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Nº 5821
Um passaporte para o mundo

ESTUDANTES DOMINAM O INGLÊS E CONQUISTAM NOVOS ESPAÇOS

Alunos já colhem os frutos com participação em projeto de intercâmbio na Inglaterra

Por Carolina Sanches | Edição do dia 06/07/2024

Matéria atualizada em 06/07/2024 às 04h00

Na zona rural de Capela, no interior de Alagoas, mora a jovem Iasmin Gabrielle, de 17 anos. Aluna de escola pública, ela decidiu enfrentar o desafio de aprender Inglês durante a pandemia. Sem recursos sofisticados ou professores especializados, mergulhou de cabeça e criou seu próprio método.

Eram videoaula, livros de gramática, séries, músicas e podcasts. Iasmin não apenas aprendeu o idioma, mas descobriu que o Inglês é uma janela para o mundo.

“Ele não apenas amplia minhas oportunidades de comunicação e aprendizado, mas também me permite acessar diferentes culturas, ideias e experiências. A proficiência na Língua Inglesa, que é universal, é uma ferramenta poderosa para o crescimento pessoal e profissional de qualquer um que invista nele, e tenho muito orgulho de poder dizer que sou testemunha disso”, ressalta a estudante.

Assim como para Iasmin, o aprendizado de Inglês está se tornando uma ferramenta poderosa para estudantes da rede pública em Alagoas. Muitos deles, mesmo enfrentando desafios socioeconômicos, estão alcançando níveis intermediários e avançados no idioma. Mais do que uma nova gramática e vocabulário, eles agora têm uma nova perspectiva de futuro e já colhem os frutos do empenho nos estudos.

Para muitos, viajar para outro país e praticar o Inglês é um luxo inatingível. No entanto, programas como o “Daqui pro Mundo” estão mudando essa realidade. Através dele, 50 estudantes da rede estadual fizeram um intercâmbio internacional em maio deste ano.

Iasmin foi um dos selecionados no programa, coordenado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc), levou adolescentes - com a média de idade de 16 e 17 anos - para uma imersão em língua inglesa no Reino Unido custeados pelo Governo de Alagoas. Lá, os estudantes se dividiram em 4 grupos, com monitoramento de um professor cada, e ficaram em 4 cidades diferentes, Brigton, Canterbury, Oxford e Cambridge.

Uma das etapas de seleção era um conhecimento no nível básico do Inglês, que foi medido através de uma prova de proficiência. “O perfil desses estudantes era de jovens interessados e envolvidos em outras ações da rede, a exemplo de medalhistas em Olimpíadas de Matemática, estudantes que já haviam publicado livros e gremistas”, relata Leandro Lima, Gerente de Programas e Projetos da Rede Estadual de Educação.

O gerente explicou que a seleção do programa foi realizada em duas etapas, na primeira o estudante tinha que comprovar média 8 nas disciplinas: Matemática, Língua Portuguesa e Língua Inglesa, além de ter frequência mínima de 80% no ano anterior ao programa e ter sido aluno da rede pública nos últimos três anos.

Os estudantes ainda foram contemplados com um curso de Inglês em formato on-line, quando fizeram dois meses de intensivo antes da viagem e, ao retornarem do intercâmbio, completaram o curso.

Os métodos de ensino abrangem leitura, escrita, fala, audição, gramática e vocabulário. As aulas eram ministradas de segunda a sexta, das 9h às 15h. A escola ainda oferecia Walking Tour semanal para fosse apresentada aos estudantes a parte cultural da cidade e do país.

Iasmin conta que se empenhou muito para conseguir a aprovação. “Quando fiz a prova, e cheguei em casa, comecei a corrigir e já vi que já tinha 90% de acerto. Dois dias depois, recebi a lista com o nome dos aprovados e o meu estava lá. Literalmente, foi a melhor notícia que eu poderia receber”, lembra.

A adolescente fala que era algo nunca esperado. “Foi uma experiência incrível que nem eu consigo acreditar que vivenciei. Como eu já estava familiarizada com o Inglês, não enfrentei grandes desafios, apenas algumas dificuldades com o sotaque no início, mas nada que não pudesse ser entendido pedindo para repetirem algumas vezes. Fora isso, foi tudo bem tranquilo”, afirma.

NOVOS HORIZONTES

Aprender Inglês não é apenas sobre gramática e vocabulário. É sobre entender diferentes pontos de vista e se conectar com pessoas de todo o mundo. Para os alunos, a experiência na Inglaterra proporcionou não apenas aprimoramento linguístico, mas também uma imersão na cultura britânica. Além das aulas, eles visitaram lugares como museus e conheceram pessoas de diferentes origens.

“O conhecimento de um novo idioma pode proporcionar muitas oportunidades para estes estudantes, desde um incremento no currículo até o ingresso em faculdades internacionalmente conhecidas. E quando eles entendem isso, novos horizontes se abrem para eles”, disse Leandro.

Ao invés de bom dia, ‘good morning’

Caiu a ficha de que eu estava ali quando, me arrumando pra uma escola nova, eu desci pra cumprimentar a família e, ao invés de ‘bom dia’, recebi um ‘good morning’”, destaca a adolescente Thafnnes Pires Ramos de Souza, de 16 anos, sobre a estadia no formato Homestay, quando famílias receberem estudantes de toda parte do mundo que estejam em busca de aprender a língua local.

Esse foi o formato da estadia dos alunos de Alagoas que fizeram intercâmbio pelo programa. A Thafnnes cursa o 3º ano do Ensino Médio, na Escola Estadual Maria das Graças de Sá Teixeira, no bairro do Feitosa, em Maceió. Ela estudou Inglês dos 8 aos 12 e, atualmente, se considera em um nível avançado. Ser selecionada para o intercâmbio, para ela, foi uma oportunidade que jamais tinha imaginado.

“De início, achei um pouco difícil pelo sotaque rápido e puxado de algumas pessoas, porém, consegui me acostumar e aprender a conversar de forma mais aproximada como um nativo”, diz.

Sobre os estudos, ela disse que teve professores nativos, mas também de outras nacionalidades. “Eu, por exemplo, tive uma professora portuguesa. Jogávamos kahoot (um quiz de perguntas sobre o conteúdo) e várias outras atividades interativas. Um grande aprendizado”, conta.

Com o intercâmbio, ela pode aprimorar a fala e escrita do Inglês e criar  perspectivas para o futuro. “O conhecimento adquirido ajudou muito no meu desempenho. Consegui escolher em qual dificuldade focar para ter uma melhoria. Irei finalizar o curso da escola de Inglês que foi disponibilizado para os  intercambistas e depois, quem sabe, encontrar um emprego como professora”, expõe.

Inclusão

O “Daqui pro Mundo” também contou com a participação de estudantes com Transtornos do Espectro Autista (TEA). Um deles foi Danilo José Barbosa da Silva, de 19 anos, que estuda na Escola Estadual de Educação Básica Prof. José Quintella Cavalcanti, em Arapiraca, onde ele mora.

O adolescente conta que ficou no grupo para Cambridge, uma cidade na Inglaterra. “O mais legal é que, aprender uma nova língua - no nosso caso, o Inglês - te possibilita abrir um leque de comunicação e também de emprego no mundo”, ressalta.

Danilo conta que, durante a estadia na Inglaterra, estudava com apostilas digitais, tinha aulas formais, prática e conversação com professores nativos e alunos de outros países.

“Durante o tempo lá, a minha vida mudou radicalmente. O momento que eu considero marcante é a autonomia. Tinha programação e encontros com alunos, além de nós mesmos administrarmos as finanças custeadas pelo governo de Alagoas. E a possibilidade de fazer amigos de outros países é o que mais marcou no grupo pela diversidade e união”, aponta.

Autodidata, o jovem estudante aprendeu Inglês por conta própria e diz que atualmente está chegando ao nível avançado. Para ele, a experiência no intercâmbio foi fundamental para aprimorar o idioma. “Quando você está em um país da língua que está aprendendo e praticando, você absorve mais rápido. Eu tinha desenvolvido uma meta de não falar Português por um mês, o que contribuiu muito e hoje, após o intercâmbio e já voltando as aulas, meu Inglês está mais fluido e desenvolvido”, revela.

Novas expectativas

Sobre o futuro, Danilo diz que pretende continuar aprendendo Inglês e se aperfeiçoando cada vez mais. “Quero alcançar um nível satisfatório, que me sinta confiante para falar, compreender e escrever. Depois do intercâmbio, eu tive mais interesse de conhecer outros países, além de ficar motivado em continuar aprendendo e praticando”, diz.

O sentimento da Thafnnes e do Danilo também é o mesmo da Iasmin. “Já tinha em mente à qualidade educacional no exterior e depois de ter vivenciado e visto na prática, fiquei ainda mais consciente dos meus objetivos acadêmicos, sem contar o tanto de aprendizado que absorvi durante todo o período do intercâmbio”, afirma.

A adolescente diz que também busca alcançar o nível avançado no idioma. “Seguimos com as aulas, praticando tudo que aprendemos e aprimorando cada vez mais. Fora o curso, pretendo investir em outras plataformas e dar o meu máximo para conquistar o domínio no Inglês. Tenho certeza que isso vai abrir ainda mais portas e oportunidades, seja no mercado de trabalho ou na minha vida acadêmica”, completa.

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