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Maceió,
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Opinião

LENTIDÃO E ANGÚSTIA

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Por Editorial | Edição do dia 24/10/2020

Matéria atualizada em 24/10/2020 às 04h00

Desde o ato de assinatura do Termo de Acordo entre a Braskem e autoridades estaduais e federais, ocorrido em janeiro deste ano, que a reportagem da Gazeta acompanha seus desdobramentos. Naquela ocasião, acendia uma luz para dezessete mil pessoas que ocupavam 4,5 mil moradias, situadas em áreas de risco decorrentes da desastrosa extração de sal em área urbana de Maceió.

Dava-se início a uma operação de realocação de famílias e ressarcimento pela perda dos imóveis. Seis meses após o Acordo, o cenário já era de muita preocupação, pois o território a ser evacuado já alcançava 6,5 mil imóveis, em razão de trincas, rachaduras e afundamentos de edificações. A Defensoria Pública já acendia a luz amarela, alertando para o fato de que as indenizações seguiam lentas, o que comprometia o princípio de ressarcir, em dois anos, as perdas causadas aos moradores.

Agora, o quadro é angustiante. São quase dez mil imóveis condenados pela ampliação da área de risco. A estimativa é de que cinquenta mil maceioenses terão que ser realocados, ampliando assim a tragédia. Por causa da mineração, Maceió é a única capital brasileira que se encontra em calamidade pública, reconhecida formalmente pelo governo federal. Não obstante a gravidade do cenário, que transforma ruas do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom Parto em terra arrasada, as indenizações entraram definitivamente no modo tartaruga. Dados oficiais atestam a formalização de pouco mais de mil acordos. É lamentável constatar que, em dez meses, foram efetuados acordos com apenas 10% do total de proprietários prejudicados. Se a média for mantida, é bem possível chegar ao final desta década sem concluir as indenizações. Além da dor das famílias, que perderam suas referências de uma vida inteira, há também o sofrimento de centenas de comerciantes, que ainda não alinharam um acordo com a Braskem. Como retomar seus negócios sem reparação financeira? E os postos de trabalho extintos? Por trás desses estabelecimentos, há vidas humanas em agonia pela incerteza no amanhã. O poder público, em todas as esferas, precisa fazer sua parte e ajudar a destravar o fluxo das homologações. E dinheiro não é o problema. Pelo menos deixou bem claro o diretor-presidente da Braskem, em recente entrevista ao Valor. É preciso que as autoridades - a começar do governador do Estado e do prefeito da capital - realmente se compadeçam com a situação dessas pessoas, e liderem um movimento, movam gestões, para simplificar procedimentos e acelerar as reparações. É preciso ouvir o clamor e respeitar essa gente que busca um novo teto para o recomeço.

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