Entre os jovens com até 28 anos, 10,3% concluíram o ensino superior em Alagoas em 2022. Indica a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar Contínua (Pnadc) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento foi de 0.9% em relação a 2019 que registrou 9,4%. Por outro lado, cresceu a taxa de pessoas com 14 anos ou mais com ensino superior incompleto ou equivalente (4,3% em 2022). Isso significa aumento de 1% (um ponto percentual) em relação a 2019. e é o maior valor observado na série histórica, iniciada em 2016. Ao avaliar a situação na Universidade Federal de Alagoas que tem 102 cursos de graduação e 28 mil alunos matriculados, o reitor Josealdo Tonholo destacou que 7 mil estudantes abandonaram os cursos com alegação de desemprego, desestímulo por conta das precárias condições de ensino, cortes de bolsas, de assistência estudantil e medo do coronavírus. Entre os que permanecem frequentando, 70% estão em situação de vulnerabilidade social [miséria].Na maioria das instituições privadas de Alagoas, ocorreu fechamento de cursos por causa da evasão altíssima e baixa procura nos vestibulares, admitem reitores, diretores e professores que pedem para não publicar os nomes dos estabelecimentos. O próprio site da Ufal confirma que o aumento da evasão estudantil começou em 2020, coincide com o agravamento da pandemia. Naquele ano, o número de matriculados não passou de 20.974 e apresentou significativa redução nos cursos de graduação. O número de concluintes na graduação ficou em 1.974, isto é 50% inferior ao que ocorria há sete anos. O mesmo fenômeno se repetiu no Instituto Federal de Educação. Nas instituições particulares a queda no número de graduações também passou dos 50% e desestimulou os investimentos no ensino privado. Segundo o reitor da Ufal, professor Josealdo Tonholo, em 2020 a situação do ensino público piorou. A Universidade registrou dois fenômenos: o primeiro foi o elevado número de estudantes que faltavam concluir uma ou duas disciplinas, [geralmente estágio, ou Trabalho de Conclusão de Curso e/ou uma ou duas disciplinas da grade curricular]para concluir os cursos. “Neste início da pandemia, fizemos busca ativa e como as pessoas estavam em casa, tiveram tempo de superar o atraso e regularizar a situação”. Tonholo revelou que houve um número considerável de formados, porém abaixo do esperado. O outro fenômeno registrado foi a falta de alunos para completar as vagas nos cursos. Para manter as ofertas em níveis compatíveis, a universidade faz chamadas, convocou alunos de transferência e outras estratégias para reduzir a ociosidade das vagas. Mesmo assim, não consegue reduzir a evasão “elevadíssima” no contexto geral e não preenche 100% das vagas na maioria dos 102 cursos de graduação. “Cursos como o de medicina, por exemplo, que sempre completava as vagas na primeira chamada, desta vez, só completamos as vagas na sexta chamada”, revelou Tonholo ao explicar que o fenômeno é nacional e significa que o curso superior perdeu a referência como instrumento de transformação e de reposicionamento social. As instituições de Alagoas e as nacionais, públicas e privadas, percebem que há um desestímulo generalizado na sociedade. O Instituto Federal de Educação (Ifal) também registrou taxas preocupantes de evasão. “Na verdade o que ocorre é um desestímulo à Educação Superior. É como as pessoas somatizassem que estudar não faz diferença na vida delas e nem das famílias”. Os reitores e coordenadores das instituições consideram que este é o resultado do “caótico” tratamento que a Educação obteve nos últimos sete anos. O reitor Tonholo prevê que as consequências são graves para o País, porque perde o seu poderio de competitividade internacional em todos os campos do conhecimento. “Os resultados do caos na política nacional de Educação vão aparecer nos resultados do Plano Nacional de Educação (PNE)”, prevê. O PNE é decenal e vence em 2024. O Plano preconiza que no próximo ano o País terá que ter um terço da população, ou seja, 33% de jovens de 18 a 24 anos, matriculados num curso superior público ou privado. Hoje a realidade brasileira é de 23 ou 24%. Neste contexto, Alagoas aparece com uma estimativa de 13% dos jovens matriculados em curso superior. “Apesar do esforço do estado, a gente observa que Alagoas não conseguirá cumprir a meta do PNE, por conta da evasão e do deficit elevado de jovens matriculados nas universidades públicas e privadas. Este é um dos resultados da política de desacreditação das instituições defendidas pelos recentes ex- ministros da Educação”, lamentou o reitor da Ufal. As universidades públicas seguem um modelo com bolsas de graduação, de auxílios moradias e alimentação. No caso da Ufal, são quatro mil alunos beneficiados. Como ocorre, nas escolas públicas de ensino médio, nas universidades públicas mais de 70% dos estudantes estão na condição de vulnerabilidade social. “A iniciativa do governo de Alagoas de trabalhar para retomar a qualidade da escola pública é positiva. Assim, o estado promove a retomada do ensino de qualidade e desestimula a evasão no ensino médio no momento que a população enfrenta a situação de empobrecimento por causa da recessão que a pandemia causou”, observou Tonholo, ao lembrar que “muita gente não tem como manter o filho na rede privada e hoje acredita na escola pública”.
IFAL
O Instituto Federal de Alagoas registrou em média 50% de evasão escolar, revelou a pró-reitora de Extensão, professora Cledilma Costa, ao confirmar que nos últimos anos vem reduzindo os números de concluintes por diversos fatores. “A evasão é muito maior nos cursos de graduação como de licenciatura e bacharelado. Nos cursos técnicos integrados com o ensino médio é menor”. Dos 23.845 alunos matriculados nos cursos de bacharelado, especialização Lato Sensu, Licenciatura, Mestrado, Qualificação profissional, Técnico e de Tecnologia, 3.770 estudantes, ou seja, 15,81% evadiram. O percentual é maior que o 2021 que registrou 10,79% de evasão. O número de queda de conclusão por ciclo também segue a tendência negativa: em 2021 o Ifal registrou 2.333 [44.29%] e em 2022 caiu para 1.772 [35,365]. A evasão por ciclo somou 49.02%. O Instituto tem 16 campus no Estado e a evasão variou de 36,17% no campus de Batalha (a mais baixa) e 82,19% no campus de Rio Largo que registrou a mais alta. Um dos fatores, segundo a professora Cledilma Costa, foi o somatório de dois anos de pandemia que matou mais de 7 mil alagoanos e repercussão social negativa da pandemia que não acaba apenas com lockdown e nem com o afastamento social. Estes fatores ainda são visíveis na educação, na aprendizagem que precisa ser recuperada com programas específicos. Ela também defende a retomada do discurso nacional, com base na necessidade de estimular a formação superior, como oportunidade efetiva de ascensão e de transformação social. A professora lamentou o discurso de ex- ministros da Educação que pregavam que “o curso superior não é para todos”. Isto, segundo a pró-reitoria do Ifal, é diferente do que as instituições defendem e tem como lema ensino público de qualidade, diferenciado e com oportunidade para todos. “Este pensamento anterior das autoridades da Educação Nacional desestimulou o ingresso dos jovens nas instituições e também dos que estavam matriculados”. A falta de investimento e os cortes nos orçamentos também causaram instabilidade no Ifal.