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Maceió,
Nº 5694
Política

ESPECIALISTAS QUEREM MAIS RIGIDEZ CONTRA AGLOMERAÇÕES

Expectativa quanto a um pico de casos de coronavírus nas próximas semanas faz soar alerta entre profissionais de saúde

Por regina carvalho | Edição do dia 04/04/2020

Matéria atualizada em 04/04/2020 às 06h00

A médica Tereza Tenório, da Santa Casa de Maceió, atenta para a restrição de circulação
A médica Tereza Tenório, da Santa Casa de Maceió, atenta para a restrição de circulação | ARQUIVO GA

Quando o mundo descobriu a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social virou arma importante para conter o avanço da doença. Em todos os continentes, por onde a Covid-19 passou e fez vítimas, a quarentena mostrou até agora ser a melhor forma de derrotar o vírus. Sair de casa só quando for extremamente necessário, mas como a paralisação de alguns serviços pode gerar mais desemprego, há setores – não apenas empresários – que defendem a retomada da rotina, paulatinamente. Apesar do novo decreto de situação de emergência suspender serviços não essenciais até o dia 7 de abril, as ruas voltam aos poucos a registrar movimentação, comportamento que contraria o isolamento social. Ainda há muita gente circulando nos bairros da periferia, no calçadão da orla marítima, indo desnecessariamente aos supermercados e lotando agências bancárias. Um verdadeiro risco, na avaliação de especialistas, que percebem aglomerações em pontos da capital. “É preciso ter mais rigidez principalmente nos lugares de aglomeração, ainda existem lugares em que as pessoas estão se aglomerando, como em feiras livres, em filas para atendimento e de algum tipo de serviço e isso precisa ser visto. Não tem condição de se ter aglomeração nesse período. Isso é uma multiplicação geométrica de casos, quando acontece contato próximo de pessoas que podem já estar contaminadas antes mesmo do início dos sintomas”, avalia a médica Tereza Tenório, gerente de Riscos e Assistência Hospitalar da Santa Casa de Maceió. A médica, especialista em clínica geral, explica que para reduzir o risco de avanço da doença é preciso diagnóstico rápido. “Precisa estruturar melhor a condição do estado de produzir os resultados dos diagnósticos de uma maneira bem mais rápida. Eu sei que isso está sendo feito com muita eficiência, mas que precisa de uma maneira mais rápida fazer esses resultados, com isso a gente já isola as pessoas que tiverem com o vírus, já trata os que precisarem serem tratados em domicílio ou em regime hospitalar e já diminui também o número de circulação de pessoas com vírus na nossa comunidade”, diz Tereza Tenório.

TEMPO IDEAL

Para a gerente de Riscos e Assistência Hospitalar da Santa Casa de Maceió, o isolamento social é ainda a única forma na tentativa de conter a pandemia da Covid-19. “Acredito que o estado de Alagoas fez um isolamento mais precoce e acho que isso pode contribuir de uma maneira significativa para que os casos do nosso estado tenham uma condição de serem atendidos. Nós hoje estamos trabalhando arduamente em todas as frentes para preparar o sistema de saúde no estado, assim como está sendo feito em todo o Brasil e todo o mundo, onde o vírus ainda tem essa perspectiva como o nosso estado de ter o pico de epidemia nas próximas semanas e no próximo mês”, explica a clínica geral. A decisão de flexibilizar os serviços essenciais realmente é importante, tem que ser feito e a população precisa ser assistida nas suas necessidades básicas, avalia Tereza Tenório. “Mas isso está sendo feito até agora de uma maneira muito racional e isso sim é uma necessidade, é prudência, o que realmente precisa ser feito para que se possa dar uma condição de movimentar a economia e as pessoas sejam supridas nas suas necessidades essenciais mas que se mantenha esse isolamento e que se faça o mínimo de circulação desse vírus para que nós tenhamos uma possibilidade de diminuir o número de casos em relação ao tempo, ao período. Então, quanto menos casos se tiver num curto período de tempo melhor para todos, melhor para o sistema de saúde, melhor para a população de uma maneira geral”, reforça a gerente de Riscos e Assistência Hospitalar da Santa Casa de Maceió.

DISTANCIAMENTO

Também para Daiane Leite de Almeida, professora do curso de Enfermagem da Unit e especialista em Gestão Hospitalar, tudo o que tem ocorrido no mundo leva a crer a necessidade do isolamento, medida para tentar diminuir a curva do número de casos e ter atendimento de saúde para a população que precise. “Ressalto que a decisão está alinhada às determinações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde. No momento, acredito sim que a gente deve manter o máximo grau de distanciamento social, para que possa também dar tempo para que o sistema de saúde se consolide na sua expansão e consiga dar resposta a esse evento”, explica. A reportagem pergunta se a flexibilização do decreto, na semana passada, com a abertura de indústrias e entrega de alimentos nos estabelecimentos foi uma decisão acertada. Se for liberado para empresas, bom é ter critérios para sua funcional idade, analisa Daiane Leite. “A bem da verdade, ninguém sabe se isso vai ter risco maiores ou não. Mas o que tem se mostrado mais efetivas são medidas que evitem aglomeração como as escolas e universidades. Empresas podem adotar o regime de home office quando possível e claro que ter serviços essenciais abertos, como supermercados e farmácias. Outras estratégias estão em vigor em boa parte do mundo, com diferentes níveis de rigor e talvez não traga tanto impacto para a economia se tais empresas mantenham o seguimento de que não tenha trabalho em aglomeração, produza mas que gere com segurança pessoal do trabalhador, tenha espaço para lavagem das mãos próximo ao sítio de execução e garantam que seus funcionários não estejam expostos a aglomeração no percurso do seu trabalho, só assim a economia está voltada também para o olhar da saúde coletiva”, analisa.

COMPROMISSO SOCIAL

Para a professora do curso de Enfermagem da Unit, as medidas para impedir o avanço da Covid-19 em Alagoas precisam ser rígidas. “Acredito que deve ser rígido no compromisso social que cada um deve assumir para si em prol da população em geral. Rigor em efetivar o distanciamento social e nas medidas que diminuem risco de transmissão do vírus. Claro que se a população de trabalhadores e empresários não respeitar as regras colocadas para proteção aí sim pode pensar em outras medidas que nesse momento ainda não enxergo como necessárias”, finaliza. Sobre quais ações seriam mais acertadas para reduzir o risco de avanço da doença, Daiane Leite diz que as “empresas com empregados devem adotar regime de revezamento e com restrições de pessoas no grupo de risco, medidas de acompanhamento dos profissionais e dos cuidados de limpeza e higiene de instrumentos de trabalho, também evitar contato próximo com pessoas e realizar lavagem frequente das mãos”, conclui ela.

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