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Nº 5888
COLUNA DO MARLON

DUNGA E O FARDO DO VILÃO: QUANDO A DERROTA VAI ALÉM DO CAMPO

Confira a Coluna do Marlon Araújo deste final de semana

Por Marlon Araújo | Edição do dia 28/12/2024

Matéria atualizada em 28/12/2024 às 04h00

Em 1990, a eliminação do Brasil nas oitavas da Copa do Mundo transformou Dunga no alvo da frustração nacional. Capitão da seleção, foi culpado por não parar Maradona na jogada que resultou no gol de Caniggia. Assim nasceu a “era Dunga”, metáfora depreciativa para tudo que dava errado no país: chovia demais? Era Dunga. Economia em crise? Era Dunga. Apenas em 1994 ele conseguiu dar a volta por cima, mas as feridas, como confessa, jamais cicatrizaram.

Na série Brasil vs Dunga: futebol em pé de guerra, ele revela como a opinião pública tratou uma derrota multifatorial com a simplicidade do certo e errado. Estratégias mal executadas, falhas coletivas e a genialidade de Maradona foram reduzidas a um único culpado. Esse maniqueísmo no esporte reflete uma tendência da sociedade: buscar vilões para situações complexas. No futebol, paixão e emoção tornam isso ainda mais cruel.

Casos como o de Dunga não são raros. Barbosa, goleiro da seleção de 1950, carregou por décadas a culpa pelo “Maracanazo”. Muitos atletas, após erros decisivos, nunca recuperaram suas carreiras. A sociedade, ao ignorar contextos e fatores diversos, impõe julgamentos que marcam vidas.

Dunga, hoje, simboliza resiliência. Em 1994, ergueu a taça como capitão, mas admite: “Quando vejo uma câmera, dificilmente consigo sorrir.” Sua história alerta para a necessidade de abandonar explicações simplistas e entender que derrotas, no esporte ou na vida, resultam de causas coletivas. Afinal, o jogo – e a vida – nunca são só sobre um único culpado.

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