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NA MODA E NAS RUAS

Reitora da Universidade Federal de Alagoas conversou com a Revista Maré sobre a Bienal pelos prédios históricos de Jaraguá e sobre incentivo à moda alagoana nas peças que veste

Por Victor Lima | Edição do dia 09/11/2019

Matéria atualizada em 11/11/2019 às 15h02

Valéria valoriza produções alagoanas em seus looks
Valéria valoriza produções alagoanas em seus looks - Foto: Felipe Nyland
 

A moda alagoana segue em alta e isso se dá também pelo apoio de importantes instituições do Estado. Uma delas é a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que, além de estimular as criações de seus estudantes nos cursos da Escola Técnica de Artes (ETA), leva-os às ruas, seja por meio do uso das peças e acessórios criados, seja por meio de eventos destinados à sociedade como um todo.

Aliás, foi o incentivo ao contato com o grande público que trouxe pioneirismo para a 9ª Bienal Internacional do Livro. Pela primeira vez em 18 anos, o evento está sendo realizado pelas ruas e prédios históricos de Jaraguá, até este domingo (10). A programação tem sido extensa, partindo das 10h da manhã até às 22h, com atividades literárias, culturais e infantis, assim como palestras e oficinas.

Sobre essa inovação no formato do evento e a valorização ao que chamou de ‘alagoaneidade’, a reitora da Ufal Valéria Correia deu entrevista à Revista Maré durante o evento. Ela ainda falou sobre críticas direcionadas à gestão e ressaltou a importância do constante diálogo com a sociedade. Acompanhe:

Revista Maré - É a primeira vez que a Bienal vai às ruas. De onde veio essa iniciativa?

Valéria Correia - Estamos na nona edição da Bienal. Ela acontece de dois em dois anos, é a maior idade da Bienal, e ela está indo pras ruas históricas da cidade de Maceió. É inédito, é uma inovação da nossa universidade sair dos muros, dos lugares fechados. A gente inova ao trazer para os prédios históricos. A literatura, cultura, a academia, a arte estão nas ruas de Maceió.

Foi uma ideia da sua gestão?

Foi a nossa gestão que pensou em enfrentar esse desafio. Na realidade, nossa gestão enfrenta muitos desafios e tem ousadia. É criticada por muitos, mas, agora, elogiada e reconhecida pela parte que interessa: a população alagoana. Imagine que entrar nesse palácio, que é a Associação Comercial, que é considerado ‘palácio do comércio’, toda a estudantada da periferia, as famílias, adentram hoje nos espaços da sua cidade que não conheciam. Eles olham, mostram para os seus filhos. A gente escutou comentários de famílias dizendo que ‘nunca pensei entrar nesse espaço e hoje entrei’. Imagine o que significa para a sociedade alagoana poder ocupar socialmente os prédios históricos. Para a gente, é um presente. A universidade se faz presente na sociedade e é um presente para a universidade a população participar deste evento, que é considerado o maior evento cultural do Estado.

A Bienal Internacional do Livro de Alagoas é um evento gratuito e que reforça o pertencer da coisa pública ao povo…

Somos a única universidade que promove uma Bienal no País. A única que promove e é totalmente gratuita. A gratuidade desse espaço que se coloca a serviço da população tem um simbolismo muito importante para a universidade, que tem sido tão atacada nos últimos tempos. Então, ela se mostra com os lançamentos de livros que são resultados de pesquisas nossas. A gente teve um edital de 25 livros, que literalmente plantamos os livros há um mês, formando o Bosque Moçambique, que é o país africano também homenageado nesta Bienal, fazendo um resgate e reparo histórico aos negros e negras que foram escravizados, inclusive, aqui neste bairro, onde a gente tem o porto da cidade no qual os navios chegavam.

A senhora tem estimulado o circuito da moda alagoana, seja estando nos eventos ou vestindo peças dos estilistas, como a blusa e saia de hoje, de Petrúcia Lopes, a bolsa da Sandra Cavalcante e os acessórios de Pedra da Luz. A moda produzida em Alagoas tem ganhado mais espaço?

A gente tem um curso de moda, da nossa Escola Técnica de Artes (ETA), que inclusive foi reformada. Entre as 26 obras que entregamos nesses 4 anos, nós entregamos a ETA com espaços muito bem elaborados para os cursos de artes e o incentivo a esse curso, à mostra desse curso, da produção própria dos nossos estudantes, junto com professores e técnicos. Para além disso, a moda produzida com o nosso artesanato. Nossas artesãs aqui expondo e participando, mostrando a arte de Alagoas com design retrabalhado. Penso que a valorização do que Alagoas produz também está nesse espaço, eu diria, comercial, da Bienal. Tem a feira Cool, tem aqui na Associação Comercial também, e a valorização do que eu habitualmente já uso. Compro peças das nossas alagoanas, de quem produz aqui em Alagoas, como uma forma, pessoalmente, de valorizar, mas, também, a universidade torna esse espaço possível por meio das parcerias que foram firmadas e patrocinadores da nossa Bienal.

As parcerias são parte fundamental dessas realizações, certo?

A importância dessas parcerias e da interlocução com a moda na visão do nosso alagoano é muito grande. A ‘alagoaneidade’ presente na nossa Bienal. O alagoano tem que ter orgulho do que aqui se produz em termos culturais, em termos artísticos, desde os guerreiros e guerreiras, que a gente teve um dos maiores quilombos do mundo, que é o Quilombo dos Palmares, um exemplo de resistência. Dandara, uma mulher; Zumbi dos Palmares. Nós fizemos uma homenagem às mulheres em movimento, que participam das lutas sociais aqui no Estado, no qual as mulheres que são invisibilizadas muitas vezes, que estão presentes, que transformam realidades, como as marisqueiras, as indígenas, mulheres do movimento sem-terra, sem-teto, da religião afro-brasileira também de matriz africana, foram homenageadas com o Prêmio Dandara. Mostrando a mulher no ponto de vista da mulher. A mulher em todas as suas dimensões.

Voltando à moda, é possível dizer que, até pela nossa riqueza cultural, os nossos artistas e estilistas não devem nada aos de renome nacional?

Não tenho dúvida. Temos estilistas muito importantes com reconhecimento nacional e internacional. Eu não tenho dúvida que eles têm produções excelentes que podem concorrer no mercado da moda sem preocupação alguma. O nosso artesanato original é muito bonito e com o design, o empreendimento da moda em cima dele, que empodera também as cooperativas, como do filé, da renda, como da renascença, do labirinto, então, são peças exclusivas que mostram nossa origem, a origem da rede de pescadores e com os estilistas dando seu traço artístico, a gente tem se saído muito bem no mercado nacional e internacional. Os alagoanos têm que sentir muito orgulho e usar, valorizar, mostrando o que a gente produz de bom no nosso Estado.

A universidade tem trabalhado, inclusive, para essa maior conexão com a sociedade. Isso ficou claro também com esta edição da Bienal. É uma das marcas da sua gestão?

Em todos os momentos, o diálogo é constante com a sociedade. Na primeira edição que cuidamos do evento, já teve uma abertura muito grande, mas, essa inovação de trazer para as ruas, qualquer outra gestão vai ficar devendo para a sociedade essa inovação. O que eu ouço é que a Bienal não sai mais das ruas. E fico muito feliz de ter sido uma realização nossa.

/Reitora e a coordenadora da 9ª Bienal, Elvira Barreto

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