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Opinião

AINDA À ESPERA DE UM MILAGRE

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Por PAULINO FERNANDES DE LIMA. defensor público, professor e integrante da União Brasileira dos Escritores de São Paulo | Edição do dia 10/04/2021

Matéria atualizada em 10/04/2021 às 04h00

Avenida da Abolição, em Fortaleza-CE: um corpo é espichado no chão, bem próximo donde transitam pessoas à porta de um famoso supermercado, de nível multinacional. Deveria estar dormindo ali há tempos, sofrendo de tanto de fraqueza, mas ao acordar, certamente será mais um a pedir algo para comer. Não me pudera conter, e me desfiz d’alguma coisa que comprei naquele Supermercado, pois o opróbrio daquele homem na rua era de inevitável sensibilidade.

Avenida Abdias de Carvalho, em Recife-PE: só mais um dos tantos pontos da rua, em que pessoas empunham pedaços de papelão, dando conta do tamanho de sua já insuportável fome. Eu me desfiz d’algum lanche que sobrou, ao sair daquela conhecida franquia de hambúrguer, internacional. Mas me deparo com outros olhares em petição miserabilíssima, os quais ainda tentei socorrer com algumas moedas. Entre o Brás e a 25 de março, na Capital paulista: em meio aos poucos sobreviventes do cemitério comercial, em que a crise econômica os pusera, pessoas se agasalham em mantas e trapos rasgados e doídos de miséria. O primeiro a pedir, cambaleava até no falar, de tanta fome. Eu havia saído com um mínimo de dinheiro, além de um documento, devido aos perigos da esquina. Mas seria inevitável o mínimo não se minimizar ainda mais, já que providenciei algumas moedas para uma esperada surpresa. Esses três flagrantes, por mim testemunhados, são apenas parte dos, a cada dia, multiplicados casos de pessoas que se amontoam nas ruas, como pobres cães que espreitam vitrines de comedorias, à espera de algo para saciar seu sofrimento físico, derivado duma desigualdade social e do desgraçado status que a crise econômica impusera, devido às restrições que os infortúnios da Pandemia produziram. Mais que uma grave crise sanitária por que passam quase todas as nações, um fenômeno que já era alarmante, no Brasil, difundira-se ainda mais, com os maus sortilégios impostos, pelo quase epitáfio imposto às atividades econômicas. Para onde correr? Uma equação mesmo que possuidora de tantas variáveis, não pode ser insolucionável, em um País que já guerreara e vencera diabos sociais piores que esse desafio de equacionar os solavancos provocados na seara econômica, com as fístulas provocadas na saúde, reclama. São gritos de um silêncio que ensurdecem e não querem parar. As dores provocadas pela fome também afetam todos os órgãos e sistemas vitais do corpo humano. Há de existir um meio termo, uma solução política que não dê trégua no combate ao vírus, mas que na mesma proporção não “baixe a guarda” para esse grave problema social, que faz doer os nervos estomacais.

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