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PELO DIREITO DE SER

Polêmica no BBB reacende debate sobre ‘mimimi’ e a luta das minorias por dignidade

Por EVERTON LESSA - ESPECIAL PARA A REVISTA MARÉ | Edição do dia 10/04/2021

Matéria atualizada em 10/04/2021 às 04h00

Você já deve ter visto, ou até feito, uma publicação em alguma rede social apontando: é tudo mimimi. Esse é o discurso usado pelos que tentam por, cada vez mais, panos quentes na dor de uma causa. O Brasil é considerado o país da diversidade, mas quando um indivíduo carrega essa particularidade sofre ataques. Negros, LGBTQI+, mulheres, deficientes físicos e outros grupos compoem uma vasta comunidade que se esforça para sobreviver ao Brasil.

No país onde mais da metade da população é preta ou parda, não é incomum ver seguranças ou policiais perseguindo indivíduos que se encaixam nesse perfil sem justificativas. Dados do SUS revelam que a cada uma hora um LGBT é agredido em território brasileiro. Tentam romantizar o sofrimento alheio, concluindo que a geração está chata. Crimes de ódios contra negros aumentaram 59% nos últimos anos. Carregamos o título de quinto país onde mulheres morrem diariamente de forma violenta. E somos o país onde mais se mata transexuais no mundo.

Será mesmo que é mimimi? Os dados não mentem. Para Benjamin Vanderlei (psicólogo, mestre em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas e doutorando em psicologia) o diálogo é um excelente caminho para entendermos as diferenças presentes em nossa sociedade. “O que temos visto é uma intolerância crescente no que se refere às demandas de populações minorizadas. Temos uma frase dita recentemente que fala que a ‘minoria tem que se curvar à maioria’, um discurso que legitima todos os preconceitos existentes no nosso país, então só o diálogo não resolve”, pontua. Para ele é necessário incluirmos ações efetivas, não só de educação, mas de responsabilização pelos atos decorrentes das violências praticadas contra esses grupos. O sofrimento se agrava quando as empresas viram as costas para esses grupos.

Atualmente 90% da comunidade trans recorre à prostituição, pois muitas empresas invalidam sua capacidade profissional por serem pessoas trans. Benjamin enfatiza que o problema na inclusão de pessoas trans no mercado vem desde a escola, por se tratar de um ambiente onde as minorias sempre são atacadas e quando se trata de pessoas trans o número de evasão escolar ultrapassa 80%. O mercado de trabalho é ocupado majoritariamente por homens. A situação se torna ainda mais alarmante quando falamos de cargos importantes em grandes empresas. Mas Whytna Cavalcante (mulher, negra e ativista) vem nadando contra essa maré há anos. Ela atua como empresária no setor cultural e gestora responsável pela carreira da cantora Danny Bond.

“Uma das coisas que mais me incomoda são os assédios que nós mulheres sofremos no mercado. Quando migrei para o trabalho com artistas LGBTQI+ me tranquilizei ao imaginar que não sofreria mais assédio, mas doeu ao ver que a maioria dos artistas ainda são representados apenas por homens”, comenta Whytna. Além de sofrer por ser mulher num meio onde homens dominam, ela também sofreu preconceito contra o seu cabelo por ter assumido o black. “Escutava muita coisa. Várias formas de racismo eram comuns, principalmente o racismo recreativo”. O casting de artistas brasileiros, e também ao redor do mundo, tem se tornado cada vez mais diversificado. As pessoas estão consumindo cada vez mais conteúdo de artistas gays, negros, trans, mulheres, sem rotular como menos valioso, como faziam anos atrás. Nosso estado está bem representado, pois a alagoana Danny Bond tem ganhado cada vez mais visibilidade no cenário musical e conta com mais de 200 mil ouvintes em uma única plataforma de streaming. Essa conquista é sinal de que outras pessoas na condição de minoria podem e devem lutar pelos seus sonhos. “Enfrentamos muitos preconceitos no mercado. Muitos não enxergam ela (Danny Bond) como mulher. E para quem é preto viver é um ato poético-político subversivo.

O monstro do genocídio do povo preto trabalha em todo canto”, conta a empresária. Apesar de tantas dificuldades impostas pela sociedade, Whytna acredita que as minorias existem e resistem para ocupar os espaços e mostrar que é possível construir um mundo plural que respeite as diversidades. “Nós vivemos na era da informação, a desculpa da falta de acesso ao conhecimento é somente um modo de se isentar do próprio preconceito”, comenta o psicólogo. “Quando alguém compartilhar que uma fala ou atitude sua causou alguma dor ou desconforto, não insista em justificativas vazias. Peça desculpas, pergunte como proceder em casos futuros e busque em textos ou outros conteúdos sobre como evitar aquela situação desconfortável”.

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