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Maceió,
Nº 5694
OPINIÃO

SOLIDÃO

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Por Alfredo Gazzaneo Brandão – engenheiro civil e membro da Academia Alagoana de Letras | Edição do dia 03/08/2021

Matéria atualizada em 03/08/2021 às 04h00

Gostaria de entender o verdadeiro sentido da palavra solidão e não apenas aceitar a justificativa atual que define solidão como sendo o ato de sentir-se infeliz, devido ao isolamento social.

Seria realmente essa a explicação correta para essa ocorrência ou será justificativa para apenas um dos aspectos da questão?

Será que a solidão apenas acontece quando estamos no isolamento ou será possível sentir-se só, mesmo estando acompanhado por uma ou por várias pessoas?

Para encontrar respostas para esses questionamentos, faz-se necessário mergulhar no inconsciente, a fim de buscar causas e efeitos geradores do problema. Conhecer a composição da nossa personalidade e individualidade, além de entender o nosso papel como instrumento de mudança e de transformação junto à sociedade da qual somos parte integrante é de fundamental importância para que possamos intervir e obter resultados. Sem essa busca interior, aliada à análise das questões externas, às quais somos submetidos compulsoriamente no dia a dia da nossa existência, não atingiremos o objetivo almejado que é: entender, para criar e viabilizar as ações necessárias à solução do problema.

Sabemos que esse afastamento que nos foi imposto como opção de sobrevivência, nesse período trágico por que passa a humanidade, traz consequências desastrosas que afetam diretamente o emocional, deixando, muitas vezes, sequelas significativas, afinal, não viemos ao mundo para viver isolados. Entretanto, a questão é muito mais complexa do que parece ser. Explicá-la talvez não seja o mais difícil, entretanto, entendê-la e encontrar meios para resolvê-la, torna-se complicado por não depender de um único ator mas sim de vários atores que intervêm no mesmo cenário, atingindo diretamente o que denominamos de relação e ninguém se relaciona só. Entendendo a relação como sendo uma via de mão dupla, concluímos que, para que haja uma relação torna-se necessário, acima de tudo, que existam: atenção, comunicação, doação, intimidade, disponibilidade e reciprocidade. Egoísmo e indiferença são verdadeiros vilões, responsáveis pelo fortalecimento da solidão, tão presente, e de forma intensa, nos dias de hoje. As pessoas estão cada vez mais fechadas em seus próprios invólucros, muito embora não vivam isoladas, vivam em comunidades muitas vezes desfrutando de relacionamentos desconexos e maléficos. Recentemente tomei conhecimento de uma pesquisa sobre os fatores que levam à felicidade. O resultado demonstrou a existência de uma relação direta entre o envolvimento e a preocupação das pessoas para com os outros. Quanto maior número e nível de atenção e dedicação que tenhamos para com outras pessoas, maior será a intensidade da nossa felicidade.

Como felicidade é um estado de espírito, resultante de um conjunto de ações e reações que se completam intrinsecamente, deve ser o nosso objetivo de vida, perseguido e cultuado a todo custo. Dessa forma, estaremos, simultaneamente, combatendo e nos distanciando do mal devastador que chamamos de solidão.

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