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PARA DISCUTIR IDEIAS NAS REDES

Nova rede social traz de volta discussão sobre saúde mental e internet, prometendo ser uma nova maneira de se conectar. Será que vai pegar?

Por DA EDITORIA DA REVISTA MARÉ | Edição do dia 30/07/2022

Matéria atualizada em 30/07/2022 às 04h00

Já sabemos que, em meio aos likes e os comentários - nem sempre agradáveis - das redes sociais, se perder de si mesmo é uma possibilidade. O uso excessivo ou desatento da tecnologia é uma preocupação cada vez maior dos especialistas em saúde mental no mundo inteiro. Essa semana, uma novidade relacionada ao universo cibernético impulsionou debates sobre vida conectada e saúde mental: uma nova rede social focada em videochamadas.

A nova rede social, chamada Kornez, chega prometendo um modelo de relacionamento teoricamente saudável. O mote da empresa é a promoção de bem-estar on-line e desenvolvimento humano. A ideia vem baseada por movimentos, como o do ano passado, quando celebridades resolveram abandonar a vida on-line para cuidar da saúde mental, e em dados como o da consumoteca, divulgado recentemente. A pesquisa revelou que 78% da população brasileira começou a se preocupar e pesquisar mais sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida após a pandemia.

“Estamos vivendo em uma era rápida e superficial, é possível perceber o sofrimento do ser humano ao entrar em contato com questões mais íntimas e pessoais, por isso é tão importante se autoconhecer”, explica a psicóloga Nicolli Callegari.

A psicóloga testou a nova rede, que é focada em chamadas aleatórias, de até cinco minutos, com pessoas que possuem interesses em comum e valores semelhantes. Ao entender o funcionamento da nova plataforma, Nicole pontuou que consegue perceber em seus atendimentos a necessidade do ser humano de encontrar seu lugar. “Vejo nitidamente, em meio aos meus dias de trabalho, o quanto ainda é preciso encontrar pessoas com o mesmo ideal ou estilo de vida. É como se o ser humano ainda necessitasse pertencer a uma tribo, uma vez que os formatos de relacionamentos e padrões sociais de trabalho já não sustentam mais nossa atual sociedade”, diz a psicóloga.

Em 2019, o Instagram, atualmente a maior rede social do planeta, removeu os likes das postagens, justamente pelo adoecimento do público, que buscava uma espécie de validação social por meio do número de likes.

“Eu acho a ideia boa, ainda não testei, mas pretendo ver se funciona. Eu acho que isso é interessante, você entra lá, mostra algo legal, fala com alguém e depois sai, vai viver alguma coisa real. Acho melhor do que a gente montar uma vida inventada nas redes sociais, como é hoje em dia”, afirma a designer Myrela Rosa, de 28 anos.

A alagoana de Maceió conta que deixou de lado seu perfil social durante a pandemia, pois o formato não fazia mais sentido para ela.

“A gente cresceu nessas redes, não é uma novidade para a minha geração, tampouco para esta geração de agora. Mas não faz mais sentido, depois de uma pandemia, depois de tudo, a gente ficar comparando roupa bonita, vida mais legal, namoro mais legal, coisas que sabemos que são mentiras. Acho muito mais atrativa a ideia de falar sobre algo com alguém real. Mesmo que por cinco minutos”, afirma.

Paulo Araújo, que afirma trabalhar com marketing digital, diz que não vê na novidade um modelo viável de rede social.

“Eu já dei uma olhada, me lembrou o Omegle [outra rede social em que é possível conversar com pessoas aleatórias]. Acho que falta muito para ser viável, para pegar. Os adolescentes e jovens adultos de hoje querem a mentira das redes sociais. Para ela, o divertido é a ilusão que a gente cria ali”, afirma o jovem.

“Essa nova rede social gira através de um viés totalmente diferente dos outros, nela conseguimos dividir diferentes experiências, culturas e até mesmo propósitos, isso é inovador”, complementa a psicóloga Nicolli.

A psicóloga comenta que o ser humano tem muita dificuldade em compartilhar seus medos, anseios e até mesmo opiniões, o contato com pessoas que dividem os mesmos valores e interesses pode ser transformador, poder falar sobre um tema específico com quem também entende sobre o assunto é o que mais tem de novo na atualidade. Além de compartilhar sua expectativa a longo prazo quanto a rede social. “Quanto mais eu conheço pessoas que estão neste caminho, mais sinto que ele me pertence. Pensar na possibilidade de formar uma rede de conexões aleatórias, dividindo o mesmo interesse, por trás de uma rede social deixa meu coração quentinho”, explica.

“A busca por troca de experiências é significativa quando falamos sobre temas como espiritualidade, arte, educação, esporte e música, acreditamos que nossos usuários são todos aqueles que estão olhando para o desenvolvimento humano e social e querem falar mais sobre os infinitos temas que nessas áreas podem existir, se conectando pessoas com esses mesmo propósitos”, explica Bellmond Viga, Terapeuta Holístico, Cofundador e Diretor Operacional da Kornerz.

O aplicativo vem sendo atualizado por etapas, nesta fase, a conexão é feita por salas divididas em temas, comportando até 200 acessos simultâneos em cada.

A conexão entre as pessoas foi pensada e desenvolvida para ser o mais simples possível. Após baixar o aplicativo, e efetuar o cadastro, basta um clique para acessá-lo. O app está disponível para download nos sistemas Android e iOS. “Acreditamos na quebra de paradigmas, e ligar as pessoas por seus propósitos e interesses em comum é promover o bem-estar social, utilizando a tecnologia como nossa grande aliada neste processo”, conclui Bellmond.

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