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UM LEGADO DE SABORES E HISTÓRIAS

Dama da gastronomia alagoana, Yêda Rocha deixa saudades, mas também uma herança rica em texturas, sabores, histórias e alegria de viver

Por MAYLSON HONORATO | Edição do dia 12/02/2022

Matéria atualizada em 12/02/2022 às 04h00

Apesar da tristeza pela partida de Yêda Rocha, que faleceu na terça-feira, 8 de fevereiro, aos 90 anos, familiares, amigos e admiradores da história da dama da culinária alagoana não deixam de enaltecer sua personalidade alegre, sua companhia instrutiva e sua paixão em cozinhar para a família e amigos, além do sorriso e da seriedade com que compartilhava as receitas da família.

Ela era a última viva das seis irmãs Rocha, que se tornaram referência em todo o Brasil ao registrarem, organizarem e difundirem receitas que acabam contando a história de Alagoas e de um Brasil que era moldado nos antigos engenhos e fazendas. Yêda, particularmente, foi responsável por popularizar pratos e modos de fazer.

Nide Lins, jornalista especializada em gastronomia, diz que Yêda Rocha é e sempre será uma inspiração. Ela aproveita para evidenciar que, em toda a sua sabedoria culinária, Yêda era apreciadora de botecos e de uma cerveja bem gelada.

“O maior feito das Irmãs do Engenho Varella foi o livro ‘Delícias da Cozinha Alagoana’, com o tempero e sabores do engenho para o mundo. A obra ganhou espaço no Jô Soares, Ana Maria Braga, ou seja, Alagoas mostrou sua identidade cultural para fora do nosso estado”, afirma Nide. “Coisas que só encontramos com elas, como o doce de mangaba, que até hoje os jornalistas pernambucanos de gastronomia Vanessa Lins e Bruno Albertim suspiram por ele”, completa.

Nas redes sociais, o chef Serginho Jucá, neto de Yêda, lamentou a partida da avó e agradeceu pelo companheirismo e ensinamentos.

“Hoje você descansou nos braços de Deus e vai deixar uma saudade danada!”, postou o chef Serginho Jucá, que segue os passos da avó e é um dos destaques da gastronomia alagoana no país.

“Sua trajetória foi linda e vai render infinitas e lindas lembranças. Foi um privilégio tê-la ao nosso lado, com tanta sabedoria, alegria e vontade de viver. Obrigado por todos os ensinamentos e por ter sido minha grande parceira nesses últimos 15 anos”, completou o neto de Yêda.

Nide conta que a dama da gastronomia era fã incondicional do neto, Serginho, que dá continuidade aos pratos com identidade cultural da culinária de engenho. “É o sucessor”, afirma a jornalista. Além de amar incondicionalmente sua família e ser apaixonada por celebrar a vida.

“Yêda, assim como suas irmãs, marcaram a gastronomia alagoana. Antes delas, não havia nada na literatura sobre receitas, história e gastronomia alagoana. Então, elas projetaram Alagoas no cenário nacional. E tem mais, ela tinha um conhecimento muito grande em comida regional”, reafirma Nide.

IRMÃS ROCHA

Yêda, Bartyra, Jacy, Jacyra, Maria e Moema Rocha contribuíram de maneira singular no fortalecimento da culinária alagoana e, além de projetar receitas populares com o seu toque pessoal, eternizaram suas próprias receitas em livros, como o “Delícias da Cozinha Alagoana” e “Doçuras do Mundo Todo”, editados pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos.

“As receitas circulavam entre nós, registrando o nome de quem nos deu ou de quem era a mais perita em determinado prato, como a Brasileira, da Caetana (escrava do Engenho Cumbe), ou o Pudim Abolicionista (sucesso do fim do século 19), de tia Chiquinha”, relatam as irmãs na apresentação de um dos livros.

As irmãs Rocha eram seis, nascidas entre 1920 e 1933, e criadas no antigo Engenho Varella, no município alagoano de São Miguel dos Campos. Yêda Rocha Jucá era a única viva. Foi após um encontro com o apresentador Chacrinha, lembra ela, que as irmãs começaram a pensar, anos mais tarde, em resgatar as receitas originárias do engenho onde haviam vivido a infância.

Assim, em 1997, saiu a primeira edição do livro Delícias da Cozinha Alagoana, com boa parte das receitas aprendidas em meio aos fornos do Engenho Varella. “As receitas circulavam entre nós, registrando o nome de quem nos deu ou de quem era a mais perita em determinado prato, como a Brasileira da Caetana (escrava do Engenho Cumbe) ou o Pudim Abolicionista (sucesso do fim do século 19) de tia Chiquinha”, relataram as irmãs na apresentação do livro.

“O talento se transformou em restaurante, em livro e em inspiração para mim e tantos outros. Mais do que criar receitas, elas mantiveram uma tradição, a tradição dos sabores dos engenhos de Alagoas”, contou Serginho Jucá, em publicação no portal Gazetaweb.com, onde mantém um blog.

“Sou o que sou graças a ela, que é a minha grande inspiração na cozinha e na vida. Seu jeito bem-humorado, o gosto por festejar as coisas boas da vida e brindar as conquistas são marcas de vovó que vejo em mim e que me deixam orgulhoso e feliz pela sua existência”, concluiu o chef.

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