Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 0
Maré

PARA AMAR DEPOIS DOS 30, 40, 50 ANOS

Psicóloga diz que é importante organizar a vida para viver o melhor dos relacionamentos maduros; confira dicas e relatos

Por MAYLSON HONORATO EDITOR DA REVISTA MARÉ | Edição do dia 19/03/2022

Matéria atualizada em 19/03/2022 às 04h00

No passado, quando éramos crianças, pessoas com 30, 40 anos ou mais já eram consideradas velhas. Parecia inconcebível que elas pudessem encontrar um novo relacionamento amoroso e viver histórias emocionantes - que apenas parecem fazer parte exclusivamente da juventude.

Com a medicina moderna nos trazendo a longevidade, a expectativa de vida nos trouxe novos desafios, afinal, o ser humano nunca viveu tanto como nos dias de hoje. Em 1900, a expectativa de vida era de 47 anos e agora é de 78 para homens e de 80 para mulheres. Então, se falarmos que uma mulher de 40 anos começou um novo relacionamento, estamos falando que ela ainda pode ter um relacionamento de 40 anos ou mais. Isto é simplesmente maravilhoso!

Um artigo publicado recentemente no New York Times apontou que a indústria dos sites de relacionamento está crescendo assustadoramente nos Estados Unidos. Pesquisas apontam que pessoas com mais de 50 anos estão visitando os sites de relacionamento mais do que qualquer outra faixa etária e que o segundo maior grupo a usar esse canal é o de pessoas entre 45 e 50 anos.

A alagoana Samara Giovana tem 35 anos, é solteira, não tem filhos e acredita que ainda vai encontrar o amor da sua vida. “Não me considero velha, apesar de saber que muitas pessoas ao meu redor, até alguns amigos mais novos, me acham velha”, afirma.

“Eles vão chegar nessa idade e descobrir que estamos melhores em muitas coisas quando passamos dos trinta, principalmente no que diz respeito à cabeça”, defende.

Ela não usa aplicativos de relacionamento e diz que usa pouco as redes sociais. “Não por falta de conhecimento, somos a geração que construiu a internet como ela é hoje, sabemos usar tudo, só não temos, muitas vezes, interesse”. “Eu prefiro conhecer alguém num bar, prefiro conversar durante um lanche do que numa chamada de vídeo. Claro que a gente abriu muitas exceções durante a pandemia, mas eu não vou ficar no virtual enquanto a vida passa”, completa Samara.

Para Alexandre, que preferiu ser identificado apenas pelo primeiro nome, estar à beira dos trinta anos e estar solteiro é assustador. “Eu me lanço nos aplicativos, procuro encontrar um relacionamento, mas é difícil hoje. As pessoas da minha idade parecem estar interessadas só na curtição”, diz.

Segundo ele, que é homossexual, a comunidade LGBTQIA+ é ainda mais complexa no que se refere a idade para viver e se relacionar. “Gays parecem ter um prazo de validade para encontrar um namorado e casar. A maioria dos casais gays que eu conheço, que já são mais maduros, se conheceram na juventude e ficaram juntos, por sorte”, opina o comunicador.

“E as pessoas dos 22, 23 anos só procuram para sexo, mas estamos aí, nos relacionando e vivendo ao máximo. Estou com pressa, mas sei que ainda tenho muito tempo e muitos relacionamentos para viver”, finaliza.

Encontrar o amor pela segunda, terceira vez, ou mais, é diferente de como foi na primeira vez. É o que defende a psicóloga Margareth Signorelli, especialista em relacionamentos.

Para ela, existem quatro áreas especificamente importantes para que o processo tenha sucesso. Nessas áreas, o foco é diferente do que quando tínhamos 20 anos.

“Nessa idade nossa história estava apenas começando. Completamos nossos estudos, trabalhamos, nos casamos, construímos uma família e assumimos muitas responsabilidades”, diz a psicóloga.

“Fizemos uma história, tivemos obrigações com muitas coisas para gerenciar e também experiências com decepções e mais pessoas para doar o nosso amor, incondicional ou não”, continua.

Ela listou algumas dicas de como lidar com tantas emoções e estar preparado ou preparada, a partir dos 30 anos, para viver um - ou dois, ou mais - grandes amores.


PARA VIVER UM NOVO AMOR

A primeira dica é deixar o passado o mais equilibrado possível, para que o futuro entre em um ambiente saudável e receptivo.

“Cuide de ressentimentos, mágoas, raiva. Trabalhe essas áreas da sua vida para eliminar cada um desses bloqueios. Se não conseguir sozinha, procure um profissional que lhe ajude a sanar estas feridas”, diz a psicóloga.

Em seguida, mas ainda no âmbito da primeira dica, saiba que tipo de pessoa você procura e seja a pessoa que você quer amar.

“Lembre dos seus acordos ditos e não ditos no passado. Por exemplo: ‘Eu vou te amar para sempre’ ou ‘Eu nunca mais vou me machucar me relacionando com alguém’. Os acordos que fizemos quando estávamos apaixonados ou mesmo machucados têm que ser lembrados e quebrados, porque são uma energia viva que pode ser um dos bloqueios para o amor chegar novamente. São barreiras extremamente limitadoras que precisam ser trabalhadas”, afirma Margareth Signorelli.

A segunda dica da psicóloga é reconhecer a “madura habilidade de amar e ser amado”.

“O amor depois dos 30/40 anos requer muito mais maturidade emocional do que quando somos mais jovens. Nos relacionarmos com alguém agora não significa somente nos relacionarmos com a pessoa em si, mas com tudo o que ela construiu até aqui, com a sua história de vida, com filhos e, às vezes, até netos, carreira, obrigações, enfim, com a vida do outro. É preciso estar consciente e preparado para abraçar as causas de uma história que você não ajudou a construir”, diz.

“É um momento em que não estamos mais preocupados em justificar nossos atos para os nossos pais, pois o que importa é a pessoa com quem estamos pois, afinal, agora somos só nós. Hoje somos maduros o suficiente para criar uma relação não mais de codependência, mas sim de interdependência”, completa.

Se amar e dividir os mesmo propósitos de vida com a pessoa amada são as dicas finais para quem quer ter sucesso no novo romance.

“Outro ponto extremamente importante é aprender a amar sem nos abandonarmos. É a habilidade de saber o que queremos e falar a nossa verdade para o outro, sem medo das consequências. Quando somos codependentes nem sempre falamos a verdade por medo que o outro nos deixe. Então, o que aprendemos com a idade? Que conseguimos sobreviver sós e que vamos confiar em nós mesmos para escolher alguém para amar pois, se amar significa se conhecer para poder construir uma relação equilibrada e saudável”, diz.

“ Precisamos ter coragem de nos arriscar e até mesmo de desapontar algumas pessoas para viver aquilo que acreditamos. Não devemos nos preocupar com o que os outros irão pensar ou o quanto de satisfação devemos dar para a sociedade”, defende a psicóloga.

“O importante é saber se os propósitos desta pessoa estão alinhados aos seus e que vocês terão que olhar para o mesmo horizonte e seguir juntos. A vida amorosa depois dos 30/40 pode ser muito melhor do que nas décadas anteriores baseada em nossa maturidade, segurança, na diminuição da ansiedade e em muitos outros fatores”, afirma.

“Alguém para amar será um dos maiores presentes que você já recebeu para poder dividir e compartilhar uma das melhores fases da sua vida em que o que você plantou está crescendo e, com a maturidade, florescerá ainda mais com a chegada de cada nova primavera”, finaliza Margareth.

Mais matérias desta edição