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Coronavírus

CONCESSIONÁRIAS ESTIMAM PERDA DE R$ 200 MILHÕES COM DECRETO

álculos do setor estimam que até 3 mil veículos deixem de ser vendidos em Alagoas no período

Por william makaisy | Edição do dia 02/04/2020

Matéria atualizada em 02/04/2020 às 07h53

Concessionárias alagoanas estimam perdas milionárias com a prorrogação de decreto
Concessionárias alagoanas estimam perdas milionárias com a prorrogação de decreto | Ailton Cruz

As consequências do decreto do governo de Alagoas, que fechou vários estabelecimentos considerados não essenciais para a população devido a pandemia da Covid-19, estão sendo sentidas por todos os setores da economia alagoana, incluindo o segmento de venda de veículos. Para o setor de concessionários e distribuidores de veículos de Alagoas, a previsão é que cerca de R$ 150 milhões a 200 milhões sejam perdidos e deixem de entrar na economia alagoana. As consequências do decreto do governo alagoano para as concessionárias são imensuráveis até o momento, segundo Luiz Pires, presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Alagoas (Sincovid-AL). “Esse decreto afetou gravemente o setor concessionário de Alagoas. As vendas caíram e o lucro diminuiu. Por ora, ainda é imensurável o quanto o setor vai ser prejudicado com esses dias sem funcionamento, mas sabemos que o prejuízo será grande”, disse. Apenas com as notícias sobre a disseminação do novo coronavírus o setor em Alagoas já vinha sentido as baixas. Após o decreto de fechamento por mais oito dias, o prejuízo pode chegar a casa dos milhões. “Nosso setor costuma vender cerca de 2 mil carros por mês, e até o dia 20 de março, apenas com as notícias que estavam saindo, nós fechamos aquele período vendendo apenas 500 carros, ou seja, uma diminuição de mil e quinhentos veículos. Depois do decreto que nos fez fechar as portas, nossa estimativa é que o segmento perca de 2 mil e quinhentos a 3 mil carros. Isso em valores seriam cerca de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões que o setor deixa de injetar na economia de Alagoas”, informou o presidente do Sincovid-AL. Com a incerteza de abertura do comércio passado os oito dias do novo decreto, mediante a situação do coronavírus ainda não ter sido controlada, o setor já considera o mês de abril como possivelmente perdido, levando a economia do estado de Alagoas a sofrer os danos mais severos.

SUSPENSÃO

Diante do fechamento das portas das concessionárias, os pedidos as distribuidoras tiveram que ser interrompidos. “Todos os pedidos foram suspensos e grande parte das montadoras deram férias coletivas do dia 20 de março ao dia 20 de abril, sendo 30 dias sem produção. As associações de marcas entraram em contato com as montadoras e todos os pedidos foram suspensos. Na volta, após o decreto, iremos trabalhar com o estoque remanescente nas fábricas”, explicou Luiz Pires. Ele reforça ainda que a incerteza sobre a normalização e a volta aos serviços é grande, uma vez que o setor não sabe se haverá demanda, que tipo de serviço terão que desenvolver e qual será o perfil que os novos consumidores irão apresentar após esse período longo de recessão.

NOVOS DESAFIOS

O presidente do Sincovid-AL entende que o desafio que vem pela frente será grande, por conta da descapitalização das empresas, que não estão, em grande parte, conseguindo pagar a folha de funcionários. “Além da descapitalização das empresas e do compromisso com a folha de funcionários, temos também os tributos. Alguns prorrogaram o pagamento, mas outros ainda tiveram que ser pagos no dia 20 de março. Então chegamos em um nível de redução salarial e demissão de pessoas, que é onde o desafio real se encontra”, relatou Luiz Pires. “Teremos um redução no poder aquisitivo do consumidor, que é onde a situação realmente complica. Qual perfil de consumidor teremos após esse período? E que período será esse? Maio? Junho? julho? Quando a economia vai se restabelecer? Esse é o grande desafio que iremos ter que enfrentar. Estamos aguardando ansiosamente que esse decreto seja ao menos flexibilizado para que possamos voltar a funcionar, mesmo que de uma forma diferente de antes”, encerrou o presidente.

SETORES

A preocupação das concessionárias alagoanas se soma a outros setores. Como a Gazeta de Alagoas mostrou na edição de terça-feira, 31, somente o setor de turismo estima um prejuízo de R$1,5 bilhão nos próximos nove meses em decorrência da pandemia do coronavírus, que fechou cerca de 90% dos meios de hospedagens e paralisou quase que totalmente as atividades turísticas no estado. Os dados - feitos pela Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Alagoas (ABIH-AL) e Maceió Convention & Visitors Bureau (MV&VB) - levam em conta a ocupação média anual, oferta de leitos e despesa média por turista, que juntos devem anular a geração de receita nos meses de abril, maio e junho. Segundo o levantamento, o prejuízo sem precedentes considera a perda total de uma ocupação média de 70% no segundo trimestre e de metade dessa ocupação no terceiro, em uma oferta de aproximadamente 40 mil leitos, que inclui hotéis, pousadas, segundas residências e imóveis de locação destinados ao turismo, além de um gasto de R$ 350 por turista ao dia. Para o presidente do MC&VB, Glênio Cedrim, a análise pode resultar em uma previsão ainda pior, já que o cenário é nebuloso. “Além de não haver previsão para que tudo se normalize, o nosso produto é totalmente perecível. Ou seja, o que deixamos de vender não estocaremos nem produziremos mais tarde e, sendo assim, nosso prejuízo será bem maior do que o calculado. Em abril, maio e junho devemos perder toda a ocupação prevista, enquanto em julho, agosto e setembro haverá uma redução de no mínimo 50%. Mesmo no quarto trimestre, ainda perderemos cerca de 25% da ocupação”, relata. Além do turismo, o comércio alagoano também sente o peso da prorrogação do decreto. Apesar da flexibilização de parte das medidas para conter o avanço do novo coronavírus em Alagoas, a prorrogação do decreto de emergência vai agravar os prejuízos no comércio. O centro da capital alagoana gera mais de sete mil empregos diretos, sem contar ambulantes e feirantes, segundo dados da Aliança Comercial. O descontentamento de lojistas do centro da capital deve-se ao fato que agências bancárias, feiras livres, supermercados e lotéricas continuam funcionando normalmente, mesmo que registrem aglomeração. “Eu mesmo tinham que ir ao banco, mas desisti porque tinha muita gente. Vejo um momento de estabelecimentos funcionando normalmente e só quem paga o pato é o comércio. Acredito que esse decreto será prorrogado de novo, não ficará somente nesses oito dias”, afirma Guido Júnior, presidente da Aliança Comercial. Segundo Guido Júnior, parte dos lojistas não deve retomar as atividades quando os serviços voltarem à normalidade. “Está tudo parado no comércio, chegamos a discutir uma proposta de que o Centro funcionasse das 9 às 16 horas e o shopping de 12 às 20 horas, mas não avançou”, acrescenta o empresário.

* Sob supervisão da editoria de Economia.

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