Gazeta de Alagoas
Pesquise na Gazeta
Maceió,
Nº 0
Opinião

AS VACINAS E O VATICANO

.

Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 12/06/2021

Matéria atualizada em 12/06/2021 às 04h00

Bater na madeira três vezes, não passar por baixo de escada, não ver a noiva antes do casamento, nem deixar chinelo de cabeça pra baixo, não abrir guarda-chuva dentro de casa, não quebrar espelho, não comer ave no réveillon e botar sempre a parte da cachaça para o santo estão entre as superstições nacionais preferidas. Existem coisas que não são entendidas, mas o ser humano precisa ter uma sensação de solidez, de que ele sabe o terreno em que está pisando, mesmo que isso venha de explicações mirabolantes. A superstição vem da explicação de um mundo “mágico”, que não tem uma lógica racional, um mundo que não conseguimos entender. Somos seres humanos e muito mais emotivos do que racionais. Quanto mais dificuldades existem, mais se tende a buscar soluções mágicas. Se realmente acreditamos, por que não fazer?

Como resultado disso, vivemos uma era de ignorância crescente, falta de apreço pela evidência. E mesmo na Medicina, forças poderosas são invocadas para derrotar os fatos inconvenientes que fortalecem a ciência. Na CPI, isso é repetitivo: o ministro Queiroga se contradiz, reconhece a ineficácia da cloroquina, mas não tem autonomia para retirá-la do portfólio do Ministério da Saúde. É subserviente e contorcionista, mas ainda leva rasteiras do presidente da República, que, além de querer abolir as máscaras em contaminados e vacinados, em um País que só tem 11% de vacinados com duas doses, volta a atacar as vacinas e aproveita a falsificação de auditor do TCU próximo à sua família para divulgar novas fake News. A ideia de alimentar a Covid-19 com carne humana continua inabalável. A ciência afirma: só se pode pensar em restringir máscaras quando tiver 70% da população vacinada com duas doses. Contudo, é essa a condução da pandemia de Covid19 feita pelo Governo Federal no Brasil ,que caminha para os 500 mil mortos , ela banaliza o sofrimento, o mal e a imensa mortandade, é sustentada em superstições e crendices dignas da Idade Média, como a imunidade de rebanho, o uso da cloroquina e da ivermectina, os remédios “mirabolantes”. O Gabinete Paralelo, constituído por místicos, negacionistas e adversários das vacinas, é quem dá o rumo da saúde pública nacional. Tal qual na Idade Média, quando se usava a sangria para tudo, o mercúrio para doenças venéreas, o ferro em brasa para cauterizar as hemorroidas. A Igreja Católica já considerou as epidemias um castigo divino, mas, atualmente, o Vaticano é importante aliado da ciência. Os moderados que apoiam a ciência, a cooperação nacional e internacional, são agredidos pelos extremistas que apostam na ignorância, na desinformação e na confusão. Mas tem malandro ganhando DINHEIRO com essa desgraça, o que necessita ser investigado minunciosamente, o que só é possível na democracia, apoiada pela maioria dos brasileiros.

Mais matérias desta edição