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Opinião

PELA CIÊNCIA E PELA DEMOCRACIA

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Por Marcos Davi Melo. médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 30/05/2020

Matéria atualizada em 30/05/2020 às 06h00

Leonardo Da Vinci afirmou em sua obra “Pensieri”: “ Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza de seu destino”. O Brasil adentra junho de 2020 como o epicentro mundial da pandemia de Covid19, em vexaminosa disputa pelo pódio de mortes com os EUA de Trump. Ganhamos de lavada dos vizinhos Argentina, Uruguai e até do Paraguai em número de contaminados e de mortes na pandemia. O cenário nacional de enfrentamento dessa pandemia de forma coordenada pelo governo federal, obtida inicialmente pelos ex-ministros Mandetta e Teich, foi interrompido pelo injustificável afastamento dos dois técnicos alinhados com a ciência às autoridades sanitárias mundiais e a OMS.

Inimaginável é, para os profissionais de saúde brasileiros alinhados à ciência e à luta pela defesa das vidas humanas, conhecer o teor da reunião ministerial - onde durante horas a questão dessa gravíssima pandemia, que já matou oficialmente mais de 25 mil brasileiros - passou despercebida. Lá, as questões focadas - raivosa e despudoradamente - foram voltadas para os interesses políticos pessoais e familiares das autoridades presentes, em especial do presidente da República. Impensável é que, em um governo eleito democraticamente, o presidente da República proponha oficialmente o armamento da população para confrontar os governantes dos estados e municípios que, alinhados às orientações das autoridades mundiais de saúde, instituíram as quarentenas e assumiram o ônus político desses procedimentos, embora desde o início da pandemia o presidente da República tenha adotado agressivamente um absoluto negacionismo científico em relação à doença (uma “gripezinha” e a cloroquina como panaceia); e, ainda naquela reunião, tenha admitido que o inculto e obtuso ministro da Educação afrontasse grosseiramente o Supremo Tribunal Federal (STF), maior sustentáculo atual da ciência no Brasil. Fato é que, para a ciência e a Medicina nacionais, o STF tem sido o seu principal aliado na defesa do maior patrimônio nacional, a vida dos brasileiros, usando adequada e parcimoniosamente das suas prerrogativas constitucionais para evitar que os desmandos autoritários e anticientíficos do Planalto - como anular o distanciamento social - acrescentassem muito mais vítimas e mais colapsos ao sacrificado e valoroso SUS. Se o STF não tivesse dado respaldo jurídico aos estados e municípios para realizar as quarentenas e outras medidas sanitárias alinhadas à ciência mundial, um genocídio nacional muito maior teria ocorrido, e desde que seus aliados e a família estivessem bem, nada disso sensibilizaria o Sr. presidente da República. A ciência e a Medicina esperam que instituições nacionais respeitáveis como o Exército e a Polícia Federal não se deixem contaminar pelo radicalismo antidemocrático e a suspeição moral instaladas no Planalto. As investigações sobre o uso de fake news por aliados e pela família do presidente da República contra as instituições democráticas, usando inclusive dinheiro público, configuram concreta subversão da ordem constitucional. Elas são repudiadas pela comunidades científica nacional e internacional, que apoiam e apoiarão o STF sempre que ele defender a busca pela verdade dos fatos, a democracia, a liberdade e a vida. A ciência brasileira enxerga que o seu único rumo está alinhado à manutenção da democracia e ao respeito ao Supremo Tribunal Federal.

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