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Maceió,
Nº 5694
Opinião

SOBRE AS ROSAS DE OUTUBRO

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Por Ana Cecília Romeu. publicitária e escritora | Edição do dia 24/10/2020

Matéria atualizada em 24/10/2020 às 04h00

Outubro, mês dedicado ao alerta e prevenção ao câncer de mama, reflito sobre todos os “outubros rosas”.

No mercado, cena curiosa. Um fabricante de farinhas de trigo fez uma embalagem rosa comemorativa ao mês e alerta à prevenção. A farinha da embalagem em questão estava com o preço quase um real abaixo das outras, inclusive a tradicional de sua própria marca, e fiz meu “estoque”. Ao distanciar-me, observei outros consumidores. Um rapaz leu os preços, pegou-soltou-pegou olhou para os lados… e soltou de vez a embalagem. Semelhante comportamento teve um senhor e duas moças, mesmo com bom preço e ótima validade. Há os tabus, e talvez o fabricante não contasse com isso. Num mundo em que as questões de gênero pouco ou nada avançam, onde mulheres violentadas física e emocionalmente passam de vítimas a culpadas; em que se acolhe o violador; detalhes do dia a dia não me surpreendem. A transformação do cruel em banalidade aceita. Da expressão “briga de marido e mulher ninguém mete a colher” em rito de boa vizinhança é notório, enquanto o feminicídio e a violência contra a mulher aumentam suas taxas. O tabu sobre a embalagem rosa para uma farinha é sintoma social de outro câncer a ser combatido, enraizado e, infelizmente, simpático para muitos.

Por outro lado, a nova tecnologia viabiliza os registros para denúncias em vídeo, áudio, e a printer para casos de assédio virtual.

Cuidar da saúde, fazer os exames anuais, usar preservativo, trocar experiências com as amigas, denunciar, ajudar outras mulheres, fugir de relacionamentos tóxicos são direcionamentos possíveis. Rosas nos jardins de todos outubros e meses.

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