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Esportes

DE PREPARADOR FÍSICO A TÉCNICO: CONHEÇA RANIELLE RIBEIRO

Em Alagoas, o agora treinador chegou a trabalhar no CSA, em 2005, e no CRB, em 2006, na preparação física de ambos

Por debora rodrigues | Edição do dia 04/07/2020

Matéria atualizada em 04/07/2020 às 04h00

Maceió 08 de julho de 2005
Ranielle Ribeiro, ex- técnico do ABC, quando era preparador físico do CSA em Maceió. Alagoas - Brasil.
Foto: ©Ailton Cruz
Maceió 08 de julho de 2005 Ranielle Ribeiro, ex- técnico do ABC, quando era preparador físico do CSA em Maceió. Alagoas - Brasil. Foto: ©Ailton Cruz | © Ailton Cruz

Há pessoas que preferem seguir a vida levando um dia de cada vez. Outras optam se planejar e calcular todos os passos. Mas uma coisa é certa: você precisa estar preparado para as mudanças. E foi o que Ranielle Ribeiro precisou fazer. Ele, preparador físico, se viu tendo a oportunidade de atuar à beira do campo, mas como treinador.

Apaixonado por futebol, o potiguar de 40 anos mudou de carreira após oportunidades que surgiram ao longo do caminho. Ele iniciou os trabalhos no ABC, clube do Rio Grande do Norte com mais títulos estaduais no Brasil, mas contou à Gazeta de Alagoas que teve seus momentos vitoriosos em um dos clubes da capital alagoana.

"Trabalhei no CSA em 2005, como preparador físico. Cheguei a ser campeão da segunda divisão do Campeonato Alagoano e conseguimos acesso para a Série A do Estadual. No CRB foi um trabalho curto, em 2006, no final do Alagoano", contou.

Ranielle trabalhou exclusivamente em clubes do Nordeste e, durante sua carreira, percebeu que a torcida da região tem suas particularidades.

"Definição de torcedor é paixão. Essa paixão faz muito bem quando está bem e muito mal quando está tudo mal. O torcedor do Nordeste é peculiar porque ele transcende um pouco e o futebol é muito enraizado na cultura. Eles conseguem demonstrar esse amor e carinho de uma forma mais intensa e natural".

Mas, apesar desse amor e da cobrança da torcida nordestina, o futebol da região ainda é precário. Para Ranielle, isso pode ser explicado pela falta de profissionalização dos dirigentes e disse que Bahia, Fortaleza e Ceará estão conseguindo se destacar nacionalmente justamente pela mudança de gestão. "Somos geridos por pessoas que não entendem da mesma forma que a gente entende, que não têm o conhecimento a nível de jogo. Cheguei a trabalhar com presidentes que eram vendedores, médicos, donos de farmácia. Os clubes que estão se profissionalizando estão melhorando".

Ranielle trabalhou como preparador físico durante 15 anos. Dessa jornada, 12 foram no ABC, onde foi campeão potiguar por duas vezes. E foi lá também que ele começou a carreira de técnico. Membro da comissão permanente do clube, ele ocupava o cargo de treinador sempre que algum outro era demitido, mas nunca havia passado na cabeça dele tornar como oficial essa profissão. Até 2017.

"No final da Série B de 2017, o ABC já estava praticamente rebaixado e faltavam dez jogos para terminar a competição. A direção me pediu para fazer esses jogos como interino, daí botei na minha cabeça que, se eu conseguisse fazer o que alguns treinadores não fazem aqui, gerir o grupo, fazer treinos objetivos, eu repensaria minha carreira. E foi o que aconteceu", recorda.

Ele conta que ser preparador dava estabilidade, mas começou a tomar gosto pelo cargo de treinador e buscou especialização. Mas, apesar de gostar da área, Ranielle diz que a exposição como técnico é muito maior.

"Eu sou vaidoso para me vestir bem, me portar bem, saber chegar e sair dos lugares. Eu sempre tive cuidado com a minha imagem. A única coisa que sinto falta de trabalhar na área da preparação física é o anonimato. Quando você vira pessoa pública, você se torna exemplo, então, precisa estar sempre na linha. Treinador sofre. Trabalhei durante 15 anos ao lado de muitos. Imaginava o que eles poderiam estar passando em nível de desgaste, mas hoje eu realmente entendo".

O agora técnico tem muitas inspirações, inclusive grandes nomes mundiais. Mas Ranielle não esquece de um em especial: Givanildo Oliveira. “Hoje você olha para o Klopp e Guardiola e pensa que eles são diferentes. Mas não gosto muito de idolatrar essas pessoas e esquecer os daqui. Trabalhei com Givanildo Oliveira, maior ganhador de estadual do Brasil e é um cara fantástico em nível de ideia e gestão de clube. O Tite também é uma referência para mim, pela forma como ele gerencia o grupo”.

No começo da carreira, ele trabalhou nas categorias de base. Mesmo com o pouco tempo, percebeu que os garotos não recebem tanta atenção e são colocados como segunda opção, principalmente aqui no Nordeste. Por isso, muitos acabam indo para outras regiões do país arriscar a vida em busca de um sonho.

"Uma das causas para não revelar mais tantos jogadores é não se valorizar tanto a base, principalmente aqui no Nordeste. Muitos garotos saem daqui para clubes do eixo justamente por isso. Também acabaram muitos campinhos de futebol. Antigamente se tinha mais condição de jogar em lugares diferentes e isso formava nossos craques. Por incrível que pareça, essa vivência quando criança fazia com que eles melhorassem as funções motoras. Às vezes, há um esquecimento também em trabalhar os fundamentos e pensam apenas na tática", disse.

Ranielle Ribeiro estava trabalhando no comando do Lagarto-SE, mas, em razão da pandemia do novo coronavírus, foi posto para fora, assim como aconteceu na maioria dos clubes do Brasil.

"Os clubes já tinham dificuldade, imagine agora. Acredito que as empresas [patrocinadores] vão estar priorizando a retomada econômica delas e, talvez, não vejam o futebol como a melhor ferramenta de investimento. Mas, antes de falar do futebol, precisamos pensar como humanidade. Com essa retomada, atletas não devem esperar o mesmo salário que recebiam, comissão técnica também não, porque vai dar uma enxugada para que os clubes possam respirar. Mas meu pensamento é esse: tanto o futebol, como a humanidade, devem voltar de uma maneira mais sensível", finalizou.

* Sob supervisão da editoria de Esportes.

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