Um dos maiores boxeadores do Brasil, José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como “Maguila”, morreu aos 66 anos, nessa quinta (24), em São Paulo. O principal nome da categoria peso-pesado e uma das direitas mais fortes do boxe brasileiro sofria de encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência pugilística.
A morte do ex-pugilista foi confirmada pela esposa, Irani Pinheiro, à TV Record, que agradeceu aos fãs da lenda do boxe e relatou o estado de saúde de Maguila nos últimos dias.
“Obrigada pelo carinho, pelo povo realmente que gosta do Maguila, e sempre admirou. É um dia muito triste para a nossa vida. Ele ficou 28 dias internado e a gente procurou não ficar falando com a imprensa. Sempre procurei cuidar da minha família e não ficar divulgando, em rede social, o que estava acontecendo. Acho que é o momento de cada um. Maguila já havia 18 anos que estava com a encefalopatia traumática crônica, mas há 30 dias foi descoberto um nódulo no pulmão. Ele sentiu muitas dores no abdômen, foi retirado praticamente quase dois litros de água do pulmão. Ele já estava fazendo o tratamento, não conseguimos fazer a biopsia, porque ele já estava um pouco debilitado. Então ele vem sofrendo faz já 18 anos e a gente nessa luta com ele, tentando dar uma qualidade de vida melhor. Agradeço ao carinho de todos, pessoas que realmente amam o Maguila e sabem que a doença é complicada. A gente tentou fazer o melhor”, disse Irani.
TRAJETÓRIA
Maguila começou no esporte aos 21 anos. Quatro anos depois, conquistou seu primeiro título brasileiro, em 1983. No ano seguinte, foi campeão sul-americano. Em 1995, conquistou o cinturão da WBF. Cinco anos depois, encerrou a carreira. Seu apelido é uma comparação com um personagem de desenho animado.
Nascido em Aracaju-SE, nos 17 anos em que lutou acumulou um cartel de 85 lutas, 77 vitórias (61 por nocaute), sete derrotas e um empate técnico. Entre os confrontos mais especiais, encontram-se nomes como Evander Holyfield e George Foreman. Além disso, conquistou diversos títulos, entre eles, Brasileiros, Sul-Americanos e o Mundial da WBF (Federação Mundial de Boxe).
Maguila morava em São Paulo desde os 14 anos, quando veio de Aracaju. Ele começou a trabalhar na capital paulista como ajudante de pedreiro, onde chegou a passar fome, conforme disse no documentário “Maguila”, de Galileu Garcia, lançado em 1987.
“Fiquei amarelo, pálido. Foram três meses (comendo) pão com banana. Minha morada era um caminhão abandonado no Butantã, desses que carregam entulho. Quando o dono descobriu que eu dormia lá, tirou o caminhão, e eu fiquei (dormindo) no poste”, disse Maguila, à época.
POPÓ SE DESPEDE
Acelino Freitas, o Popó, se manifestou sobre a morte de Maguila. Em publicação no Instagram, Popó relembrou um momento em que eles estiveram juntos para uma propaganda.
“Descanse em paz meu eterno campeão”, disse Popó.
FORA DOS RINGUES
A carreira de Maguila no boxe dispensa comentários, mas o pugilista extrapolou o mundo do esporte e se tornou um grande personagem midiático brasileiro. Ele apareceu em programas de televisão, lançou um álbum musical e até tentou carreira política.
A história de Maguila despertou interesse da literatura e do cinema. O boxeador se mudou de Aracaju para São Paulo e trabalhou desde cedo na construção civil, treinando apenas no tempo livre antes de se tornar um grande astro do esporte.
Em 1997, a trajetória fantástica foi transformada no livro “Maguila: A Saga de um Cabra-macho Campeão”, de Carlos Alencar. Em 2020, o esportista seria interpretado por Babu em um filme, que não chegou a ser gravado por falta de verba. Em 2023, porém, a TV Cultura lançou uma série de dois episódios chamada “Maguila, um lutador”.
Maguila também fez aparições marcantes na TV. Com bom-humor, viveu um comentarista irônico de economia no programa “Aqui Agora”, do SBT. Na atração, vestia um traje de gala, que se opunha à sua imagem despojada.
O multifacetado boxeador também teve carreira musical. Em 2009, lançou o álbum de samba “Vida de Campeão”, que conta com uma faixa autoral e a regravação de clássicos como “Deixa a vida me levar”. Em 2021, Maguila foi enredo da escola de samba Me Chama Que Eu Vou.