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Maceió,
Nº 5709
Opinião

AVÓ E NETO ENCANTAM

A Academia Alagoana de Letras, às vésperas de completar cem anos de existência, tem realizado inúmeras atividades integrantes do projeto: O Centenário em Ação. Dentro desta ideia, sempre às primeiras quartas-feiras de cada mês, as majestosas portas da Cas

Por | Edição do dia 18/04/2018

Matéria atualizada em 18/04/2018 às 00h00

A Academia Alagoana de Letras, às vésperas de completar cem anos de existência, tem realizado inúmeras atividades integrantes do projeto: O Centenário em Ação. Dentro desta ideia, sempre às primeiras quartas-feiras de cada mês, as majestosas portas da Casa Jorge de Lima, sede da instituição, na Praça Sinimbu, são abertas para acolher convidados da terra caeté, deliciando-os com palestras sobre os temas mais variados, sempre voltados à cultura da Terra dos Marechais. Segunda semana de abril, tivemos a honra de receber Yêda Rocha e seu neto, o conhecido chef de cozinha Serginho Rocha Jucá Filho. Com palavras seguras e envolventes, eles prenderam a atenção dos presentes, discorrendo sobre a culinária como forma de cultura. Quando eu era menino, lá no sertão de Caicó, lembro de permanecer horas a fio acompanhando minha avó cozinhar em dois fogões, ambos de lenha, um deles inglês, forjado em resistentes peças metálicas e o outro de cerâmica. Dali, vi saírem maravilhas que engordam, como costela de carneiro, bolos os mais variados, arroz de leite com um sabor de infância, filhós, paçoca de carne de sol e, até, o chouriço feito com sangue de porco. Contudo, o que mais me encantava era escutar minha querida vozinha, sempre com um sorriso no rosto, repetir: meu filho, parte do segredo do sucesso na vida é comer o que você aprecia e deixar os alimentos se entenderem lá dentro. O tempo andou... e, ali sentado, encantado com as explanações dos jovens da família Rocha, dona Yêda, completando oitenta e sete anos, e Serginho, cinquenta anos mais novo, demonstrando com simplicidade como é bom fazer o que se gosta e como é melhor ainda saber misturar alimentos para, finalmente, fazer jorrar água na boca de todos os presentes. Que encanto ter a criatividade de produzir o refinado carpaccio tendo como ingrediente, não a carne, mas, cem por cento, o sertanejo queijo de coalho e merecer aplausos. Quanto mais os dois falavam, ficava claro ser o cozinhar uma terapia, sempre tentando, sendo, às vezes, preciso queimar a panela para acertar o ponto, salgar, aprendendo a temperar, talhar, para conseguir homogeneizar, e, finalmente, adquirir a capacidade criativa de oferecer aos convidados um prato, como a tapioquinha de bacalhau afogada em tintas comestíveis, uma das especialidades descobertas com criatividade. É verdadeira a máxima: quem herda não furta... Serginho demonstrou ser o verdadeiro continuador daquelas que sempre se esforçaram para enaltecer a culinária alagoana: Moema, Jacy, Jacyra, Maria, Bartira, Yêda, ou, simplesmente, as Irmãs Rocha. Mulheres que conseguiram emprestar singeleza à arte de cozinhar. Serginho, mais sofisticado, com cursos e prêmios diversos conquistados inclusive na Europa, deixou claro, com suas palavras, ser gastronomia a arte de comer olhando para o céu. O que mais importa, porém, são os produtos das Alagoas, como o sururu, por exemplo, nunca serem abandonados. Que o diga o Mingau Pitinga, feito à base de massa puba, misturada com a iguaria de nossas lagoas, transformando-se em um manjar dos céus. De parabéns os que puderam assistir à palestra de Yêda e Serginho Jucá.

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