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Opinião

O MELHOR DOS BEATLES

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Por Agamenon Magalhães Júnior. ensaísta, gramático e educador | Edição do dia 02/04/2020

Matéria atualizada em 02/04/2020 às 06h00

Todo beatlemaníaco passa a vida respondendo a três perguntas recorrentes sobre os quatro garotos de Liverpool: “Qual o seu beatle preferido?”, “Qual o álbum mais impressionante?” ou “Qual a melhor música do quarteto?”. Tenho há anos a mesma resposta para as três dúvidas: “Depende”. Em geral, é meu estado de espírito que determina minhas escolhas em relação aos Beatles. Na minha adolescência, John Lennon personificava a atitude da qual corríamos atrás: ele era inteligente, sagaz, rebelde, bem-humorado e artisticamente inquieto. Lennon era capaz de compor, para um mesmo trabalho, um rock visceral, como se vê em “Help!”, e uma canção tão melodiosa e atemporal como “Ticket To Ride”. As duas tiveram por algum tempo minha preferência na discografia da banda.

O que dizer de Paul McCartney? Genialidade é a palavra que define sua história. Não é à toa que a eletricidade discográfica do grupo começou com o próprio Paul: na primeira música do primeiro álbum, depois dele contar “one-two-three-four” em “I Saw Her Standing There”, Paul nos empolga com esse rock’n’roll sublime – um verdadeiro arauto anunciando ao mundo que a música nunca mais seria a mesma. Em outubro de 2017, fui ao show de Paul McCartney. Compartilhei a emoção com meu irmão Carlos Magalhães e com minha filha, Ana Clara. E, como numa visão messiânica, estávamos eu e Paul frente a frente. Só nós dois (nas minhas lembranças não considero as outras 55 mil pessoas que também estavam na arena, o momento era só meu e dele). Do vibrante acorde de “A Hard Day’s Night” até o coral inflamado de amor em “Hey Jude”, passando pela linha melódica de “Let It Be”, o artista regeu um espetáculo impecável. Paul foi além: ele me deu a chance de passar minha vida a limpo; por três horas e meia (!) de show, o artista – com suas obras-primas – me fez ter consciência de como fui feliz, da infância à vida adulta, porque minha alma resplandece música, luz e energia por meio das canções dos Beatles. As palavras “alma” e “música” aqui são (poeticamente) sinônimas. Essa “percepção de felicidade” não é tão fácil de fazê-la quando se está na luta ou no corre-corre da vida. A música nos ajuda na compreensão de mundo. Nesse show, Paul ainda prestou homenagem ao amigo George Harrison, cantando “Something” (minha preferida do beatle mais tímido e subestimado). O baterista Ringo Starr seria considerado “só” um músico de sorte por integrar a banda mais bem-sucedida do planeta. Quem não o seria? Mas Ringo é mais do que um sortudo, sua contribuição (não necessariamente musical) teria peso significativo na evolução dos Fab Four. Ademais, a energia com que canta “Boys” (regravação de Dixon-Farrell no álbum Please Please Me) é superior à original, ainda mais se considerarmos o “bop-chu-uop” acrescentado na faixa pela dupla Lennon-McCartney. Faço nota honrosa à interpretação de Ringo em “With A Little Help From My Friends” – uma preciosidade à qual não faltam brilhantismo e desenvoltura. O melhor dos Beatles não está em observá-los ou analisá-los separadamente, o conjunto do que fizeram é o maior patrimônio para a humanidade.

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