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Maceió,
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Opinião

CRISTO IMIGRANTE

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Por Rodrigo Rios. padre e jornalista | Edição do dia 29/11/2019

Matéria atualizada em 29/11/2019 às 06h00

Neste ano de 2019 pude acolher dois imigrantes venezuelanos em minha casa. Estando seu país passando por uma grave crise, eles resolveram tentar a vida fora de sua nação. Com esta atitude, pude conhecer mais sobre a realidade política, mas não conforme o transmitido pela mídia, e sim por aqueles que a conhecem por dentro. E digo que dia após dia me eram apresentadas novidades que me faziam refletir bastante.

Por sempre tentar me colocar na situação dos outros, esta de forma particular me tocou profundamente. Ajudei então no que pude, para fazê-los se sentirem bem. Agora eles seguiram seus caminhos, a partir de uma nova oportunidade de emprego e moradia. Cumpri minha missão. Neste ínterim uma instituição católica chamada Cáritas me contatou dizendo que havia 15 venezuelanos em Maceió que precisavam de ajuda. Fui conhecê-los e basicamente todos as semanas tenho ido vê-los, levando donativos de minha paróquia. Ao escutá-los, novas histórias me foram narradas. E como sinto compaixão! São duas famílias que cruzaram a fronteira e resolveram vir para Maceió, pelo fato de ser distante de Roraima que já está sobrecarregada de venezuelanos. Eles possuem curso superior, tinham uma vida de classe média alta e eram totalmente estáveis. Com a crise, foram roubados e venderam o que possuíam para comprar as passagens e tentarem uma nova vida. A decisão basicamente foi tomada por conta dos filhos, que são crianças e têm todo um futuro pela frente. Pensando neles tiveram a força necessária para sair do país. Em Maceió três conseguiram trabalho e estão assim tentando pagar as despesas da casa. Como são vários, as doações têm sido a forma como estão conseguindo dar curso à vida. Muitas pessoas não conseguem compreender a dificuldade em imigrar. Perdem-se as referências, os contatos, o convívio com tantos que lhes são importantes. E tudo isso gera um misto de sentimentos. Perguntei-lhe sobre as maiores dificuldades, e de fato o idioma está entre elas. Conseguem compreender bem o português, mas falar não tem sido fácil. As crianças se adaptam com mais desenvoltura, contudo, os adultos têm um outro ritmo de aprendizado. Começamos neste Domingo o tempo do Advento que justamente nos prepara para o Nascimento de Cristo. Este nasceu em uma cidade, mas morou toda a sua vida em outra. Várias vezes pensei em Jesus como um peregrino que ao nascer não tinha um ambiente que o pudesse acolher, e assim tudo sucedeu-se em um estábulo. Olhar para Ele me faz pensar nos peregrinos, estrangeiros, imigrantes… e tentar acolhê-los como o próprio Nosso Senhor. Que este Natal nos ajude a olhar os que mais sofrem e nos levem ao seu encontro, para dar-lhes esperanças que um dia tudo há de melhorar. Estar perto já é um sinal disso.

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