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SAÚDE

EXERCÍCIOS EM CASA PODEM REPRESENTAR RISCOS À SAÚDE

Professor da Ufal explica os riscos de iniciar um programa de exercícios em casa e sem supervisão

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 28/03/2020

Matéria atualizada em 09/04/2020 às 04h16

É preciso ter cuidado para não extrapolar os limites do corpo, diz professor
É preciso ter cuidado para não extrapolar os limites do corpo, diz professor - Foto: iStock
 


Com muito tempo livre, algumas pessoas resolveram colocar em dia as metas para 2020, justamente durante a quarentena do coronavírus. Do aprimoramento de habilidades por meio de cursos online até o desejado corpo em forma, muitas das pessoas que estão isoladas tentam preencher os dias de confinamento, tentando colocar para frente aqueles desejos traçados no começo do ano.


A estudante Viviane Cardoso é uma das que apostou em usar o tempo para se dedicar ao corpo. Apesar de estar feliz com seu peso, ela viu nos exercícios em casa uma opção para manter a energia, espairecer e cuidar da saúde.


“Eu acho que se mexer ajuda em tudo. Eu realmente sou uma amante das atividades físicas, mas confesso que não sou a pessoa mais atlética do mundo”, conta Viviane, que diz que não tem uma rotina de atividades ou exercícios físicos.


“Eu só corro na praia de vez em quando, ando com o cachorro pelo quarteirão… mas não digo que não sou sedentária porque esse de vez em quando é tipo uma vez no mês e quando estou muito estressada. Mas tá ali, sempre no caderninho de metas”, diz.


Só que os planos de passar toda a quarentena em um programa de exercícios em casa foi interrompido, vejam só, por uma torção no tornozelo, que ocorreu quando Viviane tentava realizar um exercício “desses que tem em vídeos no YouTube”.


“Não foi nada sério, fui no médico, me expus, mas nem demorei por lá. E só preciso ficar quieta por alguns dias”.


O acidente com a repentina atleta alagoana expõe mais um perigo para este período de isolamento: fazer exercícios em casa, sem acompanhamento especializado. De acordo com o Conselho Federal de Educação Física, que lançou uma nota sobre a atuação dos profissionais no período de quarentena, a orientação é para que as pessoas permaneçam fisicamente ativas “por meio de atividades de intensidade moderada, inclusive na residência, respeitando eventuais contraindicações específicas e evitando, por prudência, atividades de alta intensidade/extenuantes.”.

Professor da Ufal explica os riscos de iniciar um programa de exercícios em casa e sem supervisão
Professor da Ufal explica os riscos de iniciar um programa de exercícios em casa e sem supervisão - Foto: Acervo pessoal
 



De acordo com o professor Leonardo Luz, doutor em Ciências do Esporte e Educação Física, quem já possui uma rotina de exercícios compreende suas limitações e tem mais atenção à intensidade correta das atividades. Mesmo para esses, é arriscado praticar exercícios sem supervisão. Ele também se diz preocupado com o grande número de aulas online disponibilizadas durante o período de isolamento. A Revista Maré conversou com o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) sobre a maneira segura de se manter fisicamente ativo nesta quarentena.


O que as pessoas precisam evitar na hora de iniciar uma rotina de exercícios em casa?

As pessoas precisam evitar começar um programa de exercícios físicos sem orientação médica e de um professor de educação física em qualquer contexto, seja em isolamento social ou em sua rotina normal. A prática regular de exercícios físicos é muito importante para a saúde, mas uma sessão de exercícios físicos é um estresse para o organismo e por isso esse estresse deve ser controlado (tipo, frequência semanal, duração, intensidade...) e acompanhado pelos profissionais citados anteriormente. Numa situação como a atual, de isolamento social, temos, resumidamente, dois tipos de pessoas: as que iniciaram o isolamento social e já tinham o exercício físico em sua rotina; e as que iniciaram o isolamento social e não tinham o exercício físico na rotina. São duas situações bastante distintas e que, nesse contexto, merecem recomendações também distintas de incentivo ao aumento do nível habitual de atividade física.


Quais os principais riscos?

São os mesmos riscos de uma rotina de exercícios físicos sem supervisão, realizada em qualquer outro contexto, seja na academia, na praia, no parque... e podem ser minimizados, resumidamente, se o praticante possui orientação adequada, já possui familiaridade com a execução do movimento corporal a ser realizado e conhece a intensidade do mesmo.


Você tem percebido o aumento na divulgação de aulas online durante a quarentena?

Sim. Tenho percebido e me preocupa a quantidade de aulas sendo disponibilizadas sem nenhuma descrição da intensidade do esforço e sem recomendação sobre as características do público para o qual as aulas estão sendo direcionadas.


Mas o que fazer, então, como se exercitar em casa de maneira segura? Do sedentário (e leigo) aos que já possuíam uma rotina fitness.

Em período de isolamento social, todos sofrem uma diminuição do nível habitual de atividade física porque deixam de caminhar até o trabalho, vão menos à padaria, ou seja, reduzem a sua atividade física para realizar as atividades do cotidiano. Por isso, todos devem procurar realizar mais atividades físicas em casa, reduzir o tempo sentado, andar pela casa com maior frequência, procurar levantar e sentar com maior frequência da cadeira ou do sofá, realizar a limpeza da casa… Nas recomendações de exercícios físicos para a promoção da saúde, destacam-se aqueles que estão associados com o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde e diminuição das doenças crônicas não-transmissíveis, são eles: exercícios aeróbios (que desenvolvem a aptidão cardiopulmonar), exercícios de força muscular (que desenvolvem a força e a resistência muscular localizada) e os exercícios de flexibilidade (que desenvolvem a amplitude articular). Aquelas pessoas que já contavam com orientação, e tinham os exercícios físicos em sua rotina, devem continuar realizando os exercícios (aeróbios, de força e de flexibilidade) com a mesma frequência semanal, duração e intensidade, respeitando as adaptações que a prática feita em domicílio demanda. Quem que não tinha o hábito de se exercitar e pretendem começar, recomendo que procure uma orientação profissional.


Pode indicar alguns exercícios?

Não posso porque não conheço cada um que irá ler esta reportagem. Prefiro ser cauteloso e recomendar que procurem a orientação do professor de educação física mais próximo. Caso não tenha na família, busque o contato com um amigo, um colega de trabalho, entre em contato e, assim, receberá informações adequadas para se manter mais ativo durante o isolamento social com mais segurança.

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