Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 5692
Opinião

CONSIDERAÇÕES SOBRE A BOA LITERATURA

.

Por Agamenon Magalhães Júnior. ensaísta, gramático e educador | Edição do dia 20/02/2020

Matéria atualizada em 20/02/2020 às 06h00

A produção literária alagoana está de vento em popa. Atualmente estão sendo lançados livros aos quais os olhos dos literatos e críticos nacionais se voltam com entusiasmo. Não é para menos, os escritores alagoanos contribuem, desde sempre e de maneira significativa, para a boa tradição das letras em todas as áreas do idioma. No léxico, temos o mestre Aurélio, ainda hoje referência nesse campo. No mundo da poesia, Lêdo Ivo e Jorge de Lima representam-nos. Sem nos esquecermos do mestre dos mestres, o romancista Graciliano Ramos – desse dispensam-se apresentações.

No mundo dos contos e crônicas, temos nossos destaques, principalmente quando lançamos luz sobre os escritores contemporâneos. Um bom exemplo é o lançamento do livro “O menino do fim da rua e outros contos”, do professor universitário Luciano Barbosa dos Santos. O autor é natural de São Paulo, mas cresceu e vivenciou as principais experiências no Nordeste, em especial no Agreste de Alagoas, onde cursou o ensino básico. E foi no Ensino Médio, lá na cidade de Arapiraca, que eu conheci Luciano e compartilhei com ele o mesmo grupo de amigos. Uma galera sonhadora, cheia de planos e já traçando as primeiras linhas de um futuro promissor. Pensando bem, talvez tenha sido a nostalgia dos meus tempos de garotice o principal fato de eu ter gostado dos contos de Luciano. No livro, eu me transportei para histórias das quais nunca participei ou para cenários onde nunca estive; ou mesmo conversei com pessoas com quem jamais troquei ideia. Esse não é o maior mérito da literatura, a realidade e a ficção com o mesmo grau de importância? Sim, a boa literatura é fazer com que o leitor tenha uma experiência de imersão verdadeira nos devaneios de quem escreve. Um bom livro de contos deve ter subjetivamente a premissa de que o autor possui um conjunto de bons causos e o talento para contá-los da melhor maneira: o que contar e como contar. Luciano foi além. Ele revelou um cuidado com informações de natureza histórico-social, como se constata, por exemplo, no texto “Destino ignorado”, cujo início logo conquista o leitor com a descrição do homem mais emblemático do Nordeste: “Certos sertanejos têm fama de violentos e ciumentos, muitas vezes uma simples desconfiança ou um mero mal-entendido é motivo para uma tragédia”. Ainda nessa história, viajei na beleza da personagem Joana, “(...) uma jovem cuja beleza não tinha igual nos arredores por onde andava. Pele clara, cabelo comprido, linda de corpo e de rosto (...)”. O breve relato da cultura fumageira também entra no aspecto positivo da história. O livro, com suas vinte histórias (subdivididas em quatro partes contextualizadas), tem algumas narrativas que se destacam por motivos diferentes. Gosto do desenvolvimento de “A primeira briga de casal”, em que se descreve a dificuldade da vida a dois, com as briguinhas do cotidiano (quase sempre insignificantes) e a tarefa quase impossível de viver em paz com o cônjuge. “O apaixonado azulino” se encarrega da temática futebolística. Em “Devagar, seu padre!” ou em “Vendedor de picolés”, o professor Luciano nos dá uma oportunidade de reencontro com o bom texto, aquele texto que leva a mente ao estágio mais elevado (e nobre) da imaginação.

Mais matérias desta edição