Mato Grosso do Sul (3,17). Quatorze estados, além desses três, estão com índices acima da média nacional. “Alagoas, o estado mais violento contra a população LGBTQIA+ em 2021, em termos proporcionais, e também o que apresenta o pior IDH do país.

Em 2017, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, Alagoas possuía um IDH de 0,683, considerado médio e comparável ao de alguns países africanos”, pontua o relatório do Observatório.

Para o presidente do Grupo Gay de Alagoas, Nildo Correia, a principal causa que coloca em risco a vida da população LGBTQIA+ é a falta de oportunidades, que faz com que essa população busque meios de vida que a põem em situação de vulnerabilidade. “Muito triste toda essa situação de violência, que não para. É triste, inclusive, ver a omissão dos gestores, pois falta de políticas públicas afirmativas. E esses números só tendem a crescer”, lamenta Correia. Ele acrescenta que a empregabilidade é uma das maiores deficiências para essa população.

SSP confirma 5 assassinatos em 2022

A Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP) confirma que nos quatro primeiros meses do ano, Alagoas contabilizou cinco assassinatos desse grupo. 

 "É preciso que haja outros mecanismos que deem a eles outros meios de vida, que não seja a prostituição e que, infelizmente acaba empurrando essas pessoas para a vulnerabilidade", afirma. 

Segundo Nildo Correia, a maioria dos assassinatos envolvendo a população LGBTI+ ocorre em decorrência das drogas ou acertos de contas. "Mas daí precisamos fazer uma reflexão do por quê. Pois muitos são expulsos de casa, deixam a escola cedo, entre outros meios que acabam os desestabilizando". 

Para o dossiê elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+, Alagoas é considerado estado emblemático, porque relaciona à violência com os baixo índice de Desenvolvimento Humano. E afirma que é preciso mais ação do estado. 

"O caso de Alagoas é emblemático por evidenciar que uma população em condição de vulnerabilidade, com acesso limitado a direitos elementares, como saúde, educação, emprego e renda, tende a ser mais violenta. Com essa afirmação não pretendemos fazer uma associação direta entre pobreza e criminalidade, o que seria falso e discriminatório, mas chamar a atenção para a necessidade de ação do Estado em locais desprovidos de recursos básicos e que, infelizmente, tornam-se inseguros, das mais variadas formas, para a sua população". 

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