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Nº 5691
Opinião

USO EXCESSIVO DE CELULARES E NEGLIGÊNCIA DOS PAIS

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Por Cristina Paranhos e Paula Gil Cocco Tirolli. psicólogas clinicas especialistas em Terapia Cognitivo-Comportamental | Edição do dia 22/05/2020

Matéria atualizada em 22/05/2020 às 06h00

Pais, vocês já se deram conta que o uso excessivo de celular pode estar afetando negativamente a relação com seu filho? Um fenômeno relativamente recente que nós psicólogos identificamos são crianças abandonadas dentro de casa, mesmo que na companhia física dos pais.

Em nossos consultórios, recebemos cada vez mais crianças e adolescentes que se sentem negligenciados da atenção dos pais. Já existem pesquisas nessa área e os resultados têm mostrado que os mesmos veem os pais como muito conectados online e indisponíveis presencialmente e emocionalmente. E qual o resultado que isso pode ter? Filhos prejudicados. Isso nos causa preocupação, pois esse cuidado parental é essencial para o desenvolvimento sadio da criança, tanto intelectual quanto emocionalmente. Há um estudo mostrando que a falta de resposta da mãe às necessidades do filho, pode ter impacto negativo no funcionamento sócio emocional da criança e piora no relacionamento mãe e filho. Quando os pais estão distraídos nas redes sociais e não percebem o que o filho está lhe dizendo ou o que ele está precisando, transmitem uma mensagem que ele não é importante, não é prioridade, que o mundo digital é mais interessante e eles interiorizam que, em uma relação, eles podem ser “deixados” para depois. Gostaríamos de convidá-los a tentarem se lembrar de uma situação em que vocês também foram trocados pelo celular, onde estavam conversando com um amigo ou parente e a pessoa não desgrudava os olhos da tela e quando perguntavam algo ela demorava a responder. Tenho certeza que iremos nos sentir incomodados pelo comportamento da outra pessoa, acharemos uma falta de educação e talvez nos sentiríamos desprezados. Da mesma maneira, crianças podem se sentir sem importância e que precisam competir com as telas pela atenção dos pais. Sim, seu filho pode estar se sentindo triste, impaciente, irritado e solitário, quando optamos pelo celular e não lhe damos atenção. As crianças não têm maturidade para entender que quando seus pais não dispensam os cuidados e carinho que elas precisam, eles é que estão disfuncionais e que isso não está relacionado ao valor e significado dela. Vivemos isso nos bastidores de nossas salas de psicoterapia: Quando os pais não apresentam escolhas saudáveis em suas condutas com seus filhos, esses não deixam de amar os pais e sim, deixam de amar a si mesmos!” Como resolver isso? Os pais precisam assumir o papel tão importante e único de preparar os filhos para as questões da vida, que serão conduzidas a partir dessas vivências familiares iniciais. Quando as crianças recebem afeto e atenção, elas se sentem seguras para desenvolver suas habilidades sociais e inteligências emocionais harmônicas, tanto em família quanto em sociedade. E não se enganem, as crianças podem e vão aprender muitas coisas conectadas no mundo digital, sob supervisão dos pais, que também serão uteis a ela durante a vida! Mas aprender e vivenciar sentimentos, troca de carinho, empatia, compaixão, afetividade, autoconfiança, isso só se aprende na convivência mais importante de todas as interações presenciais: a dos pais!

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