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ARTIGO

UMA IDEIA NÃO SE PRENDE

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Por Paulo memória. jornalista e cineasta | Edição do dia 14/11/2019

Matéria atualizada em 14/11/2019 às 06h00

O dia 8 de novembro de 2019 entra para os pósteros da nossa história como o dia em que começa a ser resgatado o Estado Democrático de Direito em nosso país. Finalmente, após anos de subserviência a Sérgio Moro e servindo de “puxadinho” da Lava Jato, o Supremo tribunal Federal fez jus ao nome que ostenta em sua sigla. Pela primeira vez, desde que foi instalada a maior fraude histórica que se tem conhecimento na política brasileira, alguns ministros decidiram honrar a toga que envergam na suprema corte, cumprindo o juramento que fizeram de defender e zelar a constituição federal. Quem sabe se a partir de agora, dos escombros da destruição midiática que aceitaram se submeter, o STF comece a reconstruir sua dignidade e soberania de poder independente.

Surgem no cenário nacional várias interpretações para o voto decisivo do Ministro Dias Toffoli, que desempatou por 6 a 5 a duríssima disputa entre os ministros punitivistas e os ministros garantistas. Muitos estranham esta mudança repentina de postura do presidente da máxima côrte do judiciário brasileiro. Estranha-se também a passividade com que o núcleo duro dos generais de pijama que cercam Jair Bolsonaro receberam a notícia da libertação de Lula, disfarçada pela cortina de fumaça da prisão em segunda instância. Para esta leitura dos recentes acontecimentos, o golpe dado contra o presidente Evo Morales, na Bolívia, está intimamente ligado a soltura de Lula, e que o objetivo seria até o assassinato de ex-presidente brasileiro, o que seria comprometedor e constrangedor perante o concerto das nações, caso evento desta magnitude viesse a ocorrer nas dependências da Polícia Federal.

Teorias de conspiração a parte, outros entendem que os teóricos do governo Bolsonaro teriam interesse em ter Lula nas ruas, para criar uma polarização entre o ex-presidente e o atual Presidente do Brasil. O propósito desta estratégia seria o de anular as possibilidades das candidaturas pela direita e extrema-direita, dos governadores Wilson Witzel do Rio de Janeiro, João Dória de São Paulo e, de quebra, liquidaria também a candidatura de Luciano Huck, o nome da Rede Globo no processo eleitoral previsto para 2022. Lula e Bolsonaro representaram projetos antagônicos de país. Lula é um social-democrata com história construída no trabalhismo sindical nacional e Bolsonaro, um legítimo representante do fascismo- populista-totalitário.

A disputa ideológica se desloca do centro situacionista de esquerda e direita, representada no clássico dos últimos 25 anos, do PT X PSDB, para uma disputa que se desloca para a extrema-direita e altamente reacionária. A prisão de Lula, que registrei no meu filme documentário, intitulado Uma Ideia Não se Prende, revela exatamente este marco divisor que se transformou o Brasil. A direita parlamentar tenta agora acelerar a aprovação de uma PEC para assegurar a prisão em segunda instância, e que é claramente inconstitucional, por ser uma cláusula pétrea, que assegura direitos individuais dos cidadãos brasileiros e que só poderia ser aprovada com a convocação de uma nova assembleia Nacional Constituinte. Viramos a última página deste capítulo histórico de moral duvidosa e começaremos a escrever as páginas do próximo de uma novela que promete ser longa.

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