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Empresas

FIM DO AUXÍLIO EMERGENCIAL DEIXA PEQUENOS NEGÓCIOS VULNERÁVEIS EM AL

Pagamento do benefício injetou R$ 292,9 bilhões na economia, dos quais R$ 5,4 bilhões foram distribuídos entre alagoanos

Por Hebert Borges | Edição do dia 09/01/2021

Matéria atualizada em 11/01/2021 às 15h18

Thiogo Lima diz que já sente a queda no consumo nos primeiros dias deste ano
Thiogo Lima diz que já sente a queda no consumo nos primeiros dias deste ano - Foto: Acervo pessoal
 

Empresários do comércio popular de Maceió começaram o ano temerosos quanto ao desempenho das vendas. Isso porque, junto com 2020, terminaram também os pagamentos do auxílio emergencial efetuados pelo governo federal a desempregados, trabalhadores informais e microempreendedores individuais. Eles contam que o benefício possibilitou maior poder de compra às pessoas, o que fez aquecer o comércio, principalmente, nos negócios de bairros.

Negócios como a loja de produtos e serviços automotivos de Thiogo Lima, que funciona na avenida principal do conjunto Cleto Marques Luz, no Tabuleiro do Martins. Ele diz que já sente a queda no consumo nesses primeiros dias de 2021. “Nós notamos também que o movimento na nossa loja assim que saiu o auxílio, foi um movimento fora do comum, se a gente for comparar com anos anteriores foi bem melhor. Com esse final a gente já começou a notar uma queda no movimento”, conta.

Lima diz acreditar que o fim do auxílio afete todos os ramos da economia e cobra alguma ação do poder público. “Vai impactar e muito nas vendas, e não só no meu ramo, mas em todos. Notamos que houve uma queda muito grande nas vendas de acessórios. É um pouco preocupante se o governo não tomar medidas para aquecer a economia”, afirma.

O empresário explica o perfil do consumo na loja após o início do pagamento do benefício. “Quando saiu a gente notou uma grande alta nas vendas, seja na venda de acessórios ou na prestação de serviços. Muitas pessoas que outrora não nos procuravam para fazer serviços, procuraram, outras que passavam lá na loja ‘paquerando’ um acessório foi lá e comprou. Então, melhorou muito mesmo, sem comentários, melhorou demais”, revela.

Na pequena mercearia de Daniele Souza, que funciona no conjunto Eustáquio Gomes, no Tabuleiro do Martins, as vendas recuaram 50% na primeira semana do ano, segundo ela. “A maioria dos clientes aqui são jovens que não trabalham e estavam recebendo o auxílio, e a maior parte das vendas é doces e bebidas e também as donas de casa que compram mais durante a semana”, relata.

Ela conta que, como a renda dessas pessoas diminuiu, elas frearam o consumo. “Com certeza o auxílio ajudou, porque pra quem já tinha renda foi um complemento e pra quem não tinha renda nenhuma foi uma grande ajuda. E muitas pessoas gastavam esse dinheiro sem pensar duas vezes, exatamente por ser só uma ajuda de custo”, comenta.

Diante da possibilidade de queda nas vendas, Thiogo Lima já pensa em estratégias para aumentar o público. A presença digital foi a primeira ideia que ele teve. O empresário diz que já está obtendo resultados. “Já estamos ganhando clientes de lá [do Instagram], e vamos em busca disso”, revela. Contudo, ele reforça que é preciso medidas do poder público para fomentar a economia.

BENEFÍCIO

 Economista diz que fim do auxílio emergencial quebrará o clima de “aparente normalidade”
Economista diz que fim do auxílio emergencial quebrará o clima de “aparente normalidade” - Foto: Acervo pessoal
 

Dados obtidos pela Gazeta de Alagoas junto à Caixa Econômica mostram que o pagamento do auxílio emergencial injetou R$ 5,4 bilhões na economia do estado. Em todo o País, foram desembolsados R$ 292,9 bilhões dos R$ 321,8 bilhões aprovados. Com o fim do benefício, houve sobra de R$ 28,9 bilhões, recursos que seriam suficientes para fazer novos pagamentos do auxílio em 2021.

O economista e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Cícero Péricles explica que o fim da vigências do auxílio emergencial deve quebrar o clima de “aparente normalidade” da economia, que para ser mantido dependeria da prorrogação das medidas emergenciais, principalmente do auxílio emergencial e do Programa de Manutenção do Emprego.

Em estudo publicado em dezembro passado, Péricles já alertava que, com a restrição dos recursos para o consumo, a inadimplência e o endividamento tendem a crescer, causando impactos nos setores de comércio e serviços, atingindo, indiretamente, a agricultura, a indústria e a construção, afetando a arrecadação dos municípios e do Estado.

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