Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 5693
Irrigação

GOVERNO ABANDONA AGRICULTORES DA BARRAGEM DO BÁLSAMO

Mais de 150 famílias da agricultura familiar esperam na miséria R$ 5 milhões do Fecoep para irrigação

Por Nealdo | Edição do dia 16/11/2019

Matéria atualizada em 16/11/2019 às 06h00

A barragem do Bálsamo foi construída na gestão do então prefeito Helenildo Ribeiro
A barragem do Bálsamo foi construída na gestão do então prefeito Helenildo Ribeiro | Arnaldo Ferreira

“Sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar...”. Este verso da música “Esquinas”, do compositor alagoano Djavan, serve como exemplo para definir o que acontece com 150 produtores da Agricultura Familiar que ocupam mais de 200 hectares das margens da barragem do Bálsamo, no alto do município de Palmeira dos Índios. Lá, ano a ano se vê as tentativas de produção rural se perderem na seca. A barragem fica na divisa com o município de Bom Conselho, em Pernambuco, onde os projetos de irrigação têm água sem parar, garantem produção e trabalho na agricultura o ano inteiro. Enquanto isso, no lado de Alagoas, “floresce” miséria. A barragem foi construída no período de 1992 a 1996, na gestão do então prefeito Helenildo Ribeiro, já falecido. Sempre atendeu mais ao município pernambucano vizinho. A partir do governo Ronaldo Lessa (1999) ficou definido que naquela área teria um projeto de hortifruticultura, incluindo produção de milho, feijão, batata, entre outras. No governo Teotônio Vilela (2007) as discussões foram retomadas. Mas tudo ficou no papel. No governo Renan Filho (MDB) ainda está na fase das promessas dos períodos eleitorais. O projeto hidroagrícola da barragem do Bálsamo está pronto, prevê a implantação de 200 hectares de área irrigada, beneficiando cerca de 150 pessoas que vivem da agricultura familiar. O projeto pode ser ampliado, tanto na área de cultivo como em número de agricultores familiares. Tudo, neste momento, esbarra na vontade política do executivo estadual, acreditam os produtores rurais da região que ainda não perderam a esperança. Entre as culturas aptas a serem desenvolvidas na área do perímetro irrigado, destacam-se inhame, goiaba, batata doce, pinha e hortaliças. Os agricultores planejam também o cultivo consorciado com feijão e milho.

RECURSOS

Setores da agricultura estadual preveem investimentos na ordem de R$ 5,6 milhões, provenientes dos governos estadual e federal, por meio do Ministério da Integração Nacional. Até agora se espera uma posição de Brasília, que alega falta de dinheiro para investimentos.

Em Alagoas, se pensa há quatro anos utilizar recursos do Fundo de Combate à Pobreza (Fecoep), já que envolvem pessoas efetivamente pobres ligadas à agricultura familiar. Se isto realmente acontecer, o governo do Estado ampliaria a funcionalidade da barragem, que atualmente atende mais os agricultores de Pernambuco.

Recentemente, o manancial passou a servir de captação para a adutora que abastece os municípios de Minador do Negrão e Estrela de Alagoas. Mas o projeto original seria destinar a água da barragem para as pessoas da agricultura familiar. Ninguém sabe ao certo se isto realmente vai acontecer, já que o governo promoveu cortes radicais nas pastas da Agricultura e Infraestrutura no orçamento de 2020, que tramita na Assembleia Legislativa. Enquanto o projeto não sai do papel, famílias como a da agricultora Fernanda Borges, que plantou milho, feijão e batata, não vai colher nada. Ela mora a menos de 500 metros da barragem de onde ver a água em abundância. “O inverno este ano foi bom. Mas depois de setembro reduziu a intensidade da chuva, esquentou muito, a pouca água evaporou rápido, a terra ficou seca. Resultado: o milho não se desenvolveu e as espigas ficaram pequenas. A batata e o feijão também fracassaram por falta de água”, lamentou a agricultora, ao afirmar que a realidade dela é a mesma dos vizinhos. “Tem muita gente se mudando para o outro lado da barragem [em Bom Conselho] porque lá tem irrigação e muita água disponível nas lavouras”.

Mais matérias desta edição