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Nº 5821
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AS IDEIAS CONSERVADORAS .

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Por Marcos Davi Melo - médico e membro da AAL e do IHGAL | Edição do dia 06/07/2024

Matéria atualizada em 06/07/2024 às 04h00

A Grã-Bretanha é a pátria das Ideias Conservadoras. Fala-se que, enquanto a França fez uma revolução para decapitar seus reis e acabar com a monarquia, a Inglaterra fez uma revolução para poupar as cabeças de seus monarcas e a sua monarquia. Em seu clássico ensaio “On Being Conservative” (Sobre ser Conservador), Michael Oakeshot escreve: “Todos somos conservadores. Pelo menos em relação ao que estimamos. Família, amores, amigos. Lugares, livros, memórias até. Conservar e desfrutar são dois verbos caros aos homens que ainda estimam alguma coisa. E, em alguns espíritos, esses verbos são conjugados com maior intensidade e frequência, a ponto de se transformarem na sua gramática essencial”.

Segundo Oakeshot, ser conservador é uma forma de ser e agir que levará o conservador “a usar e desfrutar aquilo que está disponível, em vez de desejar ou procurar coisas mirabolantes, mesmo que ele imagine que ‘essa outra coisa’ possa ter virtudes que suplantem a sua realidade. Os valores conservadores são reais, mas não são passíveis de mudanças violentas e repentinas”.

Os conservadores não abraçam entusiasticamente a mudança, qualquer mudança, e, consequentemente, qualquer possibilidade de perda evitável. O fazem “aqueles que são estranhos ao amor e ao afeto”. E conclui Oakeshot: “Ser conservador, então, é preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao nunca testado, o fato ao mistério, o atual ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, o riso à felicidade utópica”.

O conservador não é irracional. Como avisa Oakeshot, “a crítica conservadora lidará com o racionalismo, ou seja, a tarefa hercúlea de criticar a pretensão utópica e ambiciosa de construir e reconstruir a sociedade humana de forma radical e perfeita, mesmo que para isso se elimine e destrua boa parte da humanidade”. Esse ideário utópico compôs o cardápio dos revolucionários do início do século 20, que propunham um paraíso socialista na Terra, assim como dos reacionários/extremistas de direita, que acenavam com uma sociedade imaculada; ambos apresentavam um mundo idílico, que só existe no universo religioso ou nas suas elucubrações que, em essência, são semelhantes.

O conservador compõe um movimento civilizado e moderado, como na Grã-Bretanha, onde o Partido Conservador está no poder há 14 anos. Perdendo agora as eleições, é de se esperar que não ataque as instituições democráticas e muito menos destrua qualquer prédio público, coisas de extremistas e de reacionários, que lá seriam encaminhados aos cuidados de instituição psiquiátrica. Com a vitória dos Trabalhistas (centro-esquerda), o poder deverá ser transmitido tranquilamente e pacificamente.

Na Europa, a imigração, a xenofobia e o euroceticismo têm uma presença concreta acima dos discursos, mas nas Américas, principalmente nos EUA, a imigração antes de ser um problema, é uma solução. Na mãe Inglaterra, os conservadores sofrem o desgaste natural do exercício do poder e a alternância com a oposição é apenas uma tradição britânica, como a cerveja tépida, o fish and chips e o chá da tarde com biscoitos de polvilho. Em um mundo crescentemente hostil, com as suas radicalizações autoritárias e retrógradas, a democracia representativa ainda é a opção de civilidade e estabilidade.

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