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Política

MERCADO DEFENDE ISOLAMENTO SOCIAL COM MAIS FLEXIBILIDADE

Decreto do Estado que fecha comércio por causa do coronavírus preocupa empresários; economista aposta em prejuízo menor

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 04/04/2020

Matéria atualizada em 04/04/2020 às 06h00

Comércio de Maceió segue fechado após decreto do governo determinar isolamento
Comércio de Maceió segue fechado após decreto do governo determinar isolamento | © Ailton Cruz

O isolamento social retirou das ruas milhões de pessoas para evitar o avanço da pandemia do coronavírus (Covid-19). A decisão, com base nas orientações dos infectologistas, atingiu em cheio as relações econômicas da produção, consumo e geração de lucros. As críticas ao modelo de quarenta quase total gerou críticas não só dos comerciantes, autônomos e empresários, mas do próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mesmo tendo sido tomadas com base nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), há quem defenda a retomada gradual e controlada das atividades produtivas e comerciais. Diante desta divergência que confronta a defesa da vida com a viabilidade social dela, a dúvida é saber se é possível construir um novo caminho, que não exponha as pessoas ao risco, mas ao mesmo tempo não interrompa o ciclo comercial das empresas. Longe dos protestos de rua, a indústria no Brasil e também no Estado busca brechas com a articulação de vários segmentos para voltar a operar. Em Alagoas, o maior expoente dessa necessidade foi o presidente da Federação das Indústrias (Fiea), José Carlos Lyra. No início da segunda semana do efeito do decreto do governo Renan Filho (MDB), que paralisou todos os setores que poderiam gerar aglomerações, ele defendeu a retomada da operação nas indústrias. Segundo Lyra, é uma maneira de evitar o efeito “nocaute” que pode dificultar a recuperação e a retomada do crescimento. Ele lembra que o país já vinha cambaleante da recessão do fim do governo Dilma Rousseff, afastada por impeachment, bem como do período de transição do governo Michel Temer, onde ouve um leve recuo da crise. “Não podemos fechar tudo. Há que se permitir o funcionamento das indústrias, assegurando que seus trabalhadores estejam protegidos. O remédio será pior que a doença”, disse Lyra. Líder do setor e com trânsito no governo, ele articulou, junto com vários outros segmentos comerciais, a possibilidade de abertura gradual para diminuir os impactos. Lyra sabe dos efeitos recessivos da última crise, que gerou uma massa de pouco mais de 11 milhões de desempregados em todo o país. Para fortalecer seu argumento, ele lembra que o peso da crise para os estados menores com economias já afetadas por outras crise, que em Alagoas envolveu o setor sucroenergético, foi ainda maior. O momento para o industrial é de reflexão, mas principalmente de planejamento, porque a pandemia desmontou as perspectivas locais, nacionais e internacionais de investimentos. Por isso, ao invés da crítica preferiu apontar direções que levem em conta quais os próximos passos. “O que temos que pensar é que as empresas não estão produzindo. Se não produzem não têm receita, e assim não têm como pagar seu pessoal. Não é o que queremos! Portanto, apelamos para que as ações de enfrentamento ao coronavírus não impliquem em prejuízos e riscos à indústria”, completou Lyra. O argumento vai garantir a abertura da indústria já na próxima semana de modo a não colocar em risco a orientação da OMS quanto às aglomerações. Caberá as empresas definirem estratégias que possam viabilizar o trabalho com a presença de menos pessoas nos espaços fechados.

MEDIAÇÃO

A busca por um “meio termo” que contemple ao mesmo tempo segurança e contenção do avanço do vírus também mobilizou o comércio em várias frentes. A Associação Comercial de Maceió também se somou à preocupação do setor primário e propôs saídas menos drásticas. Foi o que fez durante toda a semana que passou o presidente da entidade, Kennedy Calheiros, que atua no setor de revenda de material de construção. Serviços como o de bares e restaurantes também conseguirão um fôlego com a venda, além dos deliverys - entregas domiciliares por aplicativos também irão vender em sistema “pague e leve”, na porta dos estabelecimentos. Essa iniciativa associada a abertura de algumas lojas do comércio de material de construção vai criando novas perspectivas. Em princípio, as atividades escolhidas ainda estão ligadas ao consumo de produtos das famílias que aderiram ao isolamento social. O fato é que os empresários, independente do socorro anunciado pelo governo que vai liberar crédito para pagar salários com o compromisso de não demitir trabalhadores, consideram isso importante, porém, o ideal seria movimentar os negócios. A cada semana ocorrerão avaliações sobre o andamento dos processos de retomada das atividades. Entretanto, o termômetro para isso vai continuar sendo a posição das autoridades de saúde e, principalmente, os números de casos confirmados, mortes e infectados. A esperança dos comerciantes é que o controle da evolução da doença possa, aos poucos, deixar tanto a prefeitura quanto o Governo do Estado mais a vontade para ampliar o raio de operação do comércio local.

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