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Maceió,
Nº 2
Caso Braskem

ENGENHEIRO DE MINAS SE CALA E RELATOR DA CPI ATESTA ‘AUTORRESPONSABILIZAÇÃO’

Para o senador Rogério Carvalho, Paulo Roberto tenta esconder que empresa é responsável por desastre ambiental

Por Thiago Gomes | Edição do dia 15/05/2024

Matéria atualizada em 15/05/2024 às 04h00

Após ser levado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem por meio de condução coercitiva, o engenheiro de minas Paulo Roberto Cabral de Melo, que atuou como gerente-geral da Planta de Mineração da Salgema, em Maceió, entre 1976 e 1997, decidiu não responder às perguntas feitas pelos senadores.

Ele foi convocado como testemunha para ser interrogado pelos senadores na manhã de ontem, mas garantiu o direito de ficar em silêncio por força de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A presença de Paulo Roberto Cabral de Melo, como responsável técnico pelas minas durante décadas, era aguardada com grande expectativa pelo colegiado da CPI para que pudesse fornecer informações importantes sobre aspectos técnicos e operacionais das atividades da Braskem em Maceió.

A convocação do engenheiro foi solicitada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE). O relator da CPI avalia que a postura do técnico no interrogatório foi interpretada como ‘um atestado de culpa da petroquímica’. “Ficou entendido que o engenheiro está tentando esconder aquilo que todos nós já sabemos: a Braskem é responsável pela tragédia ambiental e socioeconômica que ocorre em Maceió”, ressaltou.

“Já que o senhor não vai responder, podemos afirmar, com base nos relatórios e documentos que levantamos ao longo da CPI, que o senhor participou, sim, da contratação das empresas pelo que está dito aqui do depoimento que o senhor deu à polícia. O senhor participou da contratação do Álvaro Maia e também participou da contratação ou teve influência na contratação de relatórios para contestar os laudos feitos pelo DNPM e SGB, assumindo 100% das responsabilidades como se todo o poder e toda a transferência de poder e operação da mina estivesse sob sua responsabilidade”, disparou.

IMPACTO

Além disso, o senador Rogério reiterou que “essas responsabilidades, por mais que pareçam banais ou insignificantes para o senhor, que aqui fica calado, para 60 mil pessoas significou a mudança radical da vida delas”. “Para pelo menos 15 mil famílias tem sido uma mudança radical na existência da vida delas e dos seus descendentes”.

O relator disse, ainda, que os atos cometidos pela Braskem resultaram na mudança de classe social das pessoas. “Nós estamos falando da interrupção de mais de 60 mil vidas. E isso não pode ficar no silêncio de vossa senhoria como se tudo fosse uma mera questão de atender e de assumir os riscos e o ônus”.

“Só quem esteve lá, só quem vivenciou, só quem viu, sabe o grau do sofrimento, sem contar coisas que podem ser reveladas até a finalização do relatório. Porque, além de tudo isso, ainda há suspeita de que entre a indenização e o pagamento teve intermediário. Alguém intermediou como se aquilo fosse um precatório. Veja o grau de barbaridade e de miserabilidade humana envolto nesse episódio”.

De acordo com o relator, Paulo Roberto Cabral de Melo é apontado pela PF como suspeito por sua atuação na qualidade de responsável técnico, tendo sido alvo de mandados de busca e apreensão.

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