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Maré

ILHADOS NO NOVO NORMAL

Após o distanciamento social, alagoanos refletem sobre solidão e a perda de conexões durante o período crítico da pandemia. O que fazer agora?

Por DA EDITORIA DA REVISTA MARÉ | Edição do dia 09/04/2022

Matéria atualizada em 09/04/2022 às 04h00

“Moramos na mesma cidade, mas só nos vimos antes da pandemia. Ela era a minha melhor amiga”. – A declaração é da estudante universitária alagoana Viviane Rodrigues, de 26 anos. Ela narra o que muitos vivenciaram e que outros tantos só se deram conta agora: a pandemia mudou as amizades, o nosso jeito de lidar com elas e com a solidão. O que fazer agora? “Acho que tudo mudou, até amigos que eu tinha no trabalho, os que iam nas festas comigo, muitos deles mudaram, ou eu mesma mudei, só sei que nos afastamos”, conta. Para Shasta Nelson, especialista americana em amizades e relacionamentos saudáveis, a pandemia nos obrigou a analisar quais tipos de relacionamentos nos faltavam, bem como nos fez reavaliar os relacionamentos que já conservávamos antes de tudo. “Muitos de nós nos aproximamos de menos pessoas nesse momento, o que é interessante porque, quando estamos sozinhos, não precisamos conhecer mais pessoas, precisamos ir mais fundo com alguns e nos sentirmos mais vistos”, afirmou ela. “Se eu tivesse que escolher entre um e outro, eu escolheria que as pessoas tivessem menos amigos mais próximos, mas que se sentissem apoiadas, amadas e aceitas”, analisou a especialista. Segundo Shasta, o novo normal chegou com mudanças. Alguns se depararam com a solidão total, todos os amigos e amigas sumiram, enquanto outros viram os laços se estreitaram, ao tempo que o número de pessoas próximas diminuiu drasticamente. Para Viviane, a dinâmica mudou e as pessoas encontraram suas tribos ou se encontraram. “Eu conheço pessoas que ignoraram o distanciamento quando estávamos todas com medo do que podia acontecer. Eu mesma disse não para várias festinhas em casa, inclusive, conhecidos foram infectados, parentes morreram”, relata. “Nesse vai e vem, muita gente parou de falar, de ligar, de perguntar. Todo mundo tava lidando com muita coisa em casa, talvez a gente precise recomeçar”, completa a estudante. Uma pesquisa publicada no Journal of Social and Personal Relationship mostra que são necessárias mais de 200 horas de tempo de qualidade gastas com uma pessoa antes de considerá-la um amigo próximo. O fato é uma surpresa para a alagoana, que está em busca de reconstruir seu círculo social. “Tudo isso? (risos) Muita gente vai sofrer com isso. Eu acho melhor gastar tudo isso do que a gente se enganar com as pessoas. Que Deus nos livre, se vier uma outra coisa assim como a pandemia, é melhor ter um círculo de amizades mais sólido”, afirma.

AMIGOS NA FASE ADULTA Ele preferiu ser identificado apenas pelo primeiro nome: Gilmar. Ele está completando 40 anos este ano e diz que nenhum amigo lhe restou depois da pandemia. “Completamente sem amigos. Perdi dois para a Covid, outro se mudou e a gente se fala de vez em quando pela internet. Mas eu mesmo não quis mais ficar no meio de outros, que nunca se preocuparam de verdade comigo”, analisa. “É melhor estar sozinho do que cercado de pessoas que nunca irão lhe indicar para uma coisa, falar de você para alguém que possa lhe indicar para uma oportunidade, mas que estão sempre ali pedindo seu colo”, reflete, ponderando acerca da reciprocidade. Mas ele não desistiu. O problema é que, enquanto é muito fácil criar novos laços na infância e na adolescência, essa habilidade vai ficando ainda mais complexa com o passar do tempo. Falta tempo, falta confiança e falta disposição. Em artigo publicado no final do ano passado no site Women’s Health norte-americano, a psicóloga Marisa Franco tentou responder às principais questões ligadas ao cenário pós-pandêmico e às amizades. Para reconstruir os laços, de acordo com a especialista, o segredo é a paciência e aceitar que as coisas mudaram e novas diferenças surgiram. No entanto, visto que muitas pessoas perderam amigos, para o vírus ou para os efeitos colaterais da pandemia, quem quiser reconstruir o círculo de amizades ou fazer novos amigos pode seguir alguns passos:

Quem são seus amigos? Começar esse processo fazendo um “inventário” das amizades atuais pode ser fundamental. Para isso, verifique o espaço que as pessoas ao seu redor têm na sua vida, como elas se comportam e como você se comporta com elas. Isso vai ajudar a hierarquizar suas relações. Tenha em mente que, de acordo com um estudo do psicólogo Robin Dunbar, de Oxford, os humanos podem manter, em média, cinco amigos próximos. Muitas vezes, mantemos relações por comodismo, por preguiça de recomeçar.

Pessoas com o mesmo hobbie Agora que a retomada das atividades é uma realidade, você pode se aproximar de eventos e encontros que reúnam pessoas com gostos parecidos. Diversas pesquisas mostram que amizades são afinadas quando há uma rotina entre os envolvidos. Pode ser um jogo, uma aula de dança, um clube de leitura. Busque ambientes com os quais você se identifique.

Observe seus colegas de trabalho Talvez um grande amigo já esteja próximo a você. Seguindo o raciocínio da dica anterior, vocês já convivem e realizam tarefas com as quais possuem afinidade. Agora, se for o caso, é hora de fortalecer esses laços. Você pode começar participando do happy hour ou se interessando pelo que é falado no dia a dia.

Use a internet a seu favor Aplicativos de relacionamento não precisam ser usados apenas para encontros românticos. Existem diversos outros com finalidades distintas, seja para conversar ou para encontrar novos amigos. Aproveite. Tem o Bumble, que possui uma função para quem deseja encontrar novos amigos, e também o Slowly, que tem o objetivo de criar conexões profundas entre os usuários.

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